HÁ MÚSICA, CINEMA E TEATRO, NO POLO CULTURAL GAIVOTAS – BOAVISTA

O verão de 2022 vai trazer de novo a animação cultural ao pátio do Polo Cultural Gaivotas – Boavista, em Lisboa, com concertos musicais, sessões de cinema ao ar livre e teatro ao final da tarde. As sessões de cinema, ao ar livre, têm curadoria de Os Filhos de Lumière, sob o lema “Das janelas aos caminhos. Os motivos do cinema.”

O pátio do Polo Cultural Gaivotas – Boavista está aberto ao final da tarde, durante todo o verão, para festejar a Cultura em Lisboa numa ação direta e inspirada no território e nas gentes da vizinhança. Numa programação de música, cinema e teatro, os eventos têm entrada livre, sujeita à lotação do pátio, com espetáculos pensados para os residentes e todos aqueles que cruzem esta zona da cidade.

O programa “Gaivotas no pátio” foi criado com a participação dos agentes culturais residentes no edifício e através de um conjunto de parcerias com agentes e entidades culturais com atuação no território.

As sessões de cinema ao ar livre têm a curadoria da associação cultural Os Filhos de Lumière, sendo a seleção de filmes enquadrada na temática “Das Janelas aos Caminhos. Os motivos no cinema.” Ao longo dos três meses serão exibidos de 11 filmes, de longa e curta duração, como “A Estrada” de Federico Fellini, “O medo come a alma” de Rainer Werner Fassbinder ou “Vou para Casa” de Manoel de Oliveira.

A Filho Único, estrutura sediada no edifício, apresentou no concerto de abertura, no dia 14 de julho, a artista turca Ece Canli e o DJ set da Vuduvum Vadavã, e encerra a programação de verão no dia 8 de setembro com a Banda Leguelá, fundada por Leonilde Barros, guitarrista dos África Negra.

O Teatro do Eléctrico, outra das associações sediadas no Polo, apresenta o espetáculo “A Voz Humana”, a partir de um texto de Jean Cocteau, que esteve em fase de ensaio nas salas de trabalho do Polo Cultural Gaivotas – Boavista, e que se apresenta pela primeira vez em Lisboa.

Será ainda exibido o filme “Um Corpo que Dança”, de Marco Martins, que revela o percurso do Ballet Gulbenkian, uma das maiores companhias de dança portuguesa do século XX, em diálogo com a história política, económica e sociocultural do país. Uma companhia sediada em Lisboa e da qual nasceram criadores como João Fiadeiro, anteriormente vizinho, e atualmente artista com estrutura residente no Polo.


Residências artísticas

A Junta de Freguesia da Misericórdia foi parceira do Polo Cultural Gaivotas – Boavista na divulgação das Gaivotas no Pátio.

O Polo Cultural Gaivotas – Boavista é um centro para a criação artística da Câmara Municipal de Lisboa, que disponibiliza ao setor cultural salas de ensaio, de formação e escritório, e ainda as Residências Artísticas na Boavista e em Monsanto, um conjunto de alojamentos para acomodação temporária de artistas portugueses e estrangeiros.

Além destes recursos, o polo promove dois momentos de programação artística, o Gaivotas em Marvila e o Gaivotas no Pátio.

Programação Cinematográfica

20 julho: 21h30

A ESTRADA, de Federico Fellini, com Anthony Quinn, Giulietta Masina, Richard Basehart, Aldo Silvani, Marcella Rovena e Livia Venturini. (Itália 1954 – 108 min. M/12)

Figura frágil e ingénua num mundo sem amor, Gelsomina é vendida pela mãe a Zampanò, um saltimbanco forte e bruto que a leva para trabalhar com ele na sua vida de estrada, dando-lhe um número burlesco. Quando este encontra um velho rival, o artista que dá pela alcunha de “O Louco”, a fúria do homem musculado é provocada até ao ponto de rutura. Uma parábola com notas musicais de um Charlot trágico. Aqui Fellini trocou qualquer familiaridade com o neorrealismo pela fábula poética, inspirando uma das suas mais populares personagens, Gelsomina, nascida de uma caricatura de palhaço feita pelo realizador no seu bloco de notas. (Os Filhos de Lumière)

