SÉRGIO CINTRA SOBRE A MARCHA DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE LISBOA

“Esta é uma marcha de toda a cidade”

Numa altura em que a Câmara de Lisboa já entregou os prémios aos vencedores das marchas de Lisboa da edição deste ano, a maioria das coletividades estão já a pensar no concurso de 2019.

“Santo António de Lisboa e do Mundo” vai ser o tema da próxima edição e mesmo as marchas que participam fora de concurso vão empenhar-se para melhor do que o ano anterior. É o caso da Marcha da Santa Casa da Misericórdia, cuja génese e objetivos recordamos.

A Marcha da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa estreou-se em 2017 como uma das três que participaram fora do concurso e voltou a repetir a participação este ano.

Sérgio Cintra conta que “a ideia surgiu de uma forma natural”. Em entrevista ao Olhares de Lisboa, o administrador executivo da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa recorda que “na época de Santo António, os diversos centros de dia e as diversas respostas que a Misericórdia tem realizavam, na Mitra, um desfile das marchas”.

Ora, “olhando para a qualidade dos adereços, dos arcos, e para o empenho que, tanto os funcionários da Santa Casa com os utentes colocavam, pareceu-me absolutamente obrigatório que o passo seguinte fosse perguntar à EGEAC se havia condições para uma marcha da Santa Casa”.

Mas de facto, não poderia ser uma marcha a concurso, à semelhança da Voz do Operário e da Marcha dos Mercados. “A nossa marcha teria de ser uma marcha diferenciada, porque tem um misto entre utentes da área da ação social”.Explica o responsável pelo pelouro da Ação Social na instituição que “estão aqui marchantes com diversas limitações”. Mas “não é o facto de terem limitações que os inibe de fazer exatamente tudo aquilo os que os outros fazem”. Porém, era também importante “entender esta como uma atividade incorporada dentro da ideia do envelhecimento positivo”.


De acordo com Sérgio Cintra, “as pessoas (e nas mulheres nota-se muito) sofreram durante muitos anos com o preconceito. Os pais ou os maridos não as deixavam participar nas marchas, porque entendiam eles que, à data em que elas eram mais novas, isto não era para elas, enquanto meninas de família”.

E “foi o concretizar de um sonho para muitas”, afirma. Embora a idade fizesse pensar que já não haveria tempo para estes sonhos: “no ano passado tínhamos uma marchante com 76 anos e um marchante com 84”, recorda.

IMPACTO POSITIVO

Para encontrar um grupo, o departamento de Ação Social da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa faz “um misto entre utentes e alguns monitores das atividades ocupacionais, não só para que eles tenham referências, mas também para que sintam que, tanto nos ensaios como nos desfiles, têm a seu lado uma referência que o apoie e que o acompanhe no seu dia a dia”.

Esta é também “uma marcha de toda a cidade”. E acrescenta: “nós temos aqui utentes de diversos equipamentos da cidade, de Alfama, Campolide, Boavista, Bairro Alto, entre outros”. Para Sérgio Cintra, “são pessoas que representam aquilo que é a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa”.

Para esta edição de 2018, “há uma base de marchantes que vem do ano passado”. Curiosamente, o responsável revela que “este ano apareceram mais homens do que em 2017” para um “casting”, que serve apenas para “tentar identificar aqueles que têm mais oportunidade de realizar os ensaios e desfile”.

Mas não há limites, segundo Sérgio Cintra. “Temos algumas pessoas com limitações físicas, mas não é por causa disso que deixam de ser marchantes”.
O administrador conta ainda a história de um dos participantes deste ano, um jovem com um problema cognitivo, “que é acompanhado no dia a dia e que tem a particularidade de estar acompanhado pela mãe, que também foi desafiada a entrar na marcha depois de estar presente todos os dias no ensaio”.

De acordo com Sérgio Cintra, esta é “uma forma de partilhar não só a experiência como também aumentar a auto-estima, naquilo que é toda a construção de uma marcha, que pode parecer simples, mas que não é tão fácil quanto isso”.

O impacto da participação nos desfiles em 2017 e 2018 tem sido “muito positivo”, tanto na “auto-estima dos marchantes, no orgulho dos vários equipamentos da Santa Casa, pelo facto de se sentirem representados, e ainda pela manifestações através de cartas e emails”, muitas vindas do estrangeiro.

Depois também houve “o encanto dos familiares, que vêm um pai, irmão ou tio, descer a avenida, num convívio absolutamente extraordinário com toda a cidade”, sublinha o administrador.

Uma cidade que, na opinião de Sérgio Cintra, “é absolutamente inclusiva, na qual não há barreiras e que se combate o preconceito de que há atividades que não devem ser realizadas por pessoas com mais idade”.

Agora, o objetivo da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa é manter seguramente a iniciativa nos próximos anos, “porque é essa também a vontade dos utentes”.

Diz Sérgio Cintra que “só tem sentido mantermos atividades se os utentes se reverem nelas e desejarem participar”.

SÉRGIO CINTRA REVELA OBJETIVOS

Santa Casa aposta no envelhecimento ativo

O  envelhecimento ativo é uma das grandes apostas do pelouro da Ação Social da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa para os próximos anos.

Segundo Sérgio Cintra, este empenho está amplamente refletido no projeto apresentado em conjunto com a Câmara Municipal de Lisboa: “Lisboa Cidade de Todas as Idades”.

Como explica o responsável pelo pelouro, esta iniciativa divide-se em três áreas de intervenção: a vida ativa, a vida autónoma e a vida apoiada.

A componente ativa vai dar um impulso às “atividades realizadas em todo o espaço da cidade, intergeracionais, e não distinguido utentes da misericórdia ou outros”.

Já quanto à autonomia, Sérgio Cintra sublinha que a Santa Casa e a autarquia vão “proporcionar condições para que as pessoas continuem na sua casa”, ou seja vai ser feito “um forte investimento para evitar a institucionalização”.

Mas é também necessário garantir uma intervenção apoiada. “Hoje a esperança média de vida é muito mais elevada e temos de investir numa integração de respostas que permita a ligação entre a área da saúde e a área social”, justifica.

“Mas não podemos permitir que os lares sejam apenas equipamentos de retaguarda e que as pessoas não tenham atividade”, considera.

“Este programa também vai no sentido de entender as necessidades das pessoas de idade avançada e da própria adaptação que a cidade tem de ter”, conclui.

 

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