TODOS SÃO DIFERENTES MAS TODOS SÃO IGUAIS…

Em Oeiras, o Centro Nuno Belmar da Costa quer dar mais autonomia à vida das pessoas com paralisia cerebral, proporcionando condições que permitem aos seus utentes ter uma vida independente e adaptada às necessidades de cada um.

O Centro Nuno Belmar da Costa (CNBC), equipamento social da união de Freguesias, sediado em Oeiras, a festejar, no próximo ano, 40 anos de existência, desenvolve várias iniciativas que visam dar a conhecer a realidade da pessoa com deficiência no seu todo.

Pioneiro no apoio residencial às pessoas com Paralisia Cerebral em Portugal, o Centro Nuno Belmar, criado em 1982, inovou através de um modelo de serviços apostado no bem-estar dos clientes e com base numa forte ligação à comunidade envolvente, o que, neste momento, foi «um pouco cerceada devido à pandemia» que impediu a realização de várias atividades.

Numa altura em que o Mundo continua a lutar contra a Covid 19, Odete Nunes, coordenadora técnica do Centro Nuno Belmar da Costa, considera que estes tipos de eventos eram e são importantes, por permitirem um «convívio de proximidade entre utentes e a comunidade», lembrando que «estiveram um ano confinados, aproveitando o bom tempo para fazer alguma animação no espaço exterior. Os utentes ficavam felizes e eufóricos».

«No fundo isto tem sido uma lição de vida para nós porque eles lidaram com tudo isto da melhor forma. Adaptaram-se a todas as regras e alterações da sua própria casa. Este centro vai fazer 40 anos a 19 de abril de 2022 e temos quatro utentes que vivem aqui desde o inicio, há 39 anos. De certa forma, estes utentes representam um bocado da nossa história e, ao mesmo tempo, mostram que conseguimos promover o bem-estar de todos», realça Odete Nunes, elogiando o apoio que lhes tem sido concedido pela Câmara Municipal de Oeiras e pela União de Freguesias de Oeiras, Paço de Arcos e Caxias.

«Esta é uma casa muito grande e, ao contrário do que se passa num lar de idosos, quase nenhum tem autonomia que dispense uma grua e auxiliares», faz notar Odete Nunes, recordando que a Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa (APCL) realizou, há uns anos, obras de reabilitação e ampliação do Centro Nuno Belmar da Costa, em Oeiras, num investimento na ordem dos 1,3 milhões de euros.

«Deste modo, aumentamos a capacidade do espaço para 51 utentes, ficando com uma unidade dedicada ao tratamento de pessoas com paralisia cerebral, com lar residencial e um centro de atividades ocupacionais (CAO), dada a necessidade de aumentar o número de quartos para residentes de 23 para 30», salientou, recordando que foram também criadas zonas administrativas, de tratamentos terapêuticos e psicológicos, a sala de convívio e as instalações sanitárias.


Desporto adaptado

Atualmente, 29 utentes partilham aquele espaço em regime residencial. Para além dos que lá vivem, outros 30 utentes externos, principalmente jovens, deslocam-se até ali para desenvolver as várias atividades que o centro proporciona, como é o caso do desporto adaptado para deficientes. O Centro é, também, uma referência nacional a nível de desporto para deficientes, em homenagem à filha do seu fundador, Nuno Belmar da Costa, que pretendeu «dar um futuro melhor à sua filha e a outros jovens com paralisia cerebral».

O atleta do Centro Nuno Belmar da Costa, João Martins, alcançou duas medalhas na prova de natação dos Jogos Paralímpicos de Atenas. Sem medalhas, mas também com excelente prestação na natação esteve ainda outra atleta do centro, Perpétua Vaz.

Odete Nunes é uma mulher visivelmente satisfeita com aquilo que faz e, ainda, mais satisfeita com a «grande adesão que tem havido a todas as atividades», que dão, aos utentes, «algum significado para a vida, assim como uma perspetiva de integração».

Aliás, as perspetivas futuras que este centro «cria nos utentes», leva Odete Nunes a falar do «despertar para o amor» que já sucedeu neste centro, onde já se realizaram quatro casamentos, 3 entre utentes e um da sobrinha de uma utente que fez questão de se casar «nas nossas instalações».

Mas, os olhos de Odete Nunes voltam «a brilhar», quando fala da «relação, muito especial, e dos laços de amor», criados com as crianças da EB1 António Rebelo de Andrade, que, antes da pandemia, desenvolviam várias atividades com os utentes do centro. E, inclusivamente, conta a história de «um miúdo, com 6/7 anos, que “obrigou” os pais a comprarem um bilhete para assistirem ao espetáculo do grupo de teatro do Centro, porque a sua grande amiga (uma das utentes) ia atuar no Eunice Munoz». Isto, segundo Odete Nunes, demonstra bem «como os nossos utentes estão integrados na comunidade».

Um outro exemplo da resiliência dos utentes é o jornal “Sobre Rodas”, cujo corpo redatorial tem como repórteres os próprios utentes, com textos e fotos relativos a experiências por si vividas, revela Odete Nunes.

Por outro lado, o Centro tenciona, assim que for possível, reativar uma nova edição do Cativ’arte (Colónia de férias Artística Inclusiva).

Valências para todos

O Centro Nuno Belmar da Costa é um Equipamento Social com as seguintes valências: Lar Residencial (29 utentes); Centro de Atividades Ocupacionais (51 pessoas), prestando serviço a clientes internos e externos, com áreas de intervenção transversais (psicologia, fisioterapia, terapia ocupacional), atividades permanentes (ateliers, educação física e desporto, atividades cívicas e religiosas, atividades pedagógicas) e ainda atividades pontuais (passeios, festas, sessões culturais, etc.).

O Centro coloca ao dispor dos utentes um conjunto de serviços, tais como: enfermagem, serviço social, psicologia, fisioterapia, desporto, atividades pedagógicas.

As atividades ocupacionais são diversificadas e adaptadas a cada uma das situações particulares, abrangendo não só as atividades oficinais (ateliers), englobando cerâmica, pintura, decoração, e tem ainda atividades úteis para a comunidade interna e externa: atendimento telefónico, trabalhos administrativos, jornal do CNBC (Sobre Rodas).

O espaço em si

Os edifícios e espaços que são hoje ocupados pelo Centro Belmar da Costa, no núcleo mais central do Bairro Residencial de Nova Oeiras, perfazendo o corpo a sul do chamado “Átrio Comercial”, foram nos inícios dos anos de 1960 desenhados e construídos para uma estalagem, dentro das linhas gerais do bairro, como arquitetura moderna.

Várias obras de artes plásticas com preocupação estética, no sentido e valorização do conjunto, foram então aplicadas: os dois longos painéis de azulejos, o chamado “Painel do Sol”, revestindo a frontaria virada a norte, e um outro do lado sul, foram concebidas por Rogério Ribeiro (e restauradas cerca de 2005, sob sua orientação); e o pavimento em tradicional calçada à portuguesa, foram executados nas esplanadas públicas a norte (refeito em 2006) e a sul (ainda existente) do corpo principal do edifício.

No seu conjunto, a atual edificação e seus espaços envolventes espelham bem o gradual processo de adaptação funcional sucedido ao longo das décadas, com o desenvolvimento volumétrico planeado e conduzido por vários arquitetos, e várias obras de arte pública valorizadoras – sempre com a maior preocupação de harmonizar as novas necessidades com a qualidade de arquiteturas, espaços e ambientes existentes.

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