COM RENDA ACESSÍVEL, CÂMARA DE LISBOA QUER ATRAIR NOVOS MORADORES AO BAIRRO ALTO

A recuperação do quarteirão entre a Rua do Diário de Notícias e Rua do Norte, no Bairro Alto, faz parte de um projeto que visa atrair e fixar jovens famílias no coração da cidade, em edifícios renovados. O investimento será de 7 milhões de euros.

O Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, apresentou, ontem, o projeto arquitetónico de recuperação do quarteirão entre as referidas ruas no Bairro Alto. Também estiveram presentes a Presidente da Junta de Freguesia de Misericórdia, Carla Madeira, a Vereadora da Habitação e Desenvolvimento Local, Paula Marques e a Arquiteta responsável, Silvia Nereu, que apresentou um estudo no âmbito do Programa Renda Acessível e transformações históricas do bairro ao longo das décadas.

De acordo com a Vereadora Paula Marques, a autarquia tem o objetivo de atrair mais famílias e jovens moradores para o bairro Alto, que se transformou num espaço de reabilitação, graças aos trabalhos conjuntos “de várias vontades dentro da Câmara Municipal de Lisboa, e dos trabalhadores e trabalhadoras”.

Um dos prédios envolvidos (património classificado) foi, até 1940, sede e redação do Jornal Diário de Notícias, de “A Capital” entre outros. Para honrar a memória histórica do Bairro Alto, como bairro dos jornais e do jornalismo, a Câmara Municipal de Lisboa cederá o espaço comercial destes edifícios para projetos independentes, e associados às áreas de jornalismo e de produção de conteúdos.

De acordo com a Presidente da Junta de Freguesia de Misericórdia, Carla Madeira, o problema da habitação tornou-se prioritária para o bairro, uma vez que, desde 2013 – quando a freguesia foi criada, até a presente data, houve a saída de 3 mil moradores. “Hoje é um dia de grande felicidade para o Bairro Alto. Nós precisamos ter uma freguesia dinâmica e que todos tenham espaço aqui”, salientou.

“É essencial, agora, nós procurarmos trazer para a freguesia novos moradores.  Para as pessoas que saíram e que querem voltar, terem a oportunidade de voltar ao bairro onde cresceram, e outras pessoas que não tenham nenhuma ligação com a freguesia, que possam escolher este bairro para morar.” Trata-se de um projeto de habitação pública de renda acessível, que “permite trazer todos os tipos de pessoas para cá, para que não tenhamos uma zona da cidade onde só pessoas que têm rendimentos acima de determinado valor é que possam morar. O Bairro Alto é o bairro mais democrático da cidade, onde sempre nós tivemos o operário, o professor universitário, onde sempre houve uma grande mistura e uma sã convivência entre todos os estratos sociais, e é isso que nós gostaríamos que o Bairro Alto e a freguesia da Misericórdia voltassem a ser.”.

De acordo com Fernando Medina, a ação irá se transformar num “projeto emblemático da cidade de Lisboa e da nova política de habitação, porque o que nós aqui conseguimos fazer é mobilizar o património municipal, reabilitar edifícios que estão abandonados, sem uso, e inseri-los numa estratégica de qualificação de revitalização de uma zona com a história que tem.”. Serão recuperados 45 apartamentos, a serem inseridos no Programa de Renda Acessível.


O avanço do Bairro Alto nos últimos séculos

O histórico Bairro Alto, hoje situado na Freguesia de Misericórdia, já foi zona onde vivia a alta nobreza, em palácios sumptuosos. Com o terramoto em novembro de 1755, essas famílias passaram a se mudar para a direção ocidental da cidade e, assim, os palacetes foram vendidos, arrendados ou, até mesmo, abandonados.

Embora o sismo não tenha afetado a localidade de modo significativo, esse fluxo de evasão do bairro aumentou, até que famílias mais pobres passaram a ser maioria. E esta nova realidade social, que surgiu principalmente na segunda metade do século XIX, trouxe ao Bairro Alto a dinâmica que necessitava, até tornar-se o que é ainda hoje: um centro boêmio da capital. Fadistas e jornalistas elegeram a zona para exercerem seus trabalhos e, mesmo após os anos que se passaram, o traço da boémia permaneceu no local.

Com a alta procura pelo turismo, os arrendamentos passaram a encarecer, e os antigos palácios foram, pouco a pouco, sendo divididos em apartamentos cada vez menores. O alto preço das rendas gerou, como mencionado por Carla Madeira, uma perda de 3 mil moradores da Freguesia da Misericórdia, desde 2013. Agora, Lisboa quer dar uma nova roupagem ao bairro e, sobretudo, torná-lo acessível para todos. Com as ações provenientes do Programa Renda Acessível, as famílias poderão arrendar, por preços que podem pagar, apartamentos das tipologias T0, T1 e T2, consoante às suas necessidades.

O Presidente da Associação de Moradores do Bairro Alto, Luís Paisana, abordado por Olhares de Lisboa afirmou que a referida associação está muito esperançosa e satisfeita com a reestruturação, que trará uma mudança no atual cenário de despovoamento que se vê na região. Com a vinda de novas famílias, a ideia é que haja “um comércio local que serve aos moradores, e não somente um ‘monocomércio’, voltado exclusivamente ao turismo”. Esta polivalência comercial trará, segundo Luís Paisana, “vida nova à cidade”.

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