Na freguesia de Alcântara, onde se conspirava contra a monarquia e se planeavam formas de instaurar a república em Portugal, foi inaugurada ontem uma nova Biblioteca que se pretende constituir como um centro cultural de proximidade, assente no livre acesso à cultura.
No Palacete dos Condes de Burnay, em Alcântara, Lisboa, «nasceu» no dia da implantação da República uma nova biblioteca que, como afirmou o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, assenta nos princípios republicanos em que «os homens nasceram todos iguais e que não deviam existir privilégios de nascimento».
Assim, no antigo palacete do século XIX (alvo de um projeto de requalificação da arquiteta Margarida Grácio Nunes, sendo complementado com uma peça escultórica do artista plástico José Pedro Croft, no jardim) foi inaugurado hoje a nova Biblioteca Municipal de Alcântara que, conforme salientou a vereadora Catarina Vaz Pinto, pretende ser um espaço «de pontes entre a cidade e a cultura».
Valorização do património histórico
David Amado, presidente da Junta de Freguesia de Alcântara, lembrou que a inauguração desta biblioteca, num «dia tão simbólico como é o da implantação da República», só valoriza o património histórico da freguesia, onde os ideais republicanos cedo se implantaram, nomeadamente com a criação de um dos primeiros centros republicanos: a Sociedade Promotora da Educação e da Cultura.
De facto, em Alcântara começou-se muito cedo a conspirar-se contra a monarquia, planeando-se formas de instaurar uma república em Portugal, o que viria a suceder a 5 de outubro de 1910. Também durante o período da ditadura salazarista, Alcântara albergava vários grupos revolucionários, fortemente reprimidos pelo regime.
Agora, volvidas quase seis décadas, a Biblioteca de Alcântara localiza-se na Rua José Dias Coelho, nº 29, e hoje, 5 de outubro, e uma exposição de pintura de Emília Dias Coelho, sua irmã, foi inaugurada na Galeria da Biblioteca de Alcântara.
Ideais republicanos…
O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, por seu turno, considerou que «esta inauguração simboliza, de certa forma, os ideais republicanos», ao dar a primazia «à cultura, à educação e ao conhecimento», como forma de «combater as desigualdades sociais e promover a transformação de uma sociedade».
Para o autarca, este espaço é um símbolo da liberdade, da democracia, da cultura e da educação, assegurando que «todos os cidadãos são cidadãos de corpo inteiro».
Multifacetada, esta biblioteca – salientou Fernando Medina – «amplia as realizações da cidadania e da cultura», albergando no seu seu seio, para além dos livros, «espaços de exposições, teatro, uma universidade sénior e várias outras atividades que afirmam a cidadania».
A 3ª biblioteca de Lisboa
A terceira grande biblioteca de Lisboa, a seguir à das Galveias e de Marvila, a de Alcântara «encarna» os principais princípios republicanos e, daí a sua inauguração no Dia da República, referiu Fernando Medina, explicando que, para os republicanos «todos os cidadãos nascem iguais e não tem privilégios de nascimento».
Susana Silvestre, responsável das Bibliotecas de Lisboa, e Ana Santos, coordenadora da Biblioteca de Alcântara, fizeram questão de sublinhar que as «as bibliotecas de Lisboa tem trabalhado no acesso ao conhecimento e à informação», contando sempre com a participação da comunidade para «pensarem» estes espaços culturais.
Entre as parcerias já firmadas, destacam-se as estabelecidas com a Junta de Freguesia de Alcântara, a Universidade Alcântara Sénior e a Associação Cultural Cusca – Cultura & Comunidade.