RENASCER – UM GESTO PARA A VIDA

Nada melhor que a esperança para fazer renascer pessoas que enveredaram pelos «caminhos das dependências», considera a associação Renascer que, em agosto, realiza um «feirão» de malas.

«O que se faz sem horizontes para fazer caminhos? A vida sem esperança é um deserto árido ou um deambular perdido e sonâmbulo». Esta é, de certa maneira, a «fórmula filosófica» que enquadra a actividade da Renascer – Associação Cristã de Reabilitação, Acção Social e de Cultura, sediada na Quinta da Serra, em Valejas, e que, recentemente, realizou um protocolo com a União de Freguesias de Carnaxide e Queijas para gerir a Loja Social da autarquia.

Considerando que só a esperança pode «salvar» um tempo em que se sentem «os efeitos da injustiça» a nível pessoal e social, esta Instituição Particular de Solidariedade Social recebe na sua casa de acolhimento jovens em emergência social, a maioria dependentes do álcool ou de drogas leves, oriundos de famílias disfuncionais.

Esta IPPS, que tem como lema «Um gesto para a vida», apoia também famílias em contextos precários e de carência económica, através de cabazes alimentares e acompanhamento social.

A par da gestão de uma Casa de Acolhimento em Valejas, Carnaxide, com capacidade para 13 indivíduos, a Renascer efetua visitas e aconselhamento a reclusos nos estabelecimentos prisionais, na sequência de Protocolo celebrado com o Ministério da Justiça, com vista à reintegração social em contexto de liberdade condicional ou efetiva. Por outro lado, disponibiliza um cabaz alimentar e distribui gratuitamente, ou a preços simbólicos, roupa a famílias em situação de vulnerabilidade social, num espaço cedido pela Câmara de Oeiras na Outurela, em Carnaxide.

Reinserção social de jovens dependentes

A desenvolver trabalho em Oeiras e Amadora deste 1997, a Renascer «ganhou» o estatuto de IPPS em 1999. Na altura, dedicava-se, basicamente, à reinserção social de jovens toxicodependentes ou alcoólicos, que recebia em diversas «casas de acolhimento». Mas, ao longo dos anos, foi alterando o seu «foco de actividade» e, nos dias de hoje, trabalha principalmente com homens/jovens sem-abrigo (com idades compreendidas entre os 18 e os 40 anos), a maioria adida ao álcool ou às chamadas drogas leves, e participa em programas de reinserção social de presos e, inclusivamente, já acolheu na residência detidos com «pulseira electrónica».


Aliás, considerada pelo município como «um recurso local válido no apoio às pessoas em situação de fragilidade social extrema», os utentes desta IPPS tiveram um «meritório papel» durante o estado de emergência, tendo auxiliado na distribuição e recolha de bens alimentares para as famílias mais carenciadas.

Do ponto de vista da diretora técnica desta instituição, a socióloga Sandra Almeida, a exclusão social é um processo através do qual algumas pessoas são atiradas para a periferia da sociedade, impedindo-as de participar plenamente na vida social devido à pobreza, à falta de competências de base e à falta de oportunidades de aprendizagem ao longo da vida.

Processos de marginalização

De acordo com essa responsável, a exclusão social é uma fase extrema do processo de marginalização, entendido este como um percurso descendente, ao longo do qual se verificam sucessivas rupturas na relação do indivíduo com a sociedade e, também, com o mercado de trabalho.

No fundo, a Renascer, através do seu centro de acolhimento e também do programa de reabilitação, que passa pelo cumprimento de um horário de trabalho, lazer e de meditação e também do ‘ambiente’ onde estavam inseridos, consegue, com apoio e acompanhamento técnico especializado, construir percursos de inserção duradouros e tendencialmente estáveis.

Aliás, como refere Sandra Almeida, são poucos os «casos de recaída», porque existe a preocupação de acompanhar «os utentes após terminarem o programa».

Do ponto de vista desta responsável, que não esquece que a maioria dos seus utentes são originários de famílias disfuncionais, o alcoolismo e outras adições, mais do que afectar apenas o alcoólico, afecta também todos os que o rodeiam, tendo um profundo impacto sobre a família, sendo os efeitos sentidos em todas as dimensões por todos os elementos do núcleo familiar.

Gestão da Loja Social de Carnaxide

Entretanto, em reconhecimento de todo o trabalho desenvolvido em Oeiras nos apoios a famílias carenciadas, a União de freguesias e Associação Renascer estabelecem uma parceria para gestão da Loja Social.

Segundo o protocolo, as pessoas em situação de carência socioeconómica, que estejam sinalizadas pelo Gabinete de Ação Social, podem recorrer à Associação Renascer para ter acesso a bens como: calçado, vestuário e acessórios, artigos de utilidade doméstica, mobiliário, brinquedos, material escolar, artigos de puericultura.

Com esta medida, o presidente da União de Freguesias, Inigo Pereira, entende que haverá «uma maior fluidez no escoamento dos bens, uma vez que a Associação Renascer tem uma elevada experiência no apoio a famílias carenciadas», salientando que a Associação Renascer já faz a recolha de bens junto da população.

Inigo Pereira explica que uma das razões que levou a União de Freguesias a realizar este protocolo se prendeu com o facto de a maioria dos voluntários terem «uma idade, considerada de risco», o que impossibilitava o «normal funcionamento da loja».

O presidente da União de Freguesias salienta que a posterior venda dos bens, a preço simbólico, reverte para o projeto da Casa de Acolhimento para jovens sem abrigo e/ou com comportamentos desviantes, que a associação promove, sublinhando que todas «as pessoas sinalizadas pela União de Freguesias têm direito receber roupas, brinquedos e, inclusivamente, mobiliário, gratuitamente».

Inigo Pereira reforça ainda a mensagem de que «os bens cedidos à população carenciada e sinalizada no âmbito da Loja Social continuarão a ser gratuitos».

No protocolo agora celebrado, a Associação Renascer compromete-se ainda a cooperar em ações de cariz social, cultural ou outro, tais com por exemplo a Festa de Natal para as crianças das famílias beneficiárias.

Feirão de malas permite angariar dinheiro

Apesar de ser auto-sustentável, a associação Renascer precisa, regularmente, de realizar «bazares» de venda dos produtos que lhe são doados para «realizar dinheiro» para manter «a máquina a funcionar». Assim, no próximo dia 15 de agosto, a associação vai efectuar um «grande feirão» de vendas de malas, que lhe foram doadas pela Autoridade Tributária Aduaneira (Alfandegas), com quem tem num protocolo.

A Renascer, como explica a socióloga, vive também de doações monetárias, da adjudicação de recolhas e serviços, designadamente recolha de móveis em bom estado de uso que podem ser destinados a revenda ou a a apoiar outras famílias e mudanças e transportes de pequena dimensão. Este serviço é efetuado pelos utentes em fase de reinserção social, o que os prepara para o mercado de trabalho.

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