O Projeto Família Global (PMG) é umas das instituições de apoio social mais antigas do concelho de Oeiras. Constituído no dia 18 de abril de 1998, teve na sua génese a constatação no terreno das graves lacunas socioeconómicas que grande parte da população dos bairros de barracas de Outurela/Carnaxide ainda registava no final do século XX.
Nascido no seio das associações de pais, cresceu no epicentro de um quadro social alarmante para inverter o abismo de pobreza que grassava no bairro, em que se registavam inúmeras situações de crianças que nunca tinham frequentado a escola, em que o insucesso escolar era “norma”, nomeadamente com uma elevada taxa de repetências no 1.º, 2.º e 3.º ciclos, mas também com elevadas taxas de abandono escolar dos jovens com idade igual ou superior a 15 anos (sem diploma ou habilitação escolar), crianças estas que provinham de famílias destruturadas, sem habilitação de base ou formação profissional e em exclusão social, em que se registava um preocupante “aumento da delinquência juvenil e marginalidade”.
E foi então que as associações de pais resolveram intervir ativamente. Decidiram não se limitarem a ser parceiros educativos na escola, mas a ultrapassarem essa fronteira. “O desenvolvimento e a implementação de parcerias informais através do envolvimento de mães, pais e grupos de moradores, permitiram o levantamento e estudo de casos de famílias, suas crianças, jovens e idosos que viviam em condições de exclusão. Este trabalho foi a base do nosso Projeto integrador de prevenção comunitária, explica a secretária e porta-voz do projeto.
Nascido no “coração” dos problemas
Antes da sua constituição, percorreu um longo caminho que lhe permitiu conhecer as realidades sociais que se impunha apoiar e criar alicerces sólidos para a prossecução dos seus objetivos de combate à pobreza e exclusão social em que, grande parte da população, então, se encontrava.
À data da sua formação, o local escolhido para o desenvolvimento do projeto abrangeu as famílias localizadas nos núcleos de barracas dos Bairros de Alto do Montijo, Alto dos Barronhos, Pedreira dos Húngaros, Quinta dos Sales, Salregos e os Bairros de realojamento social de São Marçal e Moinho da Portela, integrando-se no terreno, desde o início, na dura realidade social do bairro. Começou por ter como instalações um contentor, localizado no meio do bairro de barracas que existia onde hoje é o pavilhão Carlos Queiroz, passando a ocupar, numa segunda fase, um moinho recuperado pela Câmara Municipal de Oeiras.
Isabel Ribeiro, engenheira civil de formação, assume que o PFG tem sido edificado graças à “versatilidade” dos seus dirigentes e revela que não raras vezes é a própria equipa a realizar as obras e os melhoramentos nas várias valências de que a associação dispõe (loja solidária, creche, clínica social, entre outras), uma vez que o orçamento não dá margem de manobra para “esticar” com “extravagâncias” como a contratação de um pedreiro ou um eletricista, por exemplo. “Somos nós que deitamos mãos à obra e fazemos as coisas acontecerem. Levantamos paredes, pintamos, tratamos da eletricidade, enfim, fazemos quase de tudo para evitar de gastar dinheiro que depois pode fazer falta para ajudar quem mais precisa”, anota.
Combate à exclusão
O PFG é hoje um dos alicerces sociais dos moradores do bairro de Outurela e um parceiro fundamental para retirar da marginalização social muitos dos moradores que continuam a bater à porta do projeto. Presta apoio alimentar a quase 600 pessoas, 191 crianças, mas vai mais além e é também a porta a quem muitos dos moradores recorrem para resolver problemas do dia a dia e com as quais não conseguem lidar. O Gabinete de Apoio à Família ajuda “no preenchimento de documentos”, na elaboração de currículos, dos pedidos de pensão de reforma, no pagamento de contas, entre muitos outros, mas Isabel Ribeiro acredita que, com o avançar dos anos, os moradores consigam fazer face a este tipo de contrariedades mediante os aumentos de literacia da população local pretendido pela PMG.
Atualmente. encontra-se instalado em vários espaços comerciais que foram adaptados aos diferentes serviços, aguardando-se, desde 2011, a conclusão das novas instalações do Centro Comunitário da Portela, responsabilidade da C.M. de Oeiras, onde passará a funcionar.
Depois de fazer uma visita guiada ao Olhares de Carnaxide e Queijas pelas instalações do projeto, Isabel Ribeiro mostrou, com orgulho, as várias valências do PMG, mas lamentou que a Clínica Social, que tem tudo do melhor em termos de equipamentos médicos e uma instalações de fazer corar de vergonha muitas clínicas privadas, esteja a funcionar apenas a “meio gás”, já que apenas o serviço de optometria (onde são prestadas consultas gratuitas e onde se providenciam óculos gratuitamente) recebe a visita de um profissional de saúde. “Este consultório de dentista foi construído por nós. Tem equipamentos muitos bons (oferecidos por várias empresas), mas tem um grande problema: não tem um médico dentista. Já batemos a muitas portas e ainda não conseguimos angariar um voluntário. Aproveito para pedir a ajuda de algum médico dentista que nos queira ajudar”, conclui.
NR: Artigo a desenvolver na edição impressa de Olhares de Carnaxide e Queijas – Abril