MANUEL ALVES CARGALEIRO RECEBE MEDALHA DE HONRA DA CIDADE DE LISBOA

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, entregou esta segunda-feira, dia 14 de novembro, a Medalha de Honra da Cidade ao pintor e ceramista Manuel Alves Cargaleiro, de 95 anos, e autor de centenas de obras expostas em Portugal, França e Itália.

A cerimónia teve lugar no Salão Nobre dos Paços do Concelho e contou ainda com a presença de António Ramalho Eanes, antigo Presidente da República, e da sua esposa, Manuela Ramalho Eanes, bem como de outras individualidades. Manuel Cargaleiro manifestou a sua felicidade pela presença do antigo Chefe de Estado, dizendo que esta cerimónia “é das mais importantes” para si, e reforçou a importância que Lisboa teve para si, uma vez que foi a cidade onde cresceu e onde se dedicou às artes. “Passei a minha vida a trabalhar e agora, esta cidade é a minha casa, foi daqui que parti e trabalhei em muitos lados”, reforçou o artista, nascido em 1927 em Vila Velha de Ródão, no distrito de Castelo Branco.

“Há mais de 70 anos que sou feliz nesta vida”, prosseguiu Manuel Cargaleiro, dizendo que passou uma vida a trabalhar, e que por isso, sente “uma grande vaidade” em ser condecorado pela Câmara de Lisboa. A Medalha de Honra da Cidade de Lisboa destina-se a galardoar pessoas singulares ou coletivas, nacionais e estrangeiras, devido aos serviços de mérito que tenham prestado à cidade e que tenham “excecional relevância”.

Para o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, esta cerimónia serve também para mostrar “a admiração unânime pela obra de Manuel Cargaleiro”, mas também para demonstrar o “respeito e estima” pelo artista, “reconhecido em Portugal e no mundo”. “Lisboa quis reconhecer o grande mestre cuja imaginação se misturou com a vida e a figura das nossas cidades, nas suas igrejas, nos seus jardins, nos seus edifícios e até nas estações de metro, como podemos ver em Lisboa ou Paris”, prosseguiu o autarca.

Ainda de acordo com Moedas, a autarquia lisboeta quis homenagear Manuel Alves Cargaleiro com a Medalha de Honra da Cidade por “três motivos”, sendo a primeira “pelo artista que se lançou aqui”. Recorde-se que Manuel Cargaleiro começou a sua carreira em 1946, ano em que começou a trabalhar como ceramista na Fábrica Sant’Anna, na Calçada da Boa-Hora, na Ajuda. Na década de 1950, foi bolseiro do Instituto de Alta Cultura, em Itália, onde estudou cerâmica, e da Fundação Calouste Gulbenkian. Em 1954, entrou como professor de Cerâmica na Escola Secundária António Arroio, cargo que exerceu até 1958.

Já a segunda razão para se homenagear o mestre, segundo o presidente da Câmara de Lisboa, “foi o ter levado o nome da cidade para todo o mundo”, tendo representado o país em muitas das suas obras. “O nosso galardoado é mestre na cerâmica, no desenho, na pintura, nos têxteis”, reforçou Carlos Moedas, salientando ainda que Manuel Cargaleiro, tal como o edil, “fez de Paris a sua segunda casa”.

“Vivi em Paris nos anos 90, e quando via o seu trabalho, tinha uma experiência incrível porque para aqueles que lá vivíam, o mestre era o nosso símbolo, um símbolo de que éramos tão bons como os franceses”, acrescentou Moedas, dizendo que “isto é algo que devemos valorizar”, porque, na sua perspetiva, Manuel Cargaleiro “teve a capacidade de nos pôr no mundo”.

Durante a sua carreira, o artista realizou obras em pintura, gravura, guache, ou cerâmica, sendo que alguns destes trabalhos estiveram em exposição na Fundação Calouste Gulbenkian nos anos 80. Em simultâneo, foi o autor dos painéis em cerâmica situados no Jardim Municipal de Almada; na Igreja de Moscavide; no Instituto Franco-Português de Lisboa; e ainda na estação do Metro de Champs Elysées-Clémenceau, em Paris.


Ao mesmo tempo, foi também o responsável pela criação do painel existente na escola com o seu nome no Seixal; e também pelas obras existentes na Estação de Metropolitano do Colégio Militar/Luz, entre outros. Ainda na mesma cerimónia de condecoração, Carlos Moedas salientou ainda que o terceiro motivo para se homenagear Manuel Cargaleiro é também pelo “homem que é”.

Aqui, o autarca partilhou um momento passado entre os dois na Gulbenkian, quando o mestre o convidou para almoçar, “na sua grande simplicidade num restaurante alentejano”. Neste sentido, Moedas descreve Manuel Cargaleiro como “um homem simples e superiormente grande, e naquele almoço fez-me sentir tão bem”, devido à sua “humanidade e maneira de valorizar o outro”.

 “O Mestre Cargaleiro é um grande homem da nossa arte”, concluiu o presidente da Câmara de Lisboa, que expressou o seu orgulho em entregar ao artista a Medalha de Honra “da cidade onde a sua capacidade criativa, a sua imaginação representativa e o seu estilo figurativo encontraram o primeiro espaço para se manifestar”. Carlos Moedas entregou a distinção a Manuel Cargaleiro dizendo ainda que, este “é um dia que, como presidente desta Câmara, não esquecerei”.

 “Em nome de todos os lisboetas, de todos os portugueses, e de todos aqueles que amam Lisboa, queria-lhe hoje deixar esta marca para a sua vida”, disse ainda o autarca antes de entregar a Medalha de Honra a Manuel Cargaleiro, distinção que se junta a outras que o artista recebeu ao longo da sua vida, entre as quais a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, entregue pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, em março de 2017.

Em 2019, recebeu a Medalha de Mérito Cultural, atribuída pelo primeiro-ministro, António Costa, e pela antiga Ministra da Cultura, Graça Fonseca, em Paris. Já em julho deste ano, Manuel Alves Cargaleiro recebeu o doutoramento ‘honoris causa’ pela Universidade da Beira Interior (UBI). Parte da sua obra encontra-se em exposição no Museu Cargaleiro, em Castelo Branco, onde se encontra também a coleção da Fundação com o seu nome, criada em 1990, que gere, exibe e divulga o seu património.

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