GINJINHA DE BUCELAS NO CORAÇÃO DA “ROTA SALOIA”

Desde há décadas que a qualidade da ginjinha de Bucelas tem atraído muitos visitantes à vila. O Café Primavera é uma referência para todos os visitantes e tem tido uma clientela ilustre ao longo dos tempos. Atores de telenovela, fadistas, gente das artes, são presença assídua nesta casa com pergaminhos na preservação dos costumes e tradições saloias.

O Café Primavera é um café com história na vila de Bucelas. De aspeto humilde, mas com personalidade, tem pergaminhos históricos na divulgação da cultura saloia. Nos anos 60/70, a casa era visitada frequentemente por “gente famosa” de Lisboa, como os atores Bruno do Canto e a fadista Anita Guerreiro, que embarcavam na chamada “Rota Saloia” e faziam uma paragem obrigatória no Café Primavera para degustar os “catitas”, um bolinho criado pelo avô do atual proprietário. Mas vinham, acima de tudo, para beber a Ginjinha de Bucelas, que tinha fama em todo o distrito de Lisboa e que conseguia atrair muitos forasteiros, que fugiam do reboliço da capital rumo às terras saloias para desfrutar da tranquilidade do campo.

Na altura, descreve Jorge Rato, era uma autêntica “romaria” a Bucelas. “Havia uma grande tradição de o pessoal passar por aqui para vir beber a nossa ginjinha e comer o catita da ordem ou um ‘arrepiado’, aqui do café ao lado, bem como beber também um arinto de Bucelas”. Esta Rota era muito conhecida em Lisboa”, sublinha o atual proprietário – Jorge Rato lança o olhar para o televisor que está sempre ligado. “Olha, o (Rogério) Samora teve um enfarte!”, informa, acrescentando que o ator, bem como outros nomes sonantes da representação, como o malogrado Pedro Lima ou Nuno Homem de Sá, mas também Marina Mota “são clientes habituais” do café.

Produto biológico

Jorge Rato, neto do fundador do estabelecimento, assume-se como um bairrista, que “gosta que a sua terra preserve as tradições”, e tem tentado preservar as receitas que estão na família desde os anos 60, dando continuidade a um negócio familiar que tem passado de geração em geração até aos dias de hoje.

A receita da ginjinha de Bucelas está fechada a sete chaves, mas Jorge Rato revela que o processo de fabrico “continua a ser igual” ao antigamente. “É tudo feito de forma tradicional e sem recurso a químicos. É um produto biológico e de grande qualidade”.

O dono do Primavera assume que “quer preservar o negócio e a tradição”, até porque o “antigo está na moda”, mas lamenta o “desinteresse dos jovens” em prosseguir com as tradições, havendo, assim, o risco de desaparecer um “negócio” que necessita de novos impulsos para sobreviver.


“Eu sou neto do fundador e quero muito continuar a trabalhar, mas temo pela continuidade do negócio, pois os meus filhos já não querem saber disto”, lamenta.

Numa manhã normal de um dia de semana, o Café Primavera é dos mais movimentados do centro da vila. O afluxo de clientes é uma constante. Há quem tome o pequeno almoço, outros beberricam uma bica, ou quem já vá mais adiantado e peça uma ginjinha “traçada” com cerveja, mas também aqueles que solicitam as famosas sandes de presunto, as bifanas e os pregos à moda da casa.

Mais turismo, mais negócio 

Não obstante o movimento de clientes, Jorge Rato mostra algum sinal de desagrado. “Infelizmente, Bucelas está longe de ser aquilo que já foi há umas décadas. Da nossa parte, temos tentado preservar esta casa, mas o movimento já não tem a nada ver com aquilo que era antigamente”, lamenta.

Como explicou o presidente de junta numa entrevista que pode ler nesta edição, Bucelas está a apostar no setor de turismo, havendo a possibilidade de criação de unidades hoteleiras que possam trazer uma nova dinâmica comercial e económica à vila.

Jorge Rato vê com bons olhos uma aposta em projetos que “tragam mais movimento à vila” e que “acabem por beneficiar toda a gente”.

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