VILLA DE OEIRAS POR TERRAS DE VERA CRUZ «MISTURADOS» COM «FRUTA» DO CAJUEIRO

Quando o assunto é bebida, cada um tem a sua forma de a «bebericar» e «acompanhar». Mas, quando se trata de degustar, «com todos os requintes», um Villa de Oeiras nada melhor que o «fruto» do cajueiro para o acompanhar. É, desta forma que no mais pequeno Estado brasileiro, o Sergipe, os apreciadores saboreiam esse néctar tipicamente português.

Quando em 1750 o rei de Portugal, D. José I, escolheu Sebastião José de Carvalho e Melo – conde de Oeiras e futuro marquês de Pombal – para ocupar o cargo de primeiro-ministro, não se apercebeu que estava a dar poder a um estadista que iria iniciar um novo capítulo da história do Brasil, deixando uma herança que ainda hoje se perpétua em alguns estados brasileiros.

Hoje, passados quase 300 anos, o legado deixado pelo Marquês de Pombal “iniciou” uma nova fase das relações vinícolas/comerciais com esse país irmão da América do Sul, levando os vinhos cultivados na quinta do Marquês de Pombal, o Villa de Oeiras, às Terras de Vera Cruz para revolucionarem os hábitos de degustação das gentes do Estado brasileiro de Sergipe-Aracaju.

Acompanhado pela “fruta” de caju (alimento básico das populações autóctones, muito antes da chegada dos portugueses ao Brasil), o Vila de Oeiras «transforma-se» numa verdadeira bebida dos Deuses em Aracaju, a capital do pequeno Estado de Sergipe, situado na Região Nordeste do Brasil e que tem por limites o oceano Atlântico a leste e os estados da Bahia, a oeste e a sul, e de Alagoas, a norte, do qual está separado pelo Rio São Francisco.

Pela “cabeça” do Marquês de Pombal, que nunca esteve no Brasil, mas cujas ações como Primeiro-ministro tiveram reflexos imediatos no país, jamais passou “a ideia” de três séculos volvidos o néctar dos Deuses produzido na sua quinta de Oeiras influenciasse os hábitos de degustação desse pequeno Estado paradisíaco brasileiro, com 200 km de praias, algumas “celestiais”, onde a civilização não se desenvolveu ainda. Em direção ao sul de Aracaju, encontram-se as praias de Coroa, Meio e Atalaia Velha, famosas pela quantidade e o tamanho de seus caranguejos, que chegam a alcançar 25 cm de diâmetro. Ainda na direção sul, estão as praias dos Náufragos, Abaís e Caueira, todas ainda com baixo índice de exploração comercial, e na divisão dos Estados de Sergipe e Bahia encontram-se as dunas de areia da praia do Saco.

O Estado de Sergipe é conhecido por suas paisagens deslumbrantes, monumentos históricos e, como descrevem os panfletos turísticos, pela «explosão de cores e sons nas suas manifestações populares», possuindo grandes faixas de areia, manguezais, estuários e águas mornas, agraciando a todos que visitam com um espetáculo encantador e natural.

Um paraíso para os amantes da pesca


Melhor ainda é que o clima quente da região, com temperatura média anual de 26ºC, permite que se aproveitem também as praias e os rios para pescarias, que proporcionam momentos de paz e tranquilidade. As fozes de rios são muito procuradas pelos pescadores de praia do estado, já que elas possuem profundidade sem a necessidade de grandes arremessos.

A vegetação de Sergipe pode ser dividida entre a porção húmida, a árida e a transição entre as duas. No litoral predominam os mangues, que sobrevivem num ambiente com características muito próprias. As raízes aéreas são adaptações para o solo pobre em oxigênio. Nos mangues pretos e brancos as raízes emergem de baixo do sedimento em direção ao ar, e mesmo durante a maré cheia suas extremidades ficam expostas ao ar possibilitando as trocas gasosas, essas raízes são chamadas pneumatóforos. Já o mangue vermelho apresenta expansões no caule principal contendo lenticelas, que são buracos por onde são feitas as trocas gasosas.

Para eliminar o excesso de sal as árvores do manguezal apresentam glândulas em suas folhas, por isso são chamadas plantas halófitas.

O manguezal possui uma variedade de nichos ecológicos, abrigando uma fauna diversificada, funcionando como um verdadeiro “berçário da natureza”, pois apresenta condições ideais para reprodução e desenvolvimento de formas juvenis de várias espécies, principalmente crustáceos e peixes. e industrial. O uso sustentável desse ambiente é fundamental para que ele exerça seu papel ecológico e econômico.

