“Faltavam pessoas para duas marchas”

“Não há nenhuns malabarismos para tirar coelhos da cartola nas classificações”.

Bela Flor 2005

Existiu desde 2003 até 2011. A marcha de Bela Flor foi dirigida, junto com o Santana Futebol Clube, por José Manuel Rodrigues, seu actual presidente.

Quando a nova marcha deu os seus primeiros passos, as pessoas não lhe deram muita importância, “mas depois criou-se um bichinho fora do vulgar”. Mesmo assim, quando o presidente da Junta de Freguesia, André Couto, começou a falar da fusão desta com a de Campolide, concordou com a ideia.

“Faltavam pessoas para fazer duas marchas. Quando estava à frente da da Bela Flor sentia essa dificuldade. A fusão juntou o útil ao agradável”. Num único conjunto populacional existiam dois grupos, havia rivalidades “e isso não fazia sentido”

Fazer uma só ajudou a unir forças e conseguir “ter o melhor figurino, a melhor música, tudo”. Todos os organizadores “querem o melhor, procuram o topo na cenografia, no figurino, na letra. Mas tem que haver um empenho a fundo, e a base, mais até do que o ensaiador, são os marchantes”. Quando são devidamente valorizados “ganham uma vaidade, um gosto, um prazer… E conseguem conquistar um bom lugar!”.

Bela Flor 2010

Depois da fusão, ficou surpreendido e agradado com os resultados, nomeadamente no ano passado. A marcha “tem um bom ensaiador, o Hugo Marques, que é meu amigo”.

Fala-se muito em compadrios e jogos de bastidores no mundo das marchas mas José Manuel, apesar da sua experiência, não os vê. “Conheço o presidente do júri. A mãe dele fez o fato do nosso porta-estandarte, à mão, há muitos anos. É nossa sócia. Já conversei com ela sobre esse assunto e conclui que não há nenhuns malabarismos para tirar coelhos da cartola nas classificações”.


Os avaliadores “são pessoas honestas e sérias. Fala-se muito das classificações de Alfama e da Bica. Esses lugares obtidos têm a ver com a sua forte tradição, com o trabalho, com a organização, com os figurinos. Para os outros, não é fácil atingir o mesmo patamar. Para chegar lá têm que trabalhar muito”.

O dirigente sempre teve a preocupação de fomentar esse mesmo bairrismo e motivação na sua marcha. “Não vendia os bilhetes para os desfiles, oferecia-os a quem queria ir. Pedia sempre transporte à Junta de Freguesia, para levar a população. As pessoas saem de casa e vão ver e apoiar a sua marcha, que é um espectáculo que todos querem ver e devem poder acompanhar”.

Bela Flor – Campolide 2016

Os custos, “todos sabemos que são altos. Mas todos queremos o melhor lugar. Todos investimos para isso. Uma boa marcha custa mais de 30 mil euros, 35 mil, 40 mil. É caro, mas é preciso pagar a coreografia, o figurino, a letra, a música”.

Claro que “se pudermos abrilhantar o tecido, embelezar o espectáculo, vamos fazê-lo. E tudo custa dinheiro. Um bocadinho aqui, outro ali…”. Por isso mesmo, houve alturas em que o dirigente teve que ir buscar alguns euros aos fundos do clube para poder fazer o desfile com que tinha sonhado, e ajudar o mais possível a sua marcha.

O aqueduto que se movia só com o vento

A falta de elementos para as marchas foi um dos problemas que levaram à fusão da de Campolide com a de Bela Flor.

É o que sublinha José Manuel Rodrigues, ex-organizador desta última. A marcha de Bela Flor chegou a ser suspensa, antes da fusão, precisamente por essa razão.

Como antigo dirigente da marcha, lembra-se do muito que conseguiu, e do que gostaria de ter atingido. “Demos sempre o melhor”.

Em 2011 mandou fazer em madeira, como adereço, o Aqueduto das Águas Livres, que seria a surpresa do desfile. “Tinha que ser uma coisa grande, com quatro metros e meio por nove e meio”.

O problema era arranjar quem o fizesse, bem construído e funcional para um desfile. Prático, leve, ágil, fácil de manusear. Possível de transportar, virar e revirar em segundos, com os dedos.

Bela Flor 2011

Descobriu um homem na Amadora que aceitou o encargo. Mas, durante vários meses, não dormiu. O prestador do serviço ia conseguir construir aquilo, e ia funcionar como pretendido?

“Quando o vi de pé percebi que era uma obra de arte”. As luzes eram iguais às do verdadeiro, as pinturas também, e até as “pedras” simuladas. Era tão leve e perfeito que, na Avenida, quando um aguadeiro se encostou a uma parede e o viu andar sozinho teve que ser José Manuel a explicar-lhe o que se passava. O Aqueduto das Águas Livres estava a mover-se… Só com o vento.

Enfrentar a Rússia e jogar uma partida de damas

Adaptou o seu clube aos tempos actuais.

José Manuel Rodrigues vocacionou o Santana Futebol Clube para funcionar, em parte, como uma escolinha de Futsal para os escalões mais jovens, já que a modalidade adulta sai demasado cara e a colectividade não tem verbas para tal.

Além dessa vertente, o SFC tem também uma escolinha de boxe com atletas federados. Organiza provas de atletismo, quando tal é possível. “Há sempre custos: A logística, as medalhas…”.

A colectividade que organizava anteriormente a marcha de Bela Flor tem, igualmente, as suas competições quotidianas de damas e dominó, que ocupam e socializam os idosos da freguesia: “É uma forma de conviverem sem estarem na rua, fomentando-se o espírito de comunidade”.

Os convivas podem recordar o passado glorioso do SFC. O Santana teve grandes equipas de futebol e futebol de salão. Jogou com a Rússia na final da Taça Ibérica, em 1984. E produziu grandes jogadores, como Silas ou Cílio.

Tinha mais de cem atletas de todos os escalões, que deram origem à sua sala de troféus, completamente repleta com os prémios que ilustram o seu palmarés.

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