Oeiras vai construir o primeiro campo de golfe municipal, de forma a democratizar esta prática desportiva. Para já, conta com o apoio de um especialista de renome nacional na reparação de material de golfe. Trata-se do inglês David Jackson, que executa um trabalho de verdadeiro artesão na recuperação dos tacos de golfe usados nos campos da Grande Lisboa e defende a “democratização” da modalidade levada a cabo pelo Município, com a reconversão do antigo Cabanas Golfe num campo municipal.
No decurso da Gala do Desporto, o presidente da Câmara de Oeiras anunciou que a Câmara vai comprar os terrenos do Cabanas Golfe, em Porto Salvo, e construir o primeiro campo de golfe municipal. Trata-se do aproveitamento de um espaço que irá ser reconvertido para usufruto desportivo da comunidade.
Isaltino Morais revelou que o objetivo é “democratizar o golfe” no concelho, levando os alunos das escolas, das universidades e toda a comunidade em geral para a prática golfista num campo público, combatendo assim a ideia de que o golfe é só “para as elites” endinheiradas ou para os reformados do norte da Europa que deixaram os seus países para trás e vieram viver uma reforma tranquila neste país à beira-mar plantado.
Desta forma, o presidente da Câmara pretende que o concelho dê mais um passo para se distanciar da imagem de “elitismo” associado a este desporto, desconstruindo as barreiras sociais normalmente associadas a esta prática desportiva.
Para atingir esse objetivo de democratização deste desporto, Oeiras já tem um especialista de renome nacional na reparação de material de golfe. Trata-se de David Jackson, um empresário que faz um trabalho de “ourives” na reparação dos tacos e demais material utilizado neste desporto.
O inglês, que vive em Portugal há mais de 50 anos, é proprietário de uma pequena empresa de reparação de material de golfe (tacos, carros, etc.) e tem a sua loja/oficina na Avenida Tomás Ribeiro, em Carnaxide, enaltece a medida do Município e acredita que esta abertura à comunidade do Cabanas Golfe vai “atrair muitos curiosos e mais pessoas para a modalidade”, conseguindo, assim, que esta prática desportiva “ganhe novos jogadores”.
De resto, David Jackson diz “conhecer muito bem” o campo que a CMO quer reconverter num espaço público, até porque jogou lá “muitas vezes” e sempre considerou que o seu abandono “era um desperdício”, porque o campo “é excelente”.
O empresário sustenta que a reutilização do Cabanas Golfe poderá traduzir-se numa alavancagem para a sua pequena companhia. “Podemos ajudar-nos mutuamente. Posso montar lá uma pequena banca de reparação e ficamos todos a ganhar”, admite.
Tacos feitos “à medida”
O empresário, de 72 anos, continua a dividir o seu tempo entre a prática de golfe e a reparação do material dos clientes na sua loja e oficina de Carnaxide. Foi jogador de rugby e hóquei em campo. Mas, com o passar dos anos, apercebeu-se que o corpo “já não estava preparado para grandes esforços”. Começou então a jogar golfe e ganhou “um vício” que nunca mais o abandonou.
Hoje, gosta tanto daquilo que faz, que fabrica os próprios tacos para usufruto pessoal ou de jogadores que queiram ter um taco adaptado às suas condições físicas. “Não são de grandes marcas, mas não ficam atrás dos outros. Ficam mais em conta e são personalizados à minha vontade ou a pedido dos meus clientes”, admite, timidamente.
Ao olhar em volta para fazer um inventário rápido do seu espaço, David Jackson revela que pretende vender alguns conjuntos de tacos usados, em “perfeitas condições”, para arranjar espaço e ganhos na organização da loja, uma das poucas do género que existem na Grande Lisboa, que repara o material, mas também vende peças novas.
Novos clientes
Apesar de o negócio já ter nome consolidado entre a comunidade de jogadores nacionais e estrangeiros que praticam a modalidade nos vários campos de Golfe na Grande Lisboa (Oeiras, Estoril, Cascais, Lisboa, Torres Vedras e na Margem Sul), por saberem que o trabalho de David consegue dar uma nova vida ao material, o empresário revela que pretende expandir a atividade e começar a “insistir mais” na publicidade sobre o seu trabalho nos campos de golfe onde, com a pandemia de covid, deixaram de solicitar o seu trabalho, como no campo da Quinta da Marinha, por exemplo, porque continua a acreditar que o tipo de reparação minuciosa que faz pode potenciar a prática do golfe, de quem se diz ser um “fiel amante”.
Também a vinda de muitos reformados norte-americanos ou escandinavos que escolheram a costa do distrito de Lisboa para viverem tranquilamente a derradeira etapa da existência, pode potenciar o crescimento do seu negócio.
Aos seus 72 anos, David Jackson continua a pensar em projetos futuros e em ter “mais movimento” na pequena loja/oficina que alberga toda uma história de vida ligada a este desporto.
“Produtor” dos cravos de Abril
O empresário inglês, que é engenheiro agrônomo de formação, é casado com uma portuguesa há mais de 50 anos, mas não é a única ligação “umbilical” que tem com Portugal. Trabalhou em uma multinacional, de propriedade de suecos, da área de horticultura em Portugal, que exportava “milhões de flores” para o mercado norte-americano, entre muitos outros.
Foi desta empresa que saíram os cravos do 25 de Abril. David Jackson lembra, com saudade, esses tempos de “todas as utopias” e o momento histórico que marcou a mudança do país, que também já é seu.
“Foram momentos muito bonitos. Na empresa, ficamos muito orgulhosos de ver nossos cravos na rua, de se tornar o símbolo do 25 de Abril”, confidencia.