COMUNIDADE VIDA E PAZ ESTÁ A REUNIR POPULAÇÃO SEM ABRIGO EM FESTA DE NATAL

A Comunidade Vida e Paz está a organizar, até esta segunda-feira, dia 18 de dezembro, a sua 35ª Festa de Natal, que tem como objetivo juntar a comunidade sem abrigo e proporcionar um almoço de Natal. O encontro tem lugar na Cantina dos Serviços Sociais da Universidade de Lisboa, na Cidade Universitária. Neste domingo, dia 17, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Carlos Moedas, marcou presença neste almoço, onde teve a oportunidade de ouvir algumas necessidades da população sem abrigo.

A 35ª Festa de Natal da Comunidade Vida e Paz começou no último sábado, 16 de dezembro, e prolonga-se até esta segunda-feira, dia 18, na Cantina dos Serviços Sociais da Universidade de Lisboa, na Cidade Universitária. Segundo a diretora-geral desta instituição, Renata Alves, ao Olhares de Lisboa, esta iniciativa tem como objetivo “permitir aos nossos convidados” – ou seja, “as pessoas que estão em situação de sem abrigo e em situação de vulnerabilidade” – de aceder não apenas a uma refeição, mas também a serviços onde podem tratar do Cartão de Cidadão, rastreios de saúde, barbeiro, cabeleireiro, entre outros.

No total, foram entregues cerca de 900 convites para esta Festa de Natal. Por sua vez, este evento conta ainda com a parceria de instituições como a Segurança Social, o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) ou a Santa Casa da Misericórdia. “O que pretendemos fazer é dar dignidade às pessoas nestes três dias”, prossegue Renata Alves. Durante os três dias do evento, estarão ao serviço cerca de 1500 voluntários da Comunidade Vida e Paz.

Carlos Moedas almoçou com a população sem abrigo

Neste domingo, dia 17 de dezembro, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Carlos Moedas, esteve presente nesta Festa de Natal. Aqui, o autarca teve a oportunidade de almoçar com a comunidade em situação de sem-abrigo, ouvindo algumas das suas necessidades. “Estive presente neste almoço, primeiro pelo trabalho da Vida e Paz, que tem feito um trabalho único na cidade de Lisboa, e como nós estamos a lançar o nosso Plano para as Pessoas em Situação de Sem-Abrigo, que é um plano de 70 milhões de euros, foi também o momento para falar com as pessoas e ouvir as suas dificuldades”, explicou o presidente, no final da visita, ao Olhares de Lisboa.

Executivo Municipal aprovou Plano para as Pessoas em Situação de Sem-Abrigo

Carlos Moedas disse ainda que, atualmente, a Câmara de Lisboa acompanha diariamente cerca de 1000 pessoas em situação de sem abrigo. No entanto, o objetivo passa por chegar “às 1700”. O Plano para as Pessoas em Situação de Sem-Abrigo foi aprovado esta semana em reunião do executivo, com o voto contra do Bloco de Esquerda (BE) e as abstenções do PCP e do Cidadãos por Lisboa. O documento contou ainda com os votos a favor dos vereadores da coligação Novos Tempos, do PS e do Livre. A vereadora do BE, Beatriz Gomes Dias, considera que este plano só vai trazer mais respostas apenas a partir de 2026, e pede medidas urgentes para responder ao aumento de pessoas a viver nas ruas.

Ao nosso jornal, Moedas desvaloriza estas acusações, garantindo que começará a existir mais respostas já a partir do próximo ano. Por sua vez, estas respostas passam pelo ‘housing first’, criação de mais centros de abrigo e de apartamentos partilhados. “Isso é a política no seu pior. É um plano que foi feito com mais de 300 pessoas que vivem nesta situação”, explicou o presidente. Carlos Moedas acrescentou ainda que este plano irá “multiplicar por dois o número de pessoas que vamos acolher, durante os próximos sete anos. O nosso intuito é passar de 1500 respostas de acolhimento para 1700”.

Comunidade Vida e Paz tem 35 anos de atividade

“A Comunidade Vida e Paz é uma Instituição Particular de Solidariedade Social que vai fazer 35 anos” em 2024. Esta instituição, sublinha Renata Alves, desenvolve o seu trabalho junto da comunidade sem-abrigo e das pessoas em situação de vulnerabilidade social, “ajudando-as a definir um projeto de vida”. O objetivo é “devolver a pessoa à sociedade e devolver a sua dignidade”, reforça Renata Alves. Quando a Comunidade Vida e Paz surgiu, há 35 anos, havia “muitas pessoas a apresentarem a problemática de toxicodependência e do alcoolismo”.

Por isso, a instituição procurou imediatamente, “criar respostas que permitissem a recuperação e reabilitação” destes cidadãos. Atualmente, a Comunidade Vida e Paz conta com 22 respostas, divididas em três eixos. O primeiro diz respeito ao acolhimento das pessoas em situação de sem-abrigo. O segundo refere-se à reabilitação e tratamento. Neste sentido, a instituição conta com duas comunidades terapêuticas, com capacidade para 135 pessoas, e que tem como propósito o “tratamento ao nível das adições”. Há ainda duas comunidades de inserção, sendo que uma tem capacidade para 65 pessoas, e outra consegue acolher até 17 cidadãos.


Já o terceiro eixo está relacionado com a reinserção social. Para isso, explica Renata Alves, “a Comunidade Vida e Paz dispõe de uma série de apartamentos”. Desta forma, é possível promover a inserção da população sem abrigo na sociedade. “Neste momento, estamos a acompanhar, em Lisboa, mais de 500 pessoas em situação de sem abrigo. Este número, comparativamente ao ano anterior, aumentou mais de 25%”, acrescentou a diretora-geral da Comunidade Vida e Paz.

Instituição conta com quatro equipas de voluntários

Por outro lado, reforça ainda que muitos dos problemas que levam, nos dias de hoje, à condição de sem abrigo já vão para além das adições. Atualmente, sustenta a responsável, estas pessoas apresentam problemas como o “desemprego, a falta de habitação, a doença mental”, entre outros. A Comunidade Vida e Paz conta com quatro equipas de voluntários que, todas as noites, “percorrem mais de 100 pontos na cidade”. Esta instituição conta ainda com vários centros de acolhimento, onde todas as pessoas sinalizadas pelos voluntárias e “outras que aí se dirigem, podem fazer a sua higiene, a sua refeição, bem como ser acompanhadas por um técnico que possa definir um projeto”.

Sobre o trabalho dos voluntários, a responsável sublinha que existe a preocupação de “estabelecer uma relação de confiança, uma palavra amiga para que as pessoas se sintam verdadeiramente acolhidas e que possam acreditar que é possível mudar”. Por fim, Renata Alves apela ainda a que exista mais apoio por parte do Estado, uma vez que “os recursos que a instituição tem cada vez são menores, atendendo ao aumento do custo de vida e também da diminuição de donativos. E se assim continuarmos, será muito difícil mantermos o acompanhamento e os serviços que temos”.

A Comunidade Vida e Paz é uma instituição sem fins lucrativos e tutelada pelo Patriarcado de Lisboa. Para este ano, conta com um orçamento a rondar os 500 mil euros.

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