JARDINS DO PARQUE DAS NAÇÕES REGADOS COM ÁGUA RECICLADA

Lisboa deu ontem o primeiro passo para usar água reciclada na rega dos espaços verdes da cidade. O projeto Água+ prevê acabar com a utilização de água potável na rega dos espaços verdes de Lisboa, substituindo-a por águas residuais tratadas. Primeiramente na zona do Parque das Nações Norte, devendo depois estender-se ao resto da cidade.

Ontem, 22 de março, data em que se assinalou o Dia Mundial da Água, Lisboa oficializou o lançamento do primeiro projeto de reutilização de água para a rega de espaços verdes da cidade. Levado a cabo pela empresa Águas do Tejo Atlântico, em parceria com a Câmara Municipal de Lisboa, o projeto Água+, que arrancou esta terça-feira na Fábrica de Água de Beirolas, vai utilizar água não potável para regar os parques e jardins do Parque das Nações Norte.

Presente nesta primeira rega com Água+, Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, manifestou o desejo de que «Lisboa seja a cidade do concreto na ação climática». Além do sistema agora apresentado, o autarca revelou o objetivo de continuar a alteração do sistema de iluminação pública de Lisboa para LED. A mudança, afirmou, vai permitir «poupar 80% de energia».

O coordenador do centro operacional de Beirolas e São João da talha, Victor Neves, explicou que, de forma a aumentar a «eficiência hídrica» da cidade, foi criado um sistema de tratamento complementar de águas residuais na ETAR de Beirolas, que serve 213.540 habitantes para servir os espaços verdes da zona.

As áreas verdes no Parque das Nações Norte, onde será usada Água+, atingem quase 295.000 m², e um volume de água anual para rega de 300.000 m³. A nova “rega sustentável”, passa a utilizar águas residuais recebidas e tratadas na Fábrica de Água de Beirolas, como alternativa às captações naturais. De acordo com o Plano Estratégico de Reutilização de Água de Lisboa, até 2025, o município estima poupar 3 milhões de m³ de água potável, cerca de 75% do consumo atual.

Apelidando o Água+ de «pioneiro», já que se trata do primeiro projeto licenciado no país de utilização de água reciclada para rega, a presidente da Águas do Tejo Atlântico, Alexandra Serra, afirmou que este «é um pequeno grande passo em prol da sustentabilidade das cidades do futuro».

Da parte da câmara, Catarina Freitas, diretora municipal do Ambiente, salientou a capacidade desta parceria em «reduzir o consumo de água potável» em Lisboa, já que 75% da mesma é usada na lavagem de arruamentos ou na rega de espaços verdes, um desperdício face ao cenário de «emergência climática».


Por seu turno, Carlos Moedas defendeu que a Câmara de Lisboa «tinha a responsabilidade de dar este empurrão» para «estar à frente do seu tempo no que toca à circularidade» da água da cidade. O autarca argumentou, ainda, que esta não é uma política de «direita nem esquerda», mas sim uma forma de «mudar a sociedade» para as gerações mais jovens.

De futuro, a câmara pretende dar seguimento a este projeto, de forma faseada, através das estações de tratamento de águas residuais (ETAR) de Alcântara e de Marvila na zona mais baixa da cidade e do Aqueduto das Águas Livres na cota mais alta de Lisboa.

No caso da Águas do Tejo Atlântico, o plano da empresa é estender a utilização de águas recicladas nos jardins municipais dos restantes municípios da Grande Lisboa e Oeste, como Loures ou Mafra.

Monitorização constante

A responsável pela área do ambiente na câmara avançou também que o projeto passará por «um processo de monitorização» constante, cujos dados serão disponibilizados na plataforma Lisboa Aberta e que a rega do Parque Tejo decorrerá da parte da noite.

Segundo garantiu Catarina Feitas, o novo sistema, irá minimizar os riscos para a saúde pública e ambiental, com medidas como a rega em período noturno e a sinalização das áreas, entre outras.

O município, revelou esta responsável, consome cerca de 3,9 milhões de m³ de água potável por ano. Mais de 75% deste valor destina-se a uso não potável, como a rega de espaços verdes, ruas, contentores, coletores, viaturas e garagens.

O evento, em que a Águas do Tejo Atlântico recebeu uma licença de produção e a Câmara Municipal de Lisboa uma licença de distribuição para aquela zona, prevê também o acompanhamento da produção e monitorização do sistema de reutilização de água deste projeto, mas devido à chuva intensa que caiu ontem à tarde, teve de ser adiado.

Na sessão em que se formalizou o acordo entre as entidades envolvidas, estiveram também presentes os responsáveis do Ministério do Ambiente, Grupo Águas de Portugal e Agência Portuguesa do Ambiente (APA), sendo que ministro Matos Fernandes participou por via digital uma vez que se encontrava no Fórum Mundial da Água.

Comemorações prolongam-se

Entretanto e ainda no âmbito das comemorações do Dia da Águas, a Tejo Atlântico organizou um vasto leque de iniciativas com objetivo sensibilizar para a importância do uso eficiente da água no contexto das Fábrica de Água e da economia circular e, em parceria com os municípios servidos pelo sistema as ações, envolveu cerca de 2. 500 crianças nas ações de sensibilização para a importância da água.

Em comunicado, a Tejo Atlântico lembra que as atividades começaram no passado dia 15 de março, em Torres Vedras, com a participação na Quinzena da Floresta e da Água, que decorre na Mata do Convento do Varatojo até dia 25 de março, envolvendo cerca de um milhar de alunos de todas as escolas do 1º ciclo do concelho de Torres Vedras.

Ontem, 22 de março, em parceria com a Águas de Portugal, foram divulgados os vencedores da 3ª competição nacional do Aquaquiz e o Pavilhão do Conhecimento divulgou também os projetos vencedores do concurso Ideias Hidrodinâmic@s, que contou com a parceria da Tejo Atlântico e da Fundação Calouste Gulbenkian.

Além dos mais novos, também os formandos da Escola da Guarda da GNR, numa parceria com o Município de Sintra, e os funcionários de uma Eco-Freguesia de Óbidos, terão no decorrer dessa semana uma ação de formação valorização da água.

Ao longo do mês de março, a par destas atividades realizadas com os municípios, o Centro de Educação Ambiental da Tejo Atlântico irá manter as suas portas abertas, quase diariamente, para receber as escolas da região, organizando sessões de sensibilização sobre o valor da água.

 

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