27 julho: 21h30

VOU PARA CASA, de Manuel de Oliveira, com Adrien de Van, Antoine Chappey, Catherine Deneuve, Isabel Ruth, John Malkovich, Leonor Silveira. (Portugal 2001 – 87 min. M/12)

Gilbert Valence é um ator de teatro, e o seu talento e a sua carreira deram-lhe os papéis mais importantes que um ator pode desejar. Uma noite, no fim de uma representação, a tragédia irrompe na sua vida; o seu agente e velho amigo, Georges, diz-lhe que a sua mulher, a filha e o genro acabaram de falecer num acidente de viação. O tempo passa, a vida volta à normalidade. Gilbert Valence partilha agora o seu tempo entre o neto, que adora, e o teatro. Algum tempo mais tarde, o seu agente propõe-lhe um papel de protagonista num telefilme com os ingredientes em moda: droga, sexo e violência. E ele zanga-se: não teve a carreira que teve para agora aceitar comprometer-se num trabalho que lhe repugna totalmente, sob o pretexto que ganhará muito dinheiro. Mas no dia em que um realizador americano lhe propõe fazer de Ulisses, uma adaptação de Joyce, ele aceita com entusiasmo. No estúdio, com a iluminação e o décor instalados, o realizador sugere um ensaio: Gilbert Valence tem algumas hesitações, algumas falhas de memória, mas isso não é muito grave: retomarão no dia seguinte. Mas no dia seguinte, em plena rodagem, o velho ator sente o mundo escapar-se-lhe, e não consegue enfrentar a realidade. O texto foge-lhe. E ele para e diz muito calmamente: Vou para casa… (Os Filhos de Lumière)

3 agosto: 21h30

O MEDO COME A ALMA de Rainer Werner Fassbinder, com Brigitte Mira, El Hedi ben Salem, Barbara Valentin, Irm Hermann, Elma Karlowa. (Alemanha 1974 – 92 min. M/12)

Um romance quase acidental é aceso entre uma alemã de sessenta e poucos anos e um trabalhador migrante marroquino cerca de vinte e cinco anos mais jovem. Essas duas pessoas separadas pela idade e raça decidem abruptamente casar-se, causando um escândalo entre todos à sua volta. O único filme de Fassbinder diretamente decalcado da obra de Sirk, mais exatamente de “All that Heaven Allows”, que Fassbinder transpõe para a Alemanha de começos dos anos 70, radicalizando a diferença de idade entre os dois amantes pelas diferenças culturais e raciais. Mas Fassbinder, evidentemente, não se limitou a transpor a história do filme de Sirk para a Alemanha do seu tempo: “não se é forçado a refazer alguma coisa simplesmente porque ela nos pareceu bela. É preciso tentar contar uma história pessoal, apoiando-se na impressão causada pelo filme”. (Os Filhos de Lumière)

10 agosto: 21h30

LE HORLA de Jean-Daniel Pollet, com Laurent Terzieff (França 1966 – 38 min. M/12)

Um homem que vive sozinho torna-se cada vez mais preocupado por não estar sozinho. (Os Filhos de Lumière)

ZÉFIRO de José Álvaro Morais, com Alexandre Fernandes, André Maranha, António Antunes, António Pinto, Carlos Vargas (Portugal 1993 – 52 min. M/12)

Zéfiro é um filme sobre Lisboa, a última das cidades mediterrâneas, condenada ao Atlântico pelo estuário vastíssimo que a separa da “outra banda”. A princípio, o trajeto escolhido parece ser o dos cacilheiros, os «ferryboats» que ligam a margem norte à margem sul do Tejo, na realidade, quando chega à margem sul, o filme muda inesperadamente de registo e, enquanto nos fala dos povos que se sucederam ou coexistiram no Sul profundo de Portugal, cruza a planície do Alentejo, sobe a serra do Algarve, e desce do outro lado até ao mar, onde para finalmente, a contragosto, como se quisesse continuar até ao Mediterrâneo. Depois volta desencantado para cima, e é já de noite quando atravessa o rio de novo. (Os Filhos de Lumière)

17 julho: 21h30

E A VIDA CONTINUA de Abbas Kiarostami, com Farhad Kheradmand, Shahin Abzan, Buba Bayour (Irão 1992 – 91 min. M/12)

