“SOMOS UMA INSTITUIÇÃO COM QUEM TODA A GENTE QUER TRABALHAR”

Em entrevista sem filtros nem assuntos tabu, Bernardino Soares faz um retrato da obra feita, em que muita desta “não rende votos”, e de algumas obras grandiosas que tem projetado para o concelho, como a construção de 2 mil fogos para assegurar o direito à habitação dos munícipes com menos recursos, mas também dos avultados investimentos na rede de transportes, na vinda do metro para o concelho, na requalificação do parque escolar, nos apoios financeiros para reforço dos assuntos sociais, na construção de uma obra “faraónica” que irá acabar com as cheias em Sacavém.

A pandemia de Covid-19 no concelho de Loures preocupa o autarca, que lamenta o facto de o Hospital Beatriz Ângelo estar a “rebentar pelas costuras” devido à descoordenação das autoridades de saúde distritais.

Quase no ocaso do mandato, o presidente da câmara de Loures diz-se um homem realizado, mas que tem ainda muito a dar ao concelho, não pondo de parte a hipótese de concorrer a mais 4 anos de liderança do município, nomeadamente na captação de novas empresas e novos investidores para Loures.

O deputado do Chega, André Ventura, foi um cometa que passou por Loures, onde lançou a sua carreira nacional, mas onde “não apresentou qualquer proposta” concreta para denunciar e mudar o “sistema” que tanto critica, lembra o edil.

 

OLHAR LOURES – O concelho de Loures foi um dos mais afetados pela pandemia. A Autarquia conseguiu lidar bem com a pressão causada por este problema de Saúde Pública? Como correu a articulação entre a Câmara e as autoridades de saúde locais e nacionais?

Bernardino Soares – A nível local é muito boa. Conseguimos criar um método de funcionamento bem articulado, com reuniões semanais, que faz com que tenhamos uma excelente ligação entre as autoridades de saúde, a saúde pública, a segurança social, o Hospital Beatriz Ângelo e o próprio município. Aliás, esta forma de trabalhar recebeu uma menção honrosa do prémio de políticas públicas do ISCTE, em 2020, e pensamos que é um mecanismo que irá perdurar para além da pandemia. Agora, o que não está a funcionar bem é a coordenação regional e a resposta das autoridades de saúde (do distrito). Nós avisámos e apelámos, no verão, para que fossem tomadas medidas de reforço quer da saúde pública quer das unidades de enfermagem, que são quem faz mais trabalho no terreno, e isso não aconteceu. Agora, estamos a pagar a fatura de essa falta de resolução atempada do problema. É evidente que ninguém sabe como estaríamos se essas medidas de reforço tivessem sido tomadas, mas o que constatamos é que as dificuldades são muito maiores porque não se reforçaram as equipas, que estão mais desgastadas, mais reduzidas (até porque houve muitos casos de Covid entre os profissionais), e a capacidade para ir para a rua fraquejou e prejudicou seriamente a realização de todos os inquéritos epidemiológicos, que era aquilo que deveríamos estar a fazer e não estamos. Mas essa falha é extensível a todo o território e não é só aqui no concelho de Loures que se regista esse problema.


Loures foi pioneiro na criação destas equipas multidisciplinares?

Sim. Nós tomámos a dianteira, nomeadamente no apoio às equipas que estão no terreno, o que ajudou a resolver uma série de problemas. Funcionou muito bem, partilhámos informação, conseguimos referenciar os casos no concelho, o que nos deu a todos uma informação maior sobre a pandemia. E, em função da sua localização, fomos agindo de forma direcionada, o que resultou numa fórmula de sucesso no combate à pandemia na primeira vaga, reduzindo substancialmente os casos ativos. Neste momento, a situação é diferente porque não há esta capacidade de resposta da parte da saúde e depois porque os casos estão disseminados por toda a comunidade e não apenas em determinados focos que permitam uma intervenção dirigida.

O Hospital Beatriz Ângelo correspondeu ao que se esperava dele ou ficou aquém das expectativas?

