Maria Antónia Machado: “Somos uma mais-valia para a freguesia e concelho”Dos trinta e cinco anos da história da CEDEMA – Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Mentais Adultos, os últimos três têm sido de extrema importância para a União de Freguesias de Pontinha e Famões.
Em fevereiro de 2014 era finalmente inaugurado um dos desejos antigos da instituição: o Lar Telhadinho.
Trata-se de um projeto de intervenção e resposta às necessidades das pessoas com défice cognitivo ou deficiência mental.
Segundo Maria António Machado, “esta foi, na altura, uma resposta absolutamente necessária para o número de pessoas que nós tínhamos em lista de espera para poderem ser atendidas”.
De acordo com a presidente da CEDEMA, o equipamento foi “uma mais-valia para a freguesia e para o concelho, porque não existem equipamentos deste género, ou pelo menos a trabalhar com este tipo de população-alvo”.
O Lar Telhadinho acolhe vinte e quatro utentes em lar e dez em residência autónoma. Para a responsável, “este é um equipamento com dignidade, com um atendimento reconhecido por todos os que aqui estão e pela própria Segurança Social”.
Por outro lado, Maria António Machado explica que a instituição, no âmbito da ação do equipamento, “interage muito com a Freguesia de Pontinha e Famões e com a Câmara de Odivelas, por exemplo, quando somos solicitados temos tido várias parcerias, na área da saúde ou artística”.
A presidente da instituição lembra também que existe no lar um gabinete médico e de enfermagem “que ainda não conseguimos dinamizar por falta de protocolo com o Ministério da Saúde, de forma a termos aqui um atendimento permanente que poderá ser alargado à população local”.
Este projeto, sustenta, “foi também muito importante para zona envolvente”, já que no contexto do apoio a pessoas com deficiência cognitiva, “não existia rigorosamente nada nesta área”.
Até abrir portas em 2014, Maria António Machado recorda o “processo muito duro” que foi colocar de pé o Lar Telhadinho. “Foram cerca de 15 anos para conseguirmos abrir. Na altura, o concelho de Odivelas era muito recente e foi necessária uma certa resiliência para continuar”.
E acrescenta: “infelizmente, não temos um projeto que abrange toda a lista de espera, que é bastante vasta”.
Hoje em dia, “já não se defende um equipamento deste género para 100 ou 200 utentes, porque o serviço acaba por se tornar muito distante e desumanizado, ou seja, quebram-se os laços que se pretendem criar”. Por outras palavras, o Lar Telhadinho defende “um apoio e reabilitação de proximidade”.
De acordo com a responsável, “muitos dos nossos utentes têm já sinais evidentes de reabilitação e melhorias. Nota-se que há uma evolução. Eram pessoas que estavam sozinhas ou com familiares envelhecidos”.
Muito deste sucesso deve-se a “uma forte equipa multidisciplinar que atua em todas as áreas”. Para além da componente mental, toda a orgânica de apoio fomenta também “uma reabilitação motora, através da parte desportiva”.
No lar, descreve Maria Antónia Machado, “os utentes são pessoas bastante dependentes do ponto de vista cognitivo e psicológico, que não têm grande capacidade de adquirir uma autonomia”.
Já nas residência autónomas, “temos utentes com mais capacidades e que têm atividades já diferenciadas. Alguns saem do equipamento para fazer formação e voltam. Atualmente são cinco rapazes numa residência e cinco do sexo feminino noutra”.
As residências situam-se dentro do equipamento, mas separadas do lar, mantendo o apoio do pessoal técnico.
Para dar resposta ao lar e às residências, a instituição conta em permanência com mais de vinte colaboradores, entre os quais “uma socióloga, psicóloga, terapeuta ocupacional, uma animadora cultural, ajudantes de ação direta e auxiliares”. Há ainda uma enfermeira, que não é residente, mas que vem duas vezes por semana.
APOIOS
A CEDEMA é uma instituição que vive quase exclusivamente do apoio do contrato com a Segurança Social. “Como Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), nós estamos a substituir-nos ao Estado na obrigação de atender os cidadãos que não têm capacidades para poderem trabalhar”, afirma Maria Antónia Machado.
No caso concreto do Lar Telhadinho, “as famílias pagam uma pequena comparticipação na base do seu rendimento e a Segurança Social dá a restante contribuição ao abrigo do acordo”.
A presidente revela ainda que a instituição realiza alguns eventos para “conseguir completar as necessidades financeiras”, como é o caso do Jantar de Gala, no dia 9 de novembro, que servirá para angariação de fundos.
Todo este espírito de missão tem apenas um propósito: apoiar as pessoas com défice cognitivo e familiares.
“Continua a ser dramático para as famílias com filhos com défice cognitivo. Muitos são pessoas idosas, doentes e que se agarram à vida porque não têm onde deixar os filhos, porque têm medo que sejam mal tratados”, dá conta Maria António Machado.
“O nosso equipamento está longe de corresponder às necessidades da população. Muito longe disso”, admite. “Seriam necessários muitos mais, isto porque há 50 ou 60 anos, a medicina não estava tão evoluída e muitos faleciam muito cedo. Hoje temos aqui utentes com mais de 50 anos”.
Por isso, “a necessidade de prever alojamento pós-orfandade é agora obrigatória”.
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Marcelo Rebelo de Sousa
visitou o Lar “O Telhadinho”
O Presidente da República advertiu que faltam estruturas e apoios aos deficientes mentais e famílias, numa visita a um centro em Odivelas onde conheceu um campeão de golfe.
“É um dos domínios de maior atraso ao longo das décadas”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, alertando que “está longe de estar coberta” a necessidade de estruturas que apoiem as pessoas com deficiência mental e famílias.
O Presidente da República falava aos jornalistas no final de uma visita às instalações da Associação de Pais e Amigos de Deficientes Mentais Adultos (CEDEMA) em Famões, Odivelas.
Na visita, Marcelo Rebelo de Sousa testemunhou as atividades proporcionadas pelo centro ocupacional, desde a pintura à dança, e conheceu António Machado, 50 anos, desportista com currículo no golfe e que foi campeão dos “Special Olympics” em 2015.
Marcelo Rebelo de Sousa manifestou-se impressionado com o desportista e quis saber pormenores sobre o treino, posando ao lado de Machado para a fotografia. “É inato”, frisou o professor João Pereira, que trabalha no centro ocupacional do CEDEMA.
Em declarações aos jornalistas, a presidente do CEDEMA, Maria António Machado, afirmou que “faltam sempre” apoios na área da deficiência mental, frisando que a lista de espera da instituição é de 300 pessoas.
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