OS MERCADOS MUNICIPAIS EM PORTUGAL – QUE FUTURO(S)?

As evoluções verificadas nos mercados municipais, tanto a nível da oferta comercial, com o aparecimento de novos formatos, obrigam uma nova abordagem desses espaços que constituem uma referência incontornável da cidade e do seu centro histórico.Os mercados municipais constituem-se como referência incontornável das cidades e dos seus centros históricos. A realidade actual, por vezes, referida como um declínio irreversível do formato comercial no panorama do sector do retalho no nosso país, mercê também do facto de serem relegados para segundo plano nas prioridades da organização e gestão das próprias autarquias e dos respectivos serviços municipais, merece uma abordagem distinta, mais inovadora, inclusive no sentido de prospetivar novo(s) futuro(s) para os mercados.

As evoluções verificadas, tanto a nível da oferta comercial, com o aparecimento de novos formatos, bem como as mudanças de comportamento e hábitos de compra, aliadas às necessidades e prioridades da sociedade atual, constituem-se como fatores marcantes do presente (e, decerto, do futuro) dos Mercados Municipais no panorama do sector da distribuição.

As dinâmicas territoriais serão, acima de tudo, o corolário das dinâmicas evidenciadas pelos respetivos atores, sendo que pelo enquadramento que os Mercados Municipais detêm nos espaços urbanos em que se inserem, tratar-se-á de um equipamento com múltiplas potencialidades, algumas desconhecidas, muitas ignoradas e tantas outras, ainda, por explorar.

Os diagnósticos já efetuados, mais ou menos aprofundados, mais ou menos fundamentados, mais ou menos atualizados, permitem evidenciar uma situação de referência que se consubstancia num enorme desafio, o qual poderá ser superado, ou não, de acordo com o “investimento” que efetivamente se pretenda levar a efeito.

Traçar cenários para aquilo que poderão ser os Mercados (Municipais?) em 2030, mais do que um exercício de prospetiva, constitui uma via conducente à sensibilização e alerta dos diversos atores envolvidos no “problema”, sendo que o que importa enaltecer é o papel e a(s) responsabilidade(s) que cada um – Administração (Central e Local), Estruturas Associativas, Operadores / Comerciantes e (…) outros, irá protagonizar em qualquer um dos cenários (e suas derivações) delineados.

Neste contexto, identificadas algumas das funções, porventura, menos percetíveis dos Mercados (fomentam economias de escala, regulam a concorrência local e os preços, geram efeitos no espaço envolvente, funcionam como plataforma de distribuição da produção local, etc.), não descurando uma análise SWOT suscetível de reunir largo consenso, importará elencar um conjunto de questões, tidas como pertinentes, e cuja discussão e reflexão conjunta, por parte dos atores envolvidos e/ou a envolver, ajudará a desenhar e fundamentar os cenários prováveis.

Num primeiro nível, poder-se-ão colocar questões como sejam, por exemplo: Será que a extinção dos Mercados poria em causa o abastecimento das populações locais?; Haverá mercado para os Mercados?; Conhecerão os seus clientes e respetivas necessidades?; Serão um formato comercial sustentável?; Terão as Câmaras Municipais vocação para gerir “Comércio”?; Deverão os Mercados permanecer Municipais?.


Num outro nível, surgem outras questões (ou hipóteses de trabalho), para perspetivar futuros possíveis, como por exemplo: Devem ser encarados como espaços relacionais e “estruturadores” de bairros, vilas e cidades?; Devem ser transformados no expoente máximo da “qualidade de vida”, por via da aceitação da sua credibilidade como principal meio de abastecimento saudável de produtos frescos?; Constituí-los como loja-âncora do centro das cidades?; Privilegiá-los como “veículo” de divulgação e envolvimento ativo das populações locais, em temas emergentes relacionados com “saúde pública urbana” (segurança alimentar, ambiente, assistência/apoio social, comércio justo, etc…)?

Da reflexão resultante das vastas “possibilidades” que as questões colocadas sugerem, bem como daquilo que tem sido e que se conhece do pensamento dominante por parte dos vários atores, resultará uma síntese de ideias, conceitos, pensamentos e/ou meras opiniões, mas que se afiguram determinantes como elementos-chave cruciais para o pretendido exercício de cenarização.

Em síntese, os cenários possíveis para os Mercados, para o horizonte temporal de 2030, poderão ser descritos, com base em narrativas próprias, da seguinte forma:

  • Cenário 1 – Investir Desistindo (“Não os Matem, que Eles Morrem”)
  • Cenário 2 – Investir Desinvestindo (“Vão-se os Anéis, Ficam os Dedos”)
  • Cenário 3 – Investir Coexistindo (“Se Não os Vences, Junta-te a Eles”)
  • Cenário 4 – Investir Investindo (“(…) Via Barcelona”)

Comum a todos os cenários surge o termo “investir”, no sentido de tentar contribuir para uma melhor sensibilização dos atores para a ação, seja pela mera inação (Cenário 1), seja pela simples manutenção do status quo (Cenário 2), seja pela crescente interiorização das dinâmicas atuais e emergentes do setor do Comércio (Cenário 3), seja, por último, pela indispensável consciencialização de que também nos Mercados, para acautelar o seu futuro, é crucial investir em inovação e empreendedorismo (Cenário 4).

Autor | João Barreta (Ex-Diretor Municipal das Atividades Económicas da CML)

 

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