O Hospital reagiu bem, mas teve sempre uma sobrecarga de doentes Covid muito superior àquela que a sua dimensão aconselharia. Neste hospital esteve quase sempre uma maior percentagem do hospital alocada ao Covid do que em outras unidades hospitalares da região, mesmo as grandes unidades, como o Centro Hospitalar de Lisboa Norte (Santa Maria e São José). Por outro lado, em termos absolutos, tivemos mais internamentos de Covid do que os grandes hospitais de Lisboa e isso não faz sentido. Houve uma inexistência de coordenação das autoridades distritais (ARS de Lisboa e Vale do Tejo e outras), apesar das nossas chamadas de atenção públicas, e essa não coordenação prejudicou imenso o Beatriz Ângelo, que está assoberbado de casos e a rebentar pelas costuras. Já ultrapassou todos os limites que se poderiam imaginar.

A descoordenação foi motivada pelas falhas na comunicação e intervenção da ARS de Lisboa e Vale do Tejo e demais autoridades distritais?

Neste momento, estamos numa situação limite, mas não foi só Loures que ficou com este quadro de catástrofe. O Hospital Amadora-Sintra também está na mesma situação. Não houve uma coordenação regional que permitisse equilibrar o esforço de cada unidade e que lhe permitisse aguentar o esforço de uma situação limite como a que estamos a viver.

Neste momento, qual é o ponto de situação em Loures?

Estamos numa situação de risco extremo e está descontrolada, como em todo o lado. Quando nós não conseguimos fazer os inquéritos epidemiológicos, quando os casos de contágio crescem todos os dias, só nos resta admitir que situação está descontrolada.

Qual é o balanço deste mandato?

É um balanço positivo. Nós continuámos um trabalho de regeneração da câmara. Que, no fundamental, fizemos no primeiro mandato e já conseguimos lançar alguns projetos de fundo e que agora estamos a concretizar. A câmara lançou um conjunto de respostas à população, e que não existiam, bem como a própria capacitação para intervir e agir. Há hoje no município de Loures uma série de áreas em que somos uma referência, fruto da qualidade da nossa intervenção. Pensamos que estamos a construir projetos, que vão além deste mandato, e que são muito importantes para o futuro de concelho.

Há anos que se houve falar na vinda do metro para Loures, mas parece que é desta que vai mesmo avançar. Tem novidades relativamente a este anseio da população?

Neste mandato, conseguimos, conjuntamente com a Área Metropolitana de Lisboa (AML), dar um salto significativo na área da mobilidade. Vamos ter o metro a chegar a Loures e a Sacavém, coisa que há muito tempo era prometido, afirmado, assegurado, mas, neste momento, as coisas estão a andar a bom ritmo. Estão assinados os protocolos com o Metro, os projetos vão ser feitos, o governo garante financiamento no plano de recuperação e resiliência. Construímos o projeto do passe única para as pessoas, o que no concelho de Loures representou uma poupança de dezenas ou centenas de euros para as famílias, e estamos à beira de ver entrar em funcionamento uma nova rede de transportes rodoviários, dirigida a partir dos municípios e a AML, para a qual muito contribuímos, e que representa um salto muito significativo na área da mobilidade.

A Educação no concelho está em linha de conta com as vossas prioridades?

Continuamos a apostar nesta área e a investir e a fazer fortíssimos investimentos no parque escolar. Temos, neste momento, obras em curso, em várias escolas, em valores superiores a 15 milhões de euros. Temos outros projetos que irão avançar brevemente, e que já têm financiamento, mas, para além do edificado, contratámos um número significativo de assistentes operacionais, para além do ministério da Educação – temos mais 100 pessoas a trabalhar do que aquelas que o ministério indica, porque sem isso as escolas não funcionavam, muito menos nesta fase da Covid-19.  Dobrámos o apoio social às crianças nas nossas escolas, seja na alimentação, seja no apoio pedagógico, mas também num conjunto de ofertas de natação, de música, de dança, que não existiam nas escolas e que hoje são uma realidade. Temos vindo a progredir na Educação do concelho.

O ambiente é uma área que preocupa este Executivo?

É fundamental para assegurar o presente e o futuro. O Município de Loures tem vindo a ser reconhecido sucessivamente como um dos mais sustentáveis do país, numa classificação que é organizada por uma entidade não governamental. Temos muitos exemplos nesse sentido, não só em política ambiental, na sensibilização ambiental muito forte nas escolas e noutras áreas, mas também na construção de novos parques urbanos em todo concelho. Estamos a construir o novo parque no Infantado (Loures), estamos a construir um parque de grande dimensão no Catujal, a terminar um parque novo em Camarate. Temos um conjunto de parques urbanos que modificam a paisagem urbano e permitem uma muito maior ligação da população a zonas verdes e de lazer, que é muito importante para a qualidade de vida.

