Produtora e programadora cultural, Gabriela Cerqueira dedicou toda a sua vida à Cultura, ao longo de uma carreira que convocou especialmente o cinema, as artes visuais e as artes performativas. Gabriela Cerqueira faleceu no passado dia 6, aos 75 anos.
A Câmara Municipal de Lisboa expressa à família e amigos as mais sentidas condolências.
Gabriela Cerqueira foi uma das principais dinamizadoras da programação da Expo98, em Lisboa, tendo a cargo a direção do Teatro Camões durante a exposição mundial, e do Festival dos Cem Dias, que a antecedeu. O evento mobilizou nomes como Philip Glass, Robert Wilson e Pina Bausch, mas também Emmanuel Nunes, António Pinho Vargas e Michael Nyman. Na fotografia, destacaram-se as exposições sobre a obra de Robert Mapplethorpe e Cartier-Bresson.
Logo após o 25 de Abril, fez parte da equipa da série televisiva “O meu nome é mulher”, um programa pioneiro do jornalismo de investigação e intervenção da RTP. Também nos primeiros anos da sua carreira, Gabriela Cerqueira associou-se a produtoras independentes como a Cinequipa, tendo trabalhado na produção de filmes-documentários de novos realizadores como Fernando Matos Silva e Monique Rutler. Mas a sua atividade atravessou várias gerações e estilos, como ilustra o trabalho ao lado dos cineastas Samuel Fuller, Raoul Ruiz, José Fonseca e Costa e Teresa Villaverde, entre outros.
Em 1979, integrou a equipa do Secretário de Estado da Cultura no V Governo Provisório, de Maria de Lurdes Pintasilgo. Mais de duas décadas depois, haveria de regressar a um organismo público da Cultura, para dirigir o departamento de apoio à criação e difusão do Instituto das Artes, atual Direção-Geral das Artes.
Versátil e dinâmica, Gabriela Cerqueira participou na montagem da peça teatral “Traições”, com encenação do artista plástico João Vieira.
A partir de 2006, integrou a equipa de programação do Centro Cultural de Belém, sob a direção de António Mega Ferreira. Depois de 2012, durante a presidência de Vasco da Graça Moura, tornou-se consultora para a programação de artes performativas no CCB, onde coordenou o projeto “Próspero”, através do qual muitas companhias portuguesas emergentes ganharam visibilidade internacional.
Distinguida com a comenda da Ordem de Mérito pelo Presidente da República Jorge Sampaio, Gabriela Cerqueira teve um percurso singular de entrega à causa pública, que refletiu as mudanças estruturais ocorridas em Portugal nos últimos quarenta anos, no domínio cultural, político e social, e que simultaneamente contribuiu, de forma inestimável, para a formação, quer dos próprios artistas, quer de públicos da Cultura.