Além das praias e atrações do principal polo turístico do estado, a capital Aracaju, as cidades históricas de Sergipe também são pontos turísticos relevantes. A cidade de São Cristóvão, quarta cidade mais antiga do país, foi tombada* pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional desde janeiro de 1967, preserva prédios históricos e conta com vários museus onde há importantes partes da história sergipana. Recentemente a Praça São Francisco, tornou-se Patrimônio Cultural da Humanidade. Outra cidade histórica de Sergipe, é o município de Laranjeiras, conhecido por também possuir construções antigas que aos poucos estão sendo recuperadas, alguns desses prédios são igrejas datadas dos séculos XVII e XVIII, como por exemplo a Igreja Matriz Sagrado Coração de Jesus. O município também é conhecido por seus eventos culturais, como por exemplo o Encontro Cultural de Laranjeiras, o qual conta com teatro de rua, grupos folclóricos, cordel, palestras, seminários e bandas culturais e populares.

Turismo reforçado com Villa de Oeiras

Apesar de nunca ter sonhado «misturar» os vinhos da sua quinta de Oeiras com o «pseudofruto» do cajueiro, o Marquês de Pombal, um dos estadistas mais influentes da história portuguesa, veria com agrado e, inclusivamente, incentivaria este reforçar de «laços vinícolas» entre duas regiões com inúmeras potencialidades turísticas.

Mesmo tendo em conta que, quando se trata de bebidas, cada um acompanha com o que quer, Sebastião José de Carvalho e Melo, um déspota esclarecido, marcado pelo iluminismo e que acabou com a escravatura em Portugal e no Brasil, salientaria que, nada melhor que a «pseudofruto» de caju (um excelente aliada da saúde por ser rico em gorduras e em minerais como magnésio, ferro e zinco) para criar «o tal equilíbrio» entre sabores, para que um não se sobreponha ao outro e, assim, criar-se um terceiro sabor, surpreendente em todos os sentidos, unindo os sabores de Portugal ao Brasil.

Ligação perfeita

«Os vinhos de Carcavelos têm uma fantástica acidez, remetem a aromas de frutos secos e mel e não levam absolutamente nada de artificial», referem os enólogos e, por isso, «ligam bem» com este «pseudofruto», rico em vitamina C e ferro e a partir do qual se produz sumos, mel, doces, como cajuada, caju passas, rapadura de caju.

Produzido na mais pequena região de vinícola de Portugal, situada nos concelhos de Oeiras e Cascais, o Villa de Oeiras é «elaborado», desde 2001, pela Câmara Municipal de Oeiras em parceria com o Instituto Nacional de Investigação Agrária, na Adega do Palácio Marquês de Pombal, onde envelhecem.

Arinto, Galego Dourado e Ratinho são as três castas do vinho de cor de mel, deste vinho tipicamente português, mas criado no século XIV por um irlandês. Sir Paul George – um negociante que vivia na região e resolveu fazer algumas alterações nas características do vinho local para agradar o paladar dos britânicos, que preferiam vinhos mais licorosos. Ele é fortificado com a aguardente da Lourinhã e, assim como o “Porto”, o “Madeira” e o “Moscatel de Setúbal”, faz parte do grupo dos vinhos generosos portugueses.

O vinho de Carcavelos pode ser consumido tanto com os aperitivos, antes da refeição, ou como digestivo à hora da sobremesa. Como aperitivo o Carcavelos o Villa de Oeiras deve estar a uma temperatura de 10º ou 11º, já como digestivo a temperatura deve ser um pouco mais alta, 15º ou 16º.

Na Garrafeira Vinhos de Carcavelos pode encontrar as três variedades do Villa Oeiras. O Carcavelos Villa Oeiras estagia na barrica de carvalho durante sete anos. O Villa Oeiras Superior fica mais do dobro do tempo a estagiar nas barricas, 15 anos. Já o Villa Oeiras Colheita é um vinho mais complexo e, ao contrário dos outros dois, é produzido a partir de uma só colheita. Ele é mais especial e encorpado e a sua produção feita a partir da colheita de 2005 foi limitada a mil garrafas.

Um manjar divinal

Mas, afinal o que é este «pseudofruto» que liga tão bem com o Villa de Oeiras, enquanto se aprecia «um manjar divinal». Como explicam os entendidos, o caju é muitas vezes tido como o fruto do cajueiro (Anacardium occidentale) quando, na verdade, trata-se de um pseudofruto, ou seja, é constituído por duas partes: o fruto propriamente dito, que é a castanha; e seu pedúnculo floral, o pseudofruto, um corpo piriforme, amarelo, rosado ou vermelho.

O fruto propriamente dito é duro e oleaginoso, mais conhecido como “castanha de caju”, cuja semente é consumida depois de ser assado, para remover a casca, ao natural, salgado ou assado com açúcar.

Apesar da castanha de caju não possuir quantidades relevantes de vitamina A, vitamina D e cálcio, acredita-se que a castanha do caju contribua no combate às doenças cardíacas.

*[Brasil]  Transformar em património oficial público ou pôr sob tutela do poder públicopor reconhecimento de valor histórico (ex.: é possível tombar bens móveis e imóveispúblicos ou privados).

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