A limpeza das linhas de água é para continuar?

Sim, claro. Esse trabalho é, muitas vezes invisível, mas muito importante que temos vindo a fazer ao longo de muitos quilómetros nos últimos anos e que têm contribuído para não termos tido problemas de cheias nos últimos anos. Estamos a levar a cabo o Caneiro de Sacavém, uma grande obra que está a criar perturbações na vida das pessoas, a maior obra que o Município alguma vez fez, mas que vai resolver o problema das cheias na baixa de Sacavém, combatendo, assim, os efeitos das alterações climáticas, que temos de acautelar. Em paralelo, criámos a Agência Municipal de Energia e Ambiente, em parceria com várias empresas privadas, para que se convergisse na eficiência energética, que temos vida a trabalhar. Por outro lado, temos também desenvolvido muito trabalho na limpeza das florestas, por exemplo. A área do ambiente é uma referência no concelho.

O Concelho de Loures é atrativo para o investimento, o que está a ser feito para desenvolver esta vertente económica no concelho?

É das nossas prioridades. Estamos a ser cada vez mais procurados por promotores e empresas que se querem aqui fixar, o que também é fruto do nosso trabalho de promoção e de captação de investimento. Criámos condições para atrair novas empresas ao concelho. Do ponde vista urbanístico, fechámos um conjunto de planos urbanísticos que permitem que as empresas saibam o que podem fazer e onde podem fazer. Estamos à beira de publicar um novo regulamento de taxas que vai baixar drasticamente as principais taxas que cobram aos novos investimentos, as taxas por compensação de cedência de terrenos, em que, dependendo da zona, vamos baixar as mesmas para metade ou um terço. Estas taxas eram, segundo a nossa perceção, um dos principais obstáculos ao investimento, algo que vai mudar. Temos também desenvolvido um trabalho dos nossos serviços de urbanismo e economia que nos mantém muito próximos das empresas. Temos hoje contatos com um conjunto de grupos nacionais e internacionais que estão a investir no nosso concelho e estamos a trabalhar no sentido de concretizar a vida de mais investimentos.

Que grupos são esses, nacionais ou multinacionais?

São nacionais e internacionais. Nos últimos tempos tivemos um grande investimento da Sonae, na Portela de Sacavém, um outro da Unilever numa nova fábrica contigua àquela que já existia em Santa Iria da Azóia, a Hovione investiu dezenas de milhões de euros numa nova unidade em Loures. Ou seja, a autarquia tem feito questão de ter grande proximidade ao tecido empresarial no nosso concelho.

A área social é uma das bandeiras deste executivo?

É fundamental. Conseguimos criar mecanismos de apoio às instituições que não existiam até aqui. Temos hoje um regulamento de apoio às instituições, que dá transparência à relação da Câmara com as instituições. No Orçamento de 2021, duplicámos as verbas para esse apoio e criámos uma proposta, que esperemos ser aprovada em reunião de câmara, que visa injetar durante todo o ano de 2021 mais de 1 milhão de euros nas IPSS e, por via delas, no comércio local.

Como e de que forma?

É um projeto pioneiro. Visa atribuir uma determinada verba às IPSS, em função do apoio que têm estado a dar às pessoas, por exemplo, com bens alimentares, e pede-lhes que se comprometam a fazer as suas compras no comércio local, na economia local. E isso faz com que esse dinheiro, que vai apoiar as IPSS, seja também uma injeção de dinheiro no comércio local.

Assume que o Orçamento de 2021 é um orçamento “para as pessoas”. Este tipo de medidas entronca nesta filosofia?

Sim. Todas estas medidas estão aqui vertidas. Mantemos o apoio aos meninos mais carenciados na Educação, duplicamos as verbas no reforço da área social. Esta medida de apoio que referi antes significa mais de 1,2 milhões de euros acima daquilo que já está previsto no apoio para as instituições sociais.

O projeto da frente ribeirinha do Tejo ficou na gaveta?

Não. Estamos empenhados na sua concretização, e à espera de garantir o financiamento, mas tem sido um projeto que tem levantado uma série de incompreensíveis objeções da parte dos partidos da oposição, não percebendo que a ligação da frente ribeirinha (na parte de Loures) é decisiva e tem de avançar, até porque Vila Franca de Xira e Lisboa já fizeram a sua intervenção e nós não podemos ficar arredados desta ligação, que é estratégica para Loures, bem como para os outros municípios vizinhos.