Após o forte terramoto de Guilan, que em 1991 devastou o Norte do Irão, um realizador e o seu filho viajam por aquela região à procura dos atores de um filme que o cineasta dirigira anos antes – “Khaneye Doust Kodjast?” (“Onde fica a casa do meu amigo?”, 1987). Durante a sua procura os dois cruzam-se com várias pessoas que, apesar de terem perdido tudo o que possuíam com o terramoto, acreditam que dias melhores virão. E a Vida Continua é um filme em tom documental que, ao mesmo tempo, procura ser um hino à sobrevivência e uma reflexão sobre o cinema, que importa os cenários reais de devastação para o grande ecrã. (Os Filhos de Lumière)

24 julho: 21h30

OS SALTEADORES de Abi Feijó, com Raul Constante Pereira, Jorge Mota, João Paulo Seara Cardoso, António Paulos, Jorge de Sena (Portugal 1993 – 14 min. M/12)

Dentro de um carro, numa viajem à noite ao longo da costa portuguesa, nos anos 50, ouve-se uma discussão sobre a identidade de um grupo de homens, capturados e mortos há alguns anos no decorrer da guerra civil espanhola. Três perspetivas são confrontadas num discurso que revela a face e as sensibilidades ideológicas do regime fascista português. Como se a História pudesse ser inventada ou esquecida… (Os Filhos de Lumière)

O SEGREDO DA CASA FECHADA de Teresa Garcia, com Clara Neves e Luz Poppe (Portugal 2017 – 30 min. M/12).

Lisboa, no cais junto ao rio, duas casas de construção antiga estão situadas frente a frente. Numa delas não vive ninguém, está fechada e parece há muito abandonada. Na outra vivem Ana e Matilde, duas irmãs de 9 e 7 anos. A casa fechada é quase sempre vista pelo olhar das duas irmãs. Ela parece por vezes ganhar vida e mudar conforme a hora do dia ou da noite. No fim não saberemos se essa mudança que mais ninguém parece ver é real ou uma construção deste imaginário infantil. (Os Filhos de Lumière)

PASSEIO COM JOHNNY GUITAR de João César Monteiro, com João César Monteiro e Ana Reis (Portugal 1995 – 3 min. 30 seg. M/12)

Vindo, sabe Deus de aonde, o senhor João de Deus regressa a casa com um estilhaço na cabeça: trata-se, sem trepanação à vista, de um fragmento da banda sonora do filme chamado Johnny Guitar. A cidade amanhece, anunciando outros passeios. Dizem que o senhor Monteiro, alter ego do senhor de Deus, já foi visto a passear com um certo Nicholas Ray. (Os Filhos de Lumière)

MEVLEVI, de Pierre-Marie Goulet (França 1970 – 15 min.  M/12)

Cerimónia ritual de uma confraria “soufi” da Turquia: os derviches “volteadores”. (Os Filhos de Lumière)

31 agosto: 21h30

ZHALEIKA de Eliza Petkova, com Anna Manolova, Snezhina Petrova, Mihail Stoyanov, Maria Klecheva, Stoyko Ivanov (Bulgária e Alemanha 2016 – 92 min. M/12).

Lora, uma rapariga de 17 anos, confronta-se com a morte do pai. Na pequena aldeia búlgara onde o tempo parece ter parado, a sua família e os vizinhos esperam que ela se entregue à dor. A partir de agora, segundo eles, ela tem que andar de preto, não ouvir música e participar dos vários rituais de luto. Mas Lora reage… (Os Filhos de Lumière)

7 setembro: 21h30

UM CORPO QUE DANÇA de Marco Martins (Portugal 2022 – 127 min. M/12)

Uma proposta para a história do corpo a partir do percurso de uma das maiores companhias de dança portuguesas do século XX. O documentário de Marco Martins caminha a par do desenvolvimento da dança em Portugal e da história política, económica e sociocultural do país. Um Corpo de Dança é a história da vivência de um novo corpo, em transformação, que se liberta do fascismo, e de uma sociedade em mudança que se abre ao mundo exterior. A partir de imagens de arquivo inéditas e entrevistas a vários criadores e bailarinos acompanhamos o trajeto de uma companhia extraordinária, através dos movimentos e das palavras dos seus protagonistas, da sua génese no início dos anos 60 até à extinção em 2005.

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