ODIVELAS, UMA CIDADE À PROCURA DE IDENTIDADE

Falta de limpeza das ruas, escassez de espaços verdes e centros de saúde a abarrotar, são as principais queixas dos habitantes da freguesia de Odivelas que, apesar disso, não trocavam a sua cidade por outra. Quem chega de Odivelas vindo de Lisboa, descendo a Calçada de Carriche, vê um mar de prédios e urbanizações indistintas, que marcam o horizonte. Mas quando se entra nesta freguesia, pertencente ao concelho com o mesmo nome, encontramos uma cidade com algumas zonas envelhecidas, mas que, curiosamente, se está a renovar, seja em termos de espaços públicos, do comércio ou habitacional.

O nascimento de Odivelas enquanto povoação do reino de Portugal remonta ao século XIV, altura em que o rei D. Dinis ali mandou construir o mosteiro de S. Dinis e S. Bernardo, no qual está sepultado. O nome de Odivelas está envolto numa lenda segundo a qual, certo dia, quando D. Dinis se dirigia ao local para se encontrar com donzelas do seu agrado, surgiu-lhe ao caminho a esposa, D. Isabel de Aragão (mais tarde a Rainha Santa Isabel), que lhe terá dito: “Ide vê-las”; esta frase, com o decorrer dos tempos, ter-se-ia transformado em Odivelas.

Os habitantes queixam-se da falta de limpeza nas ruas. Dizem que não há brio dos responsáveis em terem uma cidade limpa. A falta de espaços verdes também é um lamento comum, numa freguesia que tem pouco espaço livre disponível. Mas vários outros problemas são apontados.

Tatiana Ribeiro, 38 anos, recorda-se perfeitamente do tempo em que a freguesia de Odivelas pertencia ao concelho de Loures. “Andava na escola primária quando mudámos para concelho”. Na altura, recorda, já “éramos uma cidade grande, com muitos habitantes”.

Para esta moradora, o grande problema de Odivelas é “haver muita população, principalmente estrangeira. Mas também é bom, porque assim há diversidade”.

No seu entender, “o verdadeiro problema aqui é o estacionamento, o tratamento do lixo, o tratamento dos jardins”.

Para esta habitante, “houve alguma mudança há dois ou três anos, ao nível da câmara municipal. Deixaram de tratar dos jardins. Agora, nem de mês a mês tratam do lixo, à volta da estação de metro é só lixo. Não há caixotes do lixo”.

Centro de Enfermagem Queijas

Mais jardins

Uma das características que marca a paisagem Odivelas a grande densidade de prédios existente. É também essa a opinião de Tatiana Ribeiro, que entende existirem demasiados prédios e deveriam “existir mais jardins, embora já não exista espaço para construir espaços verdes”.

Uma outra situação que suscita reparos desta moradora é a falta de apoios a idosos. Falta em Odivelas um lar de terceira idade. “Odivelas tinha um lar de terceira de idade da Segurança Social, que foi renovado e, depois, foi vendido a um particular. Andamos a fazer um abaixo-assinado para o lar voltar para a Segurança Social”, refere.

Comércio local sem apoios

Para Luís Valério, 51 anos, um dos proprietários de uma ótica no centro de Odivelas, uma das maiores transformações que se sentiu com a ascensão de Odivelas a concelho, “foi o aumento da oferta de transportes para Lisboa, com a chegada do Metro”.

Luís Valério também notou: “um crescimento muito grande em termos demográficos do concelho, porque cada vez há mais betão, em detrimento dos espaços verdes. E acho que esse planeamento não foi muito bem cuidado por parte da câmara. Estamos a deteriorar a boa vida que podíamos ter no concelho. Obviamente, a pressão imobiliária também tem muita importância, uma vez que as pessoas estão a fugir para as zonas limítrofes de Lisboa”.

A nível de oferta de serviços e necessidades do dia-a-dia, este comerciante revela que “tem tudo o que precisa no concelho, não havendo necessidade de se deslocar a Lisboa”.

Aliás, entende, que “até se têm feito algumas coisas pioneiras, nomeadamente o fornecimento gratuito dos livros escolares até ao quarto ano”.

