SÃO VICENTE RESPIRA HISTÓRIA NAS SUAS RUELAS E VIELAS

Se há local de Lisboa onde se pode aplicar a frase “cidade das sete colinas” é em São Vicente. Os habitantes estão preocupados em serem despejados das suas casas, por causa do turismo.

Desde o Largo da Graça, onde as ruas sobem e descem, até a Sapadores, descendo pelas ruas e ruelas de Alfama, passando pelo casario antigo, tudo respira história na freguesia de São Vicente.

O roncar dos elétricos a desafiarem as colinas e quase a tocarem nas varandas das casas. Os idosos pacientemente sentados na soleira das portas, vendo o passar incessante de turistas que percorrem este típico bairro da capital.

São também os sabores e aromas dos muitos restaurantes e cafés que, porta sim porta não, ocupam os pisos térreos.

Um dos pontos, positivos, apontado pela presença de turistas e visitantes, é a recuperação das casas centenárias. O lado negro é que, segundo vários habitantes, muitas pessoas, na sua maioria idosos, estão a ser forçados a saírem de suas casas para aí serem construídos mais hostels e turismo local.

A freguesia de São Vicente, apesar de ter uma população residente composta, na sua maioria, por idosos, está a começar a receber uma população mais jovem, que aproveita a reabilitação urbana para viver num bairro que oferece as comodidades modernas e mantém aquele ambiente de vizinhança muito apreciado por quem aqui habita.

Zona monumental


Alguns dos monumentos e locais de interesse a visitar são: Igreja de São Vicente de Fora; Panteão Nacional; Feira da Ladra; Igreja da Graça; Miradouros da Graça e da Senhora do Monte.

A viver na Graça à 53 anos Maria de Jesus Canhoto, de 76 anos, entende que este bairro “agora está bonito, ao contrario do que acontecia antigamente”.

Do ponto de vista de Maria de Jesus algumas das atrações mais interessantes na freguesia são: “o Panteão Nacional, os miradouros da Graça e de Nossa Senhora do Monte e várias igrejas”.

O problema que mais a preocupa são as tentativas para a tirarem de sua casa no Largo da Graça, “mas como já lá vivo há 40 anos ninguém me tira de lá”. Segundo esta moradora, vários moradores idosos da freguesia estão a ser «corridos» das suas casas. “Estão a tentar tirá-los das casas, para instalarem os hostels”, acrescenta.

Turismo a «dar com … pau»

Apesar de trabalhar nesta freguesia há relativamente pouco tempo, Natacha Monteiro, de 32 anos, empregada de balcão, considera esta zona “muito tranquila e turística. As pessoas estão de férias, bem-dispostas. Têm imensa diversidade de programas aqui na zona”.

Para Natacha Monteiro “os miradouros são a melhor atração daqui. São zonas agradáveis para se estar”.

No pouco tempo que tem deste bairro, “não vi aqui nada particularmente negativo que desejasse apontar”.

A oficina onde Susana Baeta trabalha no restauro e pintura de azulejos permite ver o vai-vem de turistas que, num sufocante dia de calor, sobem e descem estas colinas de São Vicente.

“O bairro está a deixar de ser bairro, mudou muito. Apesar de, aqui neste bocadinho, ainda se nota que há muitas pessoas que vivem aqui”, sublinha esta restauradora, de 45 anos e moradora na Calçada de São Vicente. “Mas assistimos a pessoas terem que sair, à pressão imobiliária. E isso faz muita diferença, não só na vida das pessoas por terem de ir arranjar outras soluções de habitação, como, também nos estabelecimentos comerciais” lamenta.

Para Susana Baeta “o mais apelativo deste bairro é o que está a desaparecer. É a convivência e entreajuda entre as pessoas. Existe um lado positivo, não no lado dos despejos, mas com a preservação do espaço, que antes não havia, e agora há por causa dos estrangeiros”.

Casas de banho públicas

Há dois anos a vender antiguidades numa loja onde frente ao local onde se realiza a Feira da Ladra, José Oliveira, de 64 anos, do Campo de Santa Clara, destaca como pontos positivos: “haver muito turismo e ser um local onde é fácil estacionar”. Gosta de aqui estar porque “é um bairro agradável, com uma boa vista sobre o rio”. Não só lhe agrada esta zona, como “também gosto da Graça e Alfama”.

Se pudesse decidir este comerciante destacaria a necessidade “de instalar mais casas de banho públicas. Temos muitos turistas que nos pedem para ir às casas de banho e estas lojas não as tem”.

Junta à estação de Santa Apolónia, António Silva, de 69 anos, olha atentamente a entrada e saída dos viajantes na gare de comboios. A viver na freguesia de São Vicente, mais propriamente em Santa Apolónia, há mais de 40 anos, este habitante afirma que “a zona está mais bonita e agradável agora. Andaram a arranjar muitas casas na zona antiga”. Num passado recente as “casas estavam muito maltratadas”.

Queixa-se da “quantidade de turistas que passam por aqui todos os dias, mas eu sei que eles ajudam à economia”.

Faz alguns reparos à “alguma falta de limpeza nas ruas, mas a culpa também é das pessoas que deitam lixo no chão”, conclui.

RUAS LIMPAS EM SÃO VICENTE PASSA TAMBÉM PELOS MORADORES

A falta de civismo de alguns provoca problemas na recolha de resíduos, refere a presidente da junta de freguesia de São Vicente, Natalina de Moura, em resposta a algumas das queixas de moradores aos «Olhares de Lisboa».

A situação da recolha dos resíduos e a falta de limpeza nas ruas, são algumas das críticas dos residentes na freguesia de São Vicente, ao «Olhares de Lisboa». No entanto, para a presidente da junta de freguesia, Natalina de Moura, “a situação está a ser resolvida, estando bastante melhor, desde o último protocolo para a higiene urbana”. A autarca realça o reforço de pessoal na área da limpeza e “com este reforço conseguimos limpar a freguesia quatro vezes por dia”.

Mas Natalina de Moura não deixa de apontar o dedo “a atitudes menos cívicas de alguns. Não me venham dizer que é tudo por força do turismo. Porque para um bom observador, basta estar numa esplanada do largo da Graça para ver isso. São os próprios residentes a pôr os resíduos na eco-ilha”.

Natalina de Moura refere, por outro lado, que a viatura de “recolha dos produtos na eco-ilha, têm um espaço reservado e sinalização vertical, mas as pessoas estacionam nesses espaços. E, assim, é praticamente impossível retirar os resíduos das eco-ilhas”.

Quanto à falta de manutenção dos espaços verdes, a autarca salienta “que existe uma boa articulação entre as equipas de espaços verdes, calceteiros e higiene urbana. E temos todas as árvores identificados e o seu estado”. Por vezes, revela, acontece haver alguma árvore estragada “por ações de vandalismo”.

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