Já falou em múltiplos investimentos, alguns deles milionários. Havia verba no Orçamento ou tiveram de fazer alguma ginástica orçamental?

Nós vamos ter uma quebra significativa de verbas. Para algumas obras, vamos ter que recorrer de empréstimos bancários, como é caso a obra do passeio ribeirinho do Tejo, que é uma obra de 6 milhões de euros. Se ficarmos à espera de termos recursos no orçamento municipal, nunca mais avança.

Qual foi a herança financeira deixada pelo anterior executivo? 

Esse ponto é muito importante. Nós temos agora uma situação financeira, construída ao longos dos últimos anos, que nos permite executar aquilo que pretendemos. Quando cá chegámos, tínhamos 67 milhões de dívida, dos quais mais de 30 milhões era de dívida a fornecedores e os restantes era dívida bancária. Neste momento, a dívida a fornecedores já não existe. Pagamos a menos de 30 dias, na maior parte dos casos menos que isso. Mesmo a dívida bancária, reduzimos 10 milhões desde 2013 até agora.

A dívida da câmara ronda então os 20 milhões?

Cerca de 23 milhões. Temos conseguido uma folga para, agora, investirmos e não ficarmos a aguardar uma série de anos por financiamento, até porque hoje as taxas de juro estão baixas e é uma boa altura para fazer investimentos, porque temos folga orçamental para o fazer. O nosso orçamento ronda os 170 milhões de euros, temos capacidade para fazer investimentos, os projetos estão prontos e a economia precisa e as infraestruturas são essenciais para o nosso desenvolvimento.

Pode assegurar aos seus munícipes que a imagem de despesismo acabou? A autarquia ganhou credibilidade e confiança junto da banca?

Isso acabou. Acabou com a banca e com os nossos fornecedores. Quando cá chegámos havia muitos fornecedores que aumentavam o preço dos seus produtos e serviços porque já sabiam que a câmara só iria pagar muitos meses depois e incorporavam juros no próprio preço – algo que é normal. Isso acabou. Com essa medida, de pagar a tempo e horas, ganhámos imenso dinheiro. Fazemos muitos concursos conjuntos, com a câmara de Odivelas, para termos preços mais baixos e, com isso, ganharmos muitos milhões. Para o município de Loures, para o outro município, para os nossos munícipes. Como pagamos a tempo e horas, conseguimos preços mais baixos porque não temos de pagar com juros.

Acha que os munícipes conhecem e reconhecem o vosso trabalho?

Creio que sim. Embora estejamos numa fase em que as pessoas estão tão preocupadas com a Covid-19, que o debate político é mais difícil. Nós temos a esperança que se reconheça o nosso esforço nestas áreas que referi e em muitas outras.

Quais?

Olhe, por exemplo, a questão do bem-estar animal. Fizemos um progresso gigantesco nos últimos anos nesta área. Em 2020 duplicámos o programa de adoção em relação a 2019. Temos uma hoje programa, conjuntamente com as associações dessa área, que nos permite ter uma resposta muito válida para estes problemas. Construímos um gatil, um bloco operatório para esterilizações, duplicámos o pessoal do serviço e contratámos mais um veterinário para servir e resolver problemas numa área que é muito sensível para muitas pessoas.

Sente-se então realizado?

Julgo que temos vindo a fazer um bom trabalho e que as pessoas têm hoje a perceção disso. É claro que há problemas, e coisas que correrem menos bem, mas temos uma equipa credível, que as pessoas, associações, instituições, veem como uma equipa que tudo faz para fazer um bom trabalho. Somos uma instituição com quem toda a gente quer trabalhar. Temos parcerias com uma dezena de universidades, estamos constantemente a ser procurados, por instituições universitárias e grandes grupos privados, para trabalhar com eles. Isso significa que temos aqui uma manancial e uma qualidade de trabalho que justifica essa vontade de trabalharem connosco.

Acha que as políticas levadas a cabo corresponderam às necessidades das pessoas?

Essa é a pergunta que deve ser feita. Creio que realizámos um trabalho de credibilização da autarquia e que é reconhecido pelos munícipes, mas o povo é soberano e ele que deve decidir aquilo que vai acontecer nas próximas eleições e no próximo mandato.

Voltando um pouco atrás, já há uma data concreta para o arranque das obras do metro?

