JARDIM BOTÂNICO DE BELÉM JÁ REABRIU AS PORTAS

O Jardim Botânico Tropical, em Belém, abriu portas com espaços renovados, um ano depois de ter fechado para a primeira de quatro fases de reabilitação. Hoje, ainda pode visitar gratuitamente este espaço.

O Jardim Botânico Tropical, um dos três parques botânicos da Universidade de Lisboa (UL), reabriu este sábado ao público, com música, cultura e visitas guiadas, numa sucessão de atividades que vão preencher todo o fim de semana.

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, congratulou-se com o facto da primeira fase das obras de reabilitação deste «jardim histórico, cultural e ambiental» terem sido concluídas «no ano em que Lisboa é Capital Verde Europeia», defendendo que este é mais um espaço que Lisboa, mais propriamente a Universidade, coloca ao dispor dos alfacinhas e de quem visita a cidade.

Além de Fernando Medina, estiverem presentes na cerimónia de reabertura deste Jardim, criado em 25 de janeiro de 1906 por decreto régio, então com a denominação de Jardim Colonial, o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, o reitor da Universidade de Lisboa, António Cruz Serra, e o presidente do Centro Cultural de Belém, Elísio Summavielle.

Com cerca de cinco hectares, o jardim já não «tinha obras de reabilitação desde a década de 1940, aquando da realização da Exposição do Mundo Português», explicou o reitor Cruz Serra, revelando que as outras três fases estão programadas para os próximos anos – algumas deverão começar em breve, mas já não vão obrigar ao encerramento do Jardim.

Apesar de não ser o dono da obra, Fernando Medina, fez questão de realçar que esta intervenção foi «bastante profunda», sublinhando que este é «mais um espaço devolvido à cidade de Lisboa».

O presidente da Câmara de Lisboa revelou, ainda, que vão ser concluídas, ao fim de 200 anos, as obras do Palácio da Ajuda e que vai ser criada uma «linha de elétrico entre Belém e o palácio».


Já o ministro Manuel Heitor salientou «o valor histórico e científico» deste espaço, lembrando que este «é um espaço de ciências da Universidade de Lisboa».

«Há uma função científica muito importante, ligada à universidade e à pesquisa, mas há também uma quantidade de informação histórica que está patente, que se consegue interpretar através dos diferentes tipos de vegetação e dos diferentes traçados dos caminhos, e que explicam muito da história de como os portugueses estiveram no mundo e a sua influência na troca de plantas no mundo. É um manancial importante para o jardim funcionar e ser mais atrativo para as pessoas», realçou.

Até final de 2021 vai estar em obras

O Jardim Botânico Tropical, que desde 2015 integra a Universidade de Lisboa, vai ainda ter obras nos próximos anos ao nível dos edifícios, afirmou o reitor Cruz Serra.

«Esta primeira intervenção ultrapassou os 1,5 milhões de euros e depois quando começarmos a juntar as outras intervenções – a recuperação do restaurante colonial, as instalações dos jardineiros, a recuperação da estufa principal, o Palácio dos Condes da Calheta e outros -º estamos a falar de mais do dobro, seguramente», afirmou, revelando que o projeto de reabilitação, avaliado em cerca de 60 mil euros, foi oferecido pelo Centro Cultural de Belém.

«Agora inicia-se a segunda etapa, que visa a recuperação de nove edifícios emblemáticos do jardim que estão a precisar de obras, num investimento de sensivelmente mais dois milhões de euros de euros – no final, o custo global há de ascender a mais de três milhões de euros -, e que o reitor espera que possa estar concluída até final de 2021.

​​​​​Um dos edifícios cujas obras vão avançar em breve é a Casa de Chá, que foi construída para a famosa Exposição do Mundo Português, de 1940, onde funcionou como Restaurante Colonial, servindo as diferentes gastronomias das antigas colónias. Sucessivamente adaptado a Casa de Chá e a laboratório científico do antigo Instituto Investigação Científica e Tropical (IICT), vai voltar a ser espaço de restauração. “Espero que possa reabrir em janeiro do próximo ano”, estima Pinto Paixão, vice-reitor da UL com o pelouro do património da universidade.

Hão de seguir-se os outros edifícios todos. Entre eles, a casa dos jardineiros, a estufa principal, um edifício original do princípio do século XX, ou ainda o velho Palácio dos Condes da Calheta.

Luís Paulo Faria Ribeiro, arquiteto paisagista responsável pela intervenção, defende que o Jardim Botânico Tropical é único no contexto dos jardins de Lisboa e até do país pela quantidade de informação e pela evolução histórica que tem. «Os jardins têm de ser vistos sempre como entidades vivas e dinâmicas, que estão sempre a transformar-se – reagem à pressão do público e da utilização», refere.

Origens

O jardim tem origem nas quintas Belenenses, com ligação às cortes portuguesas, e mais tarde, com a República, passa a Jardim Tropical. «Todas estas etapas iam sendo descobertas quando estávamos a fazer as infraestruturas. Descobrimos sistemas de drenagem antigos do século XIX. Mesmo tecnicamente há camadas de informação. Fomos tomando decisões para não comprometer, nem destruir o que existe e aceitar a evolução do jardim, salientou o arquiteto Luís Ribeiro.

Mais de um século depois da sua criação, existem hoje ali mais de dois mil espécimes de árvores e arbustos de cerca de 700 espécies tropicais e subtropicais, oriundas de todo o mundo, 16 das quais são espécies em risco – sete têm estatuto de “ameaçadas”, e outras nove são “vulneráveis”. A sua presença viva no jardim é uma garantia suplementar para o seu futuro.

«O jardim tem poço próprio e o sistema de circulação da água foi todo renovado para ser eficiente e sustentável do ponto de vista energético», explica Pinto Paixão, vice-reitor da UL com o pelouro do património da universidade, de quem depende diretamente este tipo de intervenções.

«Foi feita a reparação e substituição de tubagens, canais e condutas degradados para acabar com as perdas de água, que eram muitas», adianta. A instalação de um sistema de bombagem, que conduz a água para a parte alta do parque, permite que, a partir daí, e apenas por ação da gravidade, se faça a circulação da água para todo o jardim, minimizando o consumo de energia.

Hoje, domingo, o jardim pode ser visitado gratuitamente, havendo três visitas guiadas: «Plantas do Jardim Botânico Tropical e seus habitats naturais» (11H00), «Jardim Renascentista» (12H00) e «As plantas do Jardim Botânico Tropical, onde a ciência se concilia com a arte» (14H30). Mais tarde, por volta das 15.30, Manuel Ferreira promete um concerto de guitarra portuguesa, podendo contar ainda com um mercado do mundo, castanhas assadas e street food. Terá também a oportunidade de se juntar aos “Garden Sketchers”: basta levar um caderno, lápis e vontade de desenhar o que o rodeia. O evento termina às 17.00.

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