“O alojamento local matou o bairro”

A marcha da Mouraria é organizada desde 1936 pelo Grupo Desportivo da Mouraria, com uma história coberta de glória.


Além dos dois anos em que venceu (1969 e 1981), ganhou o Prémio de Bairrismo em 1940, o terceiro lugar em 1963, a Taça da Galantaria em 1963 e muitas outras vezes.

Pedro Santos, presidente da colectividade, e Carla Correia, coordenadora da marcha, esclarecem que “ganhávamos muito esse troféu, porque ‘brilhávamos’ mais e tínhamos mais postura a descer a Avenida”.

Já o próprio clube, por sua vez, foi campeão nacional de boxe em 1969 e 1970, e de futebol de 11 nos anos 1960 e 1970. Bem como campeão de futebol de salão de Lisboa.

Ganharam a Taça de Honra, e Pedro e um seu colega foram chamados à Selecção de Júniores. O dirigente explica que, na zona, não há outra colectividade com a importância desta. Nos anos 1950, vestia e calçava as crianças do bairro, substituindo-se às instituições e à Segurança Social. Teve, também, à sua guarda uma escola primária – que, hoje em dia, já não funciona.

No clube, pessoas do bairro tomavam banho, viam televisão… Era, no mínimo, a sua segunda casa. Em Maio fazem anos, e, nesse mês, há sempre um almoço-festa popular, aberto a todas as pessoas da freguesia. É no Largo da Severa, e tem fado, bailarico, muita comida e bebida, de manhã à noite. Este ano, a colectividade comemora 81 anos de vida.


Mas hoje em dia, na Mouraria, “o alojamento local rebentou com a última lufada de ar fresco no bairro. Mandou embora as pessoas que eram de cá, porque não têm dinheiro para ficar. A geração dos anos 1970 foi obrigada a ir para os subúrbios. Esse é o pior e mais negativo fenómeno neste bairro”.

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