Já assinámos os dois protocolos que estavam previstos. Um para zona norte, que envolve os municípios de Loures e Odivelas e o Metropolitano de Lisboa, e um outro na zona oriental, que envolve a câmara de Loures, de Lisboa, o Metropolitano e também o município de Oeiras, porque é uma linha que irá ligar também ao concelho de Oeiras. Os dois protocolos estão prontos e assinados e o Metro vai enviar para o Tribunal de Contas, porque é uma obra de grande dimensão – só a câmara de Loures vai pagar 1 milhão de euros – e esperamos que estes projetos sejam feitos ainda este ano, para que possam ser iniciados os concursos de empreitada, porque a vantagem de isto estar incluído no plano de recuperação e resiliência determina que a obra tem de ser executada até 2026.

Qual é investimento total para a obra de Sacavém?

São mais de 11 milhões de euros. Trata-se da reconstrução de um caneiro e de uma infraestrutura junto ao rio Trancão que permita que, quando há maré cheia, não haja refluxo da água. Simplificando, trata-se de uma bombagem que recolhe as águas e as bombeia para o rio Tejo. É um projeto com investimento comunitário e uma obra complexíssima, que fica enterrada e não se vê, mas que vai acabar com as cheias na zona.

Ao ser uma obra invisível, não vai render votos?

Não, de facto. Vai causar enormes constrangimentos à população, mas vai pôr fim a um problema muito grave e recorrente e de que todos falam, mas que ninguém teve a ousadia e a coragem de resolver. Cumprimos este desígnio local e sabemos que não vai ser fácil para a população, ainda para mais em tempo de confinamento, mas não há outra maneira de fazer esta obra.

Vai haver a requalificação da zona central de Sacavém?

Está prevista a requalificação daquilo que vai ficar à superfície depois de obra estar concluída, designadamente a Praça da República e que já temos um plano de intervenção para toda a aquela zona, mas isso é outra obra…

Acha que as populações de Sacavém vão entender esta intervenção, que irá causar grandes dores de cabeça a quem vive e trabalha naquela área?

A nossa expetativa é essa. Nós assumimos o risco de fazer uma empreitada desta envergadura, sabendo que iria causar grandes perturbações, mas estamos convictos que as pessoas irão entender que há aqui um bem maior em causa e que sem estas perturbações não seria possível obtê-lo. Temos consciência que há problemas no dia a dia, mas estamos a tentar encontrar soluções que diminuam o impacto no comércio e na vida quotidiana de quem lá vive.

Aquelas pessoas podem ficar descansadas, com a certeza de que nunca mais vai haver cheias?

É esse o nosso objetivo e é o que me dizem os técnicos. A possibilidade de voltar a haver cheias com aquela infraestrutura será muitíssimo reduzida.

O que ficou por cumprir neste mandato?

Desde logo, ainda não está feito o passeio ribeirinho, o tal. Ainda não conseguimos arrancar, apesar de já terem sido dados alguns passos, a variante a Loures, que vai procurar a circulação no centro da cidade de Loures. Propusemos esta obra para um empréstimo, mas foi rejeitado. O processo está a avançar. Estamos a trabalhar com os proprietários dos lotes onde a variante irá passar. O processo ainda não parou, mas era uma obra que gostava de ter visto concluída neste mandato e não o consegui. Uma outra obra que gostaríamos que estivesse mais avançada é a obra do centro cultural. Temos, neste momento, um grande concurso de arquitetura para o projeto, que será edificado no Campo das Tinalhas, mas, neste momento, ainda não é possível. Só no próximo mandato.

O projeto de construção dos novos centros de saúde do concelho ficou a meio gás?

Atualmente, temos em construção o Centro de Saúde de Santa Iria da Azóia e temos já projetada a construção do Centro de Saúde do Catujal, cuja empreitada será lançada brevemente, e o Centro do Tojal, que está um pouco mais atrasado, mas vai avançar. Devo dizer que estas infraestruturas não são da nossa responsabilidade, em que também há comparticipação do ministério da Saúde, mas que em boa parte o financiamento vem da câmara municipal porque entendemos que eram projetos fundamentais para o concelho.

Relativamente às escolas, a eliminação do amianto já está concluída?

Está praticamente concluída. Somos dos poucos municípios de grande dimensão que tem este projeto concluído. Noutros municípios, da mesma dimensão, a situação está muito mais atrasada. Houve concursos que ficaram desertos e em que ficou tudo na mesma. A nossa situação só não está totalmente concluída porque houve que reportar para o Tribunal de Contas e isso atrasou um pouco as coisas, mas podemos garantir que no prazo de cerca de um ano, todo o amianto das escolas, da nossa responsabilidade, irá ser removido.

