NEM TODOS QUEREM SAIR DO BAIRRO DA TORRE

Alguns moradores de bairro da Torre, em Loures, pedem ajuda à autarquia, mas o vereador do pelouro da Habitação revela que alguns recusaram o realojamento proposto pela Câmara Municipal de Loures.

 Os moradores do degradado bairro da Torre, em Loures, escreveram uma carta aberta a pedir uma intervenção urgente para minimizar a sua situação de vulnerabilidade, mas a autarquia diz que há famílias a recusar o realojamento. Por seu turno, a presidente a Associação Torre Amiga, Ricardina Cuthbert, pede a todas as entidades e instituições responsáveis para implementarem medidas «para atenuar a vulnerabilidade e risco acrescido da comunidade da Torre».

«Pelo direito à vida dos moradores do bairro da Torre» é o título da carta enviada as várias entidades e onde a Associação Torre Amiga quer ainda ver garantidos o fornecimento de água e saneamento básico às famílias que continuam sem acesso domiciliário a esses serviços e a criação de condições para as crianças poderem seguir as suas aulas em casa. Os moradores reivindicam ainda a melhoria imediata das condições de habitabilidade existentes, para salvaguarda do mínimo de condições sanitárias, de segurança e de dignidade, com o apoio de organizações da sociedade civil amigas do bairro

Todavia, segundo o vereador do pelouro da Coesão Social e Habitação da Câmara Municipal de Loures, Gonçalo Caroço, a autarquia tem feito tudo para resolver os problemas do bairro, mas existem famílias a recusar o realojamento. «Há quatro famílias que recusaram a solução de realojamento encontrada pela Câmara de Loures, inclusive a primeira signatária da carta, que é a presidente da associação de moradores», afirma Gonçalo Caroço.

No bairro da Torre, situado em Camarate, residem atualmente 18 famílias em condições precárias, sem acesso a luz elétrica e, por isso, numa altura em que o país se encontra em estado de emergência devido ao surto da covid-19, a Associação de Moradores do Bairro da Torre decidiu escrever uma carta aberta a alertar para a situação de vulnerabilidade em que vivem.

Na carta, assinada por 313 pessoas e dirigida a várias entidades, entre elas o Presidente da República, a secretária de Estado da Habitação e o presidente da Câmara Municipal de Loures, os moradores pedem o fornecimento de energia elétrica, de água e saneamento e a «melhoria imediata das condições de habitabilidade», porque «a vida numa barraca sem nada, que não protege do frio, da chuva, dos ratos e que pode cair com os ventos fortes tem deixado marcas, que agora são mais difíceis de aguentar. Nestas condições agravadas de precariedade, a observação de quarentena e de convalescença em caso de contágio são muito limitadas».

Passividade do IHRU

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Entretanto, o Bloco de Esquerda, em comunicado de 17 de abril, apelou «ao entendimento entre as entidades responsáveis – Câmara Municipal de Loures e IHRU – para que seja possível, no mais curto espaço de tempo possível, encontrar-se uma solução definitiva, que permita manter a dignidade e a coesão das famílias do Bairro da Torre e que lhes possibilite encarar o futuro com um laivo de esperança».

Em resposta, o vereador do pelouro da Coesão Social Habitação lembra que a Câmara de Loures tem sido a única a tentar resolver o problema dos moradores do bairro da Torre. lamentando, à semelhança