Os óculos que o mais universal dos poetas portugueses, Fernando Pessoa, utilizou para escrever «Mensagem» e outros bens pessoais do poeta vão a leilão no próximo dia 18 de março, no Palácio do Correio Velho.
Atualização a 16 março: Palácio do Correio Velho decidiu adiar o leilão para abril, na sequência da suspensão de toda a sua atividade até 30 de março, altura em que a situação será reavaliada “dependendo do estado do país e das instruções governativas”.
As sobrinhas-netas de Fernando Pessoa vão levar à praça, no dia 18 de março, o espólio de Luiz Miguel Rosa, médico, sobrinho e herdeiro do poeta. São várias as peças e artigos de Pessoa, nomeadamente a secretária de trabalho, os óculos que usava, a boquilha e talheres de prata gravados com a letra P, que vão ser leiloados pela Leilões e Antiguidades, SA, sediada no Palácio do Correio Velho, na Calçada do Combro, em Lisboa.
Os lotes das peças que pertenceram ao autor da Mensagem (uma coletânea de poemas sobre as grandes personagens históricos portugueses), incluindo a escrivaninha e vão estar expostos a partir de domingo (15 de março), entre as 15 e as 20 H, também podendo ser apreciadas no dia 16 de março, entre as 15 h e as 21h, no Palácio do Correio Velho.
No leilão, que acontecerá na próxima quarta-feira, irão também à praça outros lotes de peças que o poeta utilizava no seu dia a dia.
Fernando António Nogueira Pessoa (13 de junho de 1888/30 de novembro de 1935) foi o mais universal poeta português. Por ter sido educado na África do Sul, numa escola católica irlandesa, chegou a ter maior familiaridade com o idioma inglês do que com o português ao escrever os seus primeiros poemas nesse idioma.
Enquanto poeta, escreveu sob diversos heterónimos, como Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro, e, no fundo, em leilão na quarta-feira vão estar representadas as diferentes personalidades do poeta.
Palácio do Correio Velho
O Palácio do Correio Velho foi fundado em 1989 com a intenção de entrar no mercado de arte para servir o melhor possível este sector tão importante de identificação, preservação e transmissão de antiguidades e obras de arte, afirma João Pinto Ribeiro, administrador da Leilões e Antiguidades, SA, que, há cerca de 50 anos, se iniciou na arte de compra «de velharias», realizando os «primeiros negócios» em família e com a família.
O leilão inaugural da sua atividade foi com a «Biblioteca de D. Carlos I e de D. Manuel II», que pela sua alta qualidade e raridade se tornou emblemático da empresa no mercado, refere Pinto Ribeiro, um ilustre descendente do navegador e capitão do porto da ilha de Porto Santo, Bartolomeu Perestrello, que lembra que a sua empresa «cedo se firmou numa posição de liderança no mercado leiloeiro de arte, antiguidades e livros».
Pinto Ribeiro é um especialista em José Malhoa. Ao longo da sua carreira vendeu mais de 100 quadros do pintor. E, como conhecedor e amante de arte, refere-se às cores fortes, muita luz…do pintor do país rural e real, intérprete de costumes populares.
Para ele, José Malhoa (1855-1933) é assumidamente um anti moderno, uma figura de referência da pintura portuguesa e que, de certo modo, contribuiu para alguns dos «momentos mais brilhantes da atividade da empresa, que têm sido os Leilões Presenciais de valiosíssimas coleções particulares de Antiguidades, Arte Moderna e Contemporânea e Livros».
Mas, é com algum orgulho que o diz: «para além dos grandes Leilões Presenciais de Antiguidades, o Palácio do Correio Velho deu início aos Leilões Online, onde a identificação temática permite um reconhecimento e acesso mais rápido por parte dos clientes, designadamente em temáticas como Colecionismo, Livros, Gravuras Antigas, Medalhas, Vinhos, Porcelanas, Brinquedos Clássicos, entre outros.
Implementado no mesmo projeto de inovação, e de acordo com as novas tendências de mercado, o Palácio do Correio Velho começou a disponibilizar os Leilões Live, transmitindo os seus Leilões Presenciais em Live Streaming, através da Plataforma Online Internacional Invaluable.
Relógio vendido por 160 mil euros
Uma das coroas de glória da leiloeira foi a venda, em fevereiro, em parceria com a Boutique dos Relógios Plus, Pre-Owned & Vintage Lounge, de um raro relógio de pulso Patek Philippe. Este modelo, ref. 3450, produzido entre 1981 e 1985, trata-se de uma peça extremamente rara – da qual apenas 244 exemplares foram produzidos –, destacando-se como um dos modelos mais colecionáveis e exclusivos do universo da relojoaria.
Raro no mercado internacional e mais ainda no mercado secundário nacional de Pre-Owned, o relógio foi a leilão com uma base de licitação de 80.000 euros, tendo atingido o surpreendente valor de 160.000 euros, estabelecendo um novo recorde nacional.
Peças de José Hermano Saraiva também foram leiloadas
Um outro leilão que Pinto Ribeiro gostou de levar a praça foi o da venda de 350 lotes da Biblioteca do Professor José Hermano Saraiva. O conhecido apresentador do programa televisivo «A Alma e a Gente», sobre a História de Portugal, transmitido na RTP2 entre 2003 e 2011, e de outros programas semelhantes que desde 1971 foram sendo transmitidos pela RTP, foi um advogado, historiador, professor liceal, político, diplomata, divulgador e comunicador televisivo português. Ocupou o cargo de Ministro da Educação entre 1968 e 1970.
«O leilão, que suscitou bastante interesse junto dos clientes do Palácio do Correio Velho, levou a praça 350 lotes de livros da sua biblioteca, que reunia na sua generalidade, livros de arte, literatura clássica, religião, Lisboa, história e leis, crónicas, Índia portuguesa, filosofia», salienta.
José Hermano Saraiva foi um também grande colecionador de Arte e de Livros antigos, tendo reunido uma coleção eclética, composta por peças arqueológicas, esculturas, talha e pinturas de cariz religioso, sobretudo dos séculos XVI e XVII, coleção essa que foi leiloada pelo Palácio do Correio Velho.