Vai haver lugar para construção de novas escolas?

Sim. Estamos a construir novas escolas, com novos edifícios de raiz em algumas, e noutras alargando e reformulando os edifícios. Na maioria dos casos, aproveitamos a estrutura base, restauramos, ampliamos. Noutros casos, é preciso fazer tudo de raiz, contando já com a possibilidade ampliamento.

Por exemplo?

Estamos a projetar um novo edifício para a Escola do Infantado porque sabemos que o que lá está, está a rebentar pelas costuras e que há mais gente a vir viver para a zona. Ou seja, estamos a antecipar o futuro.

Os residentes do Infantado há muito que se queixam da falta de um pavilhão gimnodesportivo naquela escola.

Esse pavilhão já está adjudicada e só está a aguardar o visto do Tribunal de Contas para avançar.

A rede de transportes de autocarros, que irão ligar todo o concelho, vai mesmo avançar?

Vai. A cerimónia de assinatura do contrato foi adiada devido à pandemia, mas não há dúvida alguma que vai ser uma realidade. O prazo de entrada em funcionamento desta rede de transportes está previsto ocorrer no final do ano. De qualquer forma, já estamos a trabalhar com as empresas para anteciparmos esses novos circuitos e reforçarmos as redes de transportes no concelho. Por exemplo, no sentido de termos mais ligações a Lisboa. Há carreiras diretas do Infantado, mas no centro de Loures não há. É uma incongruência. Por outro lado, vamos ter carreiras que façam a ligação urbana das freguesias de Loures, passando pelos locais mais nevrálgicos, como o Hospital, o centro da cidade, o Fanqueiro, o Infantado, a Mealhada, o Tribunal, por exemplo. Também é nosso objetivo termos carreiras que passem nas estações de comboio do concelho. Para que isto funcione, a CP tem de melhorar os seus serviços, mas é indispensável haver estas ligações, bem como novas ligações ao metro.

Santa Iria de Azóia vai ser incluída nesta reconfiguração da rede de transportes?

Com certeza. Não tem cabimento não haver uma ligação entre Santa Iria e Loures. As pessoas de lá que quiserem vir a Loures têm de ir a Sacavém ou a Lisboa e isto não faz qualquer sentido. Também as aldeias do concelho vão passar a ter transportes públicos, uma vez que a maioria delas não tem qualquer transporte.

Esta nova rede de transportes irá ajudar à fixação de novas empresas no concelho?

Estamos convictos que sim. Até porque uma das dificuldades invocadas por algumas empresas que se querem fixar no concelho tem justamente a ver com a falta de transportes para os seus trabalhadores em certas zonas. E obviamente que a oferta de transportes numa rede alargada a praticamente todo o território irá atrair mais investimento.

Acredita que esta nova rede rodoviária vai atrair mais pessoas e mais empresas para o concelho?

Acredito que sim, honestamente. Loures tem tido um crescimento populacional nos últimos anos, não só pessoas, mas também de empresas. Tivemos uma maior de procura de habitação motivada pelos preços altíssimos e consequente expulsão de pessoas da cidade de Lisboa, que vieram procurar habitação, neste e noutros concelhos adjacentes, casas a preços mais compatíveis com a sua capacidade financeira, mas aqui também já temos os preços inflacionados. E é para resolver este gravíssimo problema social e até humanitário que a Câmara está a gizar um plano.

Quer revelar qual?

Já temos um plano no qual estamos a trabalhar: vamos construir mais habitação. Vamos intervir na construção de habitação social e também na área da habitação a preços acessíveis para os setores da população que hoje têm muita dificuldade em pagar rendas aos preços praticados atualmente.

Estamos a falar de jovens?

De tudo. Há hoje pessoas que trabalham e têm a sua vida estabilizada, mas que não conseguem pagar uma renda e têm de permanecer em casa dos pais. Há também muitos idosos isolados, que deixaram de ter condições para pagar as rendas, e que precisam de uma alternativa. Temos aqui uma panóplia de problemas de habitação por resolver e que exigem uma intervenção muito mais musculada do Estado.

O que está a ser feito em concreto?

Estamos a preparar os nossos instrumentos e vamos aproveitar aquilo que poder ser aproveitado do PRR. A nossa intervenção no PRR é muitíssima ambiciosa. Significa a construção de mais de 2 mil fogos até 2026. Precisamos agora de financiamento, pois um plano desta natureza não é compatível com o orçamento municipal.

Acha que o poder central vai ser sensível aos vossos argumentos?

Sabemos que o PRR tem verbas para a habitação social e que uma parte delas virá para a área metropolitana de Lisboa. É nossa intenção aproveitar ao máximo possível essas verbas. Depois, há os programas da nova política de habitação, elaborada por este governo, que emprestam dinheiro a taxas bastante baixas, e é aí que, infelizmente, iremos recorrer, pois o PRR só abrange habitação social. Precisamos de intervir no mercado para baixar os preços das rendas e, assim, garantir que mais pessoas tenham acesso à habitação.

Quais serão as áreas de construção?

Serão contíguas a outras que já existem. Não estamos a pensar em grandes novos urbanizações. Iremos aproveitar as zonas livres de bairros que já existem, e ampliá-los, e também aproveitar alguns terrenos municipais. Por outro lado, iremos apoiar a regeneração de núcleos privados. Vamos contactar com todos os proprietários, que podem ter apoios, para fazer a reabilitação dos seus prédios.

Estamos a falar de prédios antigos?

Prédios antigos ou de zonas degradas, realojando os que lá estão e eventualmente ter outras habitações para outros que venham de outros sítios. É muito importante termos esta intervenção na habitação a custos acessíveis. Precisamos de ter uma resposta social e uma reposta no mercado da habitação para que as pessoas tenham acesso a habitação a preços justo, algo que não acontece atualmente. Precisamos que o Estado disponibilize verbas, o que aliás é sua obrigação constitucional, porque o acesso à habitação é um direito de todos.

Acha que o dinheiro da “bazuca” poderá ser canalizado para este projeto?

Sim. Estamos a contar com isso, mas, infelizmente, essas verbas de que falou parecem estar restritas à habitação social, o que é muito importante e vamos aproveitar ao máximo.

Esta vai ser a sua grande obra no próximo mandato, caso haja novo mandato?

Penso que sim. Mantendo a Educação, o Ambiente, a Cultura, o Social, a área da Habitação será o grande desafio no próximo mandato, penso que será o grande projeto. A resolução dos problemas da habitação deve estar no centro da nossa intervenção.

Vai recandidatar-se a mais um mandato ou tem ambições mais altas, como a liderança nacional da CDU?

Não tenho ambição alguma (risos). Estou de corpo e alma em Loures. Ficou ao dispor do meu partido, mas ainda não é momento para fazer esse tipo de anúncios. Aquilo que posso dizer é que estou de cabeça, tronco, membros e coração no concelho de Loures e, se a CDU assim o entender, estou disposto a continuar a contribuir para o desenvolvimento do meu concelho.

Como tem visto a carreira política do ex-vereador André Ventura, que lançou a sua carreira nacional em Loures?

É uma emanação da extrema direita… devo dizer que a experiência aqui de Loures é muito significativa e que deveria ser conhecida dos portugueses: o então candidato (à liderança do Município) e depois vereador, que fez grande estardalhaço e afirmações demagógicas e populistas na campanha eleitoral, mas, depois, esteve cá um ano e não apresentou qualquer proposta. Portanto, os votos que as pessoas lhe deram não serviram para nada. Acho que é preciso lembrar este episódio aos seus votantes, que acham que dali vem alguma solução, porque dali não vem nada. Renunciou ao mandato porque os seus projetos pessoais se sobrepuseram às propostas que se tinha comprometido cumprir com as populações, E, enquanto cá esteve, tirando duas ou três intervenções populistas nas reuniões de Câmara, nada fez. Nada. Os votos que lhe foram dados não serviram para defender as vontades das populações que tinham depositado a sua confiança no André Ventura.

Não o preocupa que muitos dos votos no André Ventura venham da esquerda?

Isso diz ele, mas não está demonstrado em lado nenhum. Não acredito nesse cenário. Ninguém é dono de nenhum voto, porque cada pessoa sabe onde deposita o seu voto, mas essa é a teoria do André Ventura e do Chega.

No debate presidencial, o então candidato Marcelo Rebelo de Sousa disse que o deputado do Chega tem “duas caras”, uma pública e outra em privado. Comunga desta opinião?

Não sei. Eu só comento a personagem política e é isso que me interessa. O resto, não é interessante.

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