EM OEIRAS, ESPETÁCULO DE DANÇA CONTEMPORÂNEA «FALA» DA OBRA DO POETA E REVOLUCIONÁRIO AIRES TORRES

A Fábrica da Pólvora de Barcarena vai receber o espetáculo de dança contemporânea «Inquietação com as Voltas do Mundo», a partir da obra do poeta e revolucionário Aires Torres, que nasceu na freguesia de Parada do Pinhão, concelho de Sabrosa, em março de 1893 e faleceu, no Porto, em fevereiro de 1979.

A Esquiva – Companhia de Dança apresenta, no próximo dia 11 de setembro, às 21H30, no Pátio do Enxugo, na Fábrica da Pólvora de Barcarena, um espetáculo de dança contemporânea, que reclama a liberdade e a democracia da obra poética de Aires Torres, intitulado «Inquietação com as Voltas do Mundo».

A partir da obra do poeta e revolucionário Aires Torres, a Esquiva concebeu um espetáculo de cruzamentos de várias linguagens artísticas, entre a dança, a música, o teatro e o vídeo. Este, segundo refere o programa, é um espetáculo com leituras musicadas e coreografadas da obra do poeta, que reflete e questiona sobre os ideais pelos quais lutou toda a sua vida: liberdade e democracia, promovendo o crescente pensamento critico, «através do cruzamento intrínseco entre dança, música, poesia e artes plásticas, contribuindo para uma expansão da reflexão critica sobre dança e seus cruzamentos com outras expressões artísticas».

Par o grupo de dança contemporânea, «a obra de Aires Torres foi silenciada durante a sua vida e cem anos depois ainda é de uma atualidade e reflexividade extenuante coadunando-se na perfeição com os tempos que estamos a viver».

O primeiro poema de Aires Torres que há conhecimento, intitulado «A Fogueira na Montanha», foi publicado na revista portuense A Águia, em 1923. Por essa altura, já Teixeira de Pascoaes abandonara a direção da revista, indo viver para o seu solar de S. João de Gatão, em Amarante.

Aires Torres foi um poeta de muitas e variadas leituras, como decorre de uma observação atenta da sua obra. Leu, sem dúvida, Junqueiro, Nobre, Pascoaes e Mário Beirão. Mas também seguramente, João de Barros, Cesário Verde, Mário de Sá Carneiro e Fernando Pessoa. Em «Anda às voltas o Mundo» há, aliás, um poema (“O Reino deste Mundo”) que é uma espécie de resposta ao poema “Nevoeiro”, o último do livro Mensagem, de Fernando Pessoa.

Mas, as leituras de Aires Torres não se ficavam, porém, só pelos poetas. Alguns dos seus poemas refletem outras influências. Por exemplo do romance Emigrantes, de Ferreira de Castro, no poema “Evadidos” (Anda às voltas o Mundo). Também o romance Quando os Lobos Uivam, de Aquilino Ribeiro, lhe suscitariam a escrita do poema “O Rebanho”, que destinou a O Jornal de Felgueiras e que a Censura, atenta, não deixou publicar.


A fase final da poética de Aires Torres é, sem surpresa, influenciada pela estética neorrealista. Não deixa, porém, de refletir a angústia, a revolta e a solidão interior deste poeta, “estados de alma” tão caros ao movimento expressionista, que revelam uma última e decisiva influência: a de Raul Brandão.

Neste espetáculo serão adotadas todas as medidas de segurança e higiene decretadas pelas autoridades de saúde na prevenção do contágio por COVID 19.

 

 

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