Como outros moradores, também para Luís Valério uma das maiores dores de cabeça de Odivelas é a limpeza das ruas. “Podia ser uma cidade mais limpa, com mais brio nas suas ruas. Não sei se faz parte do acordo com os SIMAR, ou se faz parte do acordo com as juntas de freguesia, mas a situação não é a melhor possível”.

Como comerciante tem algumas queixas: “Não acho que exista um diálogo muito próximo entre as juntas de freguesia e o comércio local. Tem-se feito alguma coisa, mas podia-se fazer mais. Por exemplo, deveríamos ter uma maior capacidade para que as pessoas pudessem vir aos nossos estabelecimentos. Com a massificação que se tem feito de centros comerciais no concelho, isso dá cabo de tudo o que é comércio local”.

Centro de Saúde

A residir em Odivelas há 40 anos, Olivia Carvalho, 67 anos, considera que a vida dos habitantes melhorou desde que foi criado o concelho. “Agora isto está melhor. Temos mais espaços verdes. O que não gosto muito é o lixo nas ruas. Mas isso também é da responsabilidade das pessoas, pois sabem que há dia certo para pôr o lixo nos contentores, mas põe-no a qualquer hora”.

A maior carência que identifica em Odivelas é a falta de outro centro de saúde. “Estou há cinco anos há espera de médico de família. Abriram o centro de saúde na zona de cima de Odivelas, mas não vai abranger toda a gente. As pessoas que pertenciam ao Centro de Saúde do Bairro Olaio (que fechou), passou para o CATUS. Ora, o CATUS já estava superlotado de doentes, agora pior ainda”.

Um bom sítio para viver

Natural de Odivelas, Susana Cunha, 44 anos, explora uma loja de flores há três anos perto do centro da freguesia de Odivelas. Foi uma espectadora ativa da criação do concelho de Odivelas. Na altura, “achava que era mais um dormitório. Parecia que só se viam pessoas ao fim-de-semana. Agora vê-se sempre movimento em qualquer altura da semana. Odivelas é um sítio muito bom para viver”, defende.

“Temos tudo, nomeadamente os bens de primeira necessidade. Para nós isso é uma mais-valia. Para além de estarmos perto de Lisboa”, sublinha Susana Cunha.

Para esta moradora, “Odivelas é um sítio mais habitável, desde que foram feitas obras nas ruas, a nível de jardinagem. Houve uma grande recuperação das casas, agora estão mais bonitas”.

Quanto à limpeza das ruas, as queixas repetem-se. Susana Cunha entende que “as pessoas não têm civismo. Mandam tudo para o chão. Os monos e as tralhas que têm em casa, mandam tudo para o contentor e nem se lembram de telefonar para a junta vir recolhê-los”.

Amílcar Batista, 77 anos, por seu turno, refere que existe “um melhor ambiente em Odivelas” desde a criação do concelho. Este morador, ao contrário de outros habitantes, nota “uma maior limpeza nas ruas”, em comparação com outros tempos.  Para ele, as coisas mudaram para melhor desde a mudança para concelho, mas não quis especificar quais são as vantagens que trouxe.

Com 85 anos, Rosa Campos considera, por outro lado, que a mudança de concelho trouxe vantagens para os moradores. “Isto agora está mais agradável”. Mas, como não há bela sem senão, a falta de limpeza das ruas é uma das queixas desta moradora que, mesmo assim, “está muito mais limpa do que Lisboa”.

Para esta moradora também é importante o aparecimento de novo comércio de rua. “Apareceram novos estabelecimentos de comércio local, como da restauração”.

Críticas tem em relação aos espaços verdes: “Espaços verdes não há. E os que existem são muito pouco cuidados. Fazem falta mais espaços desses para as crianças”, afirma.

Os acessos a Lisboa foram uma das melhorias mais visíveis para Antonieta, 46 anos, e com o mesmo tempo de residência em Odivelas. Também houve “uma melhoria ao nível da construção e dos serviços de atendimento” ao público. “Também houve uma evolução ao nível das escolas”.

Para esta moradora de Odivelas, “não nos pudemos queixar da falta de oferta de serviços de primeira necessidade, ao nível da saúde, de educação. É uma área que tem sido muito desenvolvida”. Nenhum campo encontrado.

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