Está a nascer uma nova dinâmica local nos bairros da cidade de Lisboa. Há um novo olhar que observa os lugares mais característicos da metrópole. O ritmo da urbe faz-se pela batida dos lisboetas mas também pelos que vêm de fora.
De fora para dentro, ou de dentro para fora, importa refletir sobre o que é genuíno e se essa autenticidade deve ser mantida e potencializada.
A resposta a esta dúvida parece ser óbvia. Os Mercados de Lisboa são um exemplo dessa reflexão.
FEZ-SE HISTÓRIA
A realidade das feiras remonta à Idade Média, que surgiram da necessidade de venda de produtos, produzidos quer no interior das cidades como no seu exterior.
Mas foi depois da Revolução Industrial que começaram a surgir os mercados tal como os conhecemos, sustentados em estruturas de ferros e entregues a uma gestão municipal.
A cronologia dos Mercados de Lisboa dá o pontapé de saída em 1877. Foi nesse ano que se construiu o Mercado de Santa Clara.
Seguiram-se o de São Bento, em 1881, o da Ribeira, em 1882, e os da Praça da Figueira e de Belém, em 1885.
À época, o impacto na dinamização dos centros das cidades – não só Lisboa – foi tremendo.
De tal forma que estes espaços resistiram no tempo, existindo atualmente cerca de 350 mercados municipais em todo o país.
Como é sabido, até há bem pouco tempo a relação da população com este tipo de comércio teve uma quebra significativa, que facilmente se explica pela imensidão de oferta dos novos e modernos espaços comerciais, que começaram a proliferar a partir dos finais dos anos 80.
Mas também não se podem assacar responsabilidades a quem geria as cidades, pela falta de estratégias para manter os mercados antigos na engrenagem da dinâmica comercial, em particular na cidade de Lisboa.
O Plano Municipais dos Mercados de Lisboa, que a autarquia está a implementar desde 2016, é o volte-face que a cidade necessitava.
Criar uma rede de mercados. Poderia resumir-se desta forma o Plano Municipal dos Mercados de Lisboa 2016-2020.
A Câmara Municipal de Lisboa percebeu que os Mercados de Lisboa fazem parte do património histórico e cultural da cidade.
E que a sua presença nos bairros trazem ganhos que vão além do “volume de negócios” aí transacionado.
“Disponibilizam produtos de qualidade, promovem estilos de vida saudáveis, bem como a coesão social com valorização dos bairros e das suas populações”, sustenta o Plano.
O objetivo do Plano Municipal de Mercados é então a criação de uma rede de mercados que dinamizem os seus bairros, mas que agregue ao mesmo tempo toda a cidade.
É que, apesar da perda registada, os mercados podem continuar “a ocupar um papel que não foi substituído pelo surgimento das grandes superfícies de consumo nas últimas décadas”.
São também um contributo para a economia da cidade, já que geram emprego.
E a visão do plano abrange também a dimensão ambiental, com a sustentabilidade e a preocupação com a higiene urbana como pilares.
Atualmente, existem 25 mercados municipais. Para estes, o projeto da Câmara Municipal de Lisboa elenca várias medidas, que podem ser lidas no documento apresentado:
- Modernizar as condições de funcionamento, no plano arquitetónico, técnico e logístico;
- Introduzir novos usos e valências que complementem a vocação tradicional do mercado;
- Melhorar o serviço prestado (modernos meios de compra e pagamento, melhoria das acessibilidades, ajustamento de horários, diversificação e ampliação da oferta, capacitação e formação dos comerciantes);
- Inovar, nas estratégias de comercialização e nos produtos;
- Alargar o espetro etário e sociocultural dos agentes económicos, possibilitando a passagem de testemunho às novas gerações;
- Integrar os mercados na vida local (polo económico, recreativo e cultural), devolvendo-lhes a sua centralidade.
Mas há mais. Transversalmente, o plano estabelece um conjunto de medidas cujo destaque vai para um plano de formação para comerciantes e empregados.
Esta formação vai abranger áreas como a Higiene e Segurança Alimentar, a apresentação pessoal, técnicas de venda e atendimento, exposição de produtos, vitrinismo, inglês básico, noções básicas de gestão de empresas, informática e técnicas de informação.
Depois, a autarquia está empenhada em implementar e dinamizar a identidade gráfica única que criou para estes espaços. Trata-se da marca “Mercados Lisboa” que é partilhada então por todos, através do grafismo, merchandising ou campanhas publicitárias.
E novas ideias surgem no documento, formas de pensar o comércio que muitos pensariam distantes da realidade dos mercados locais.
Um exemplo são as entregas ao domicílio, com uma experiência piloto no Mercado de Benfica.
Outro é a contagem de tráfego nos mercados de Alvalade Norte, Arroios, Benfica, Campo de Ourique e Mercado da Ribeira.
Os mercados voltaram a Lisboa e, não parece haver dúvida, os lisboetas voltaram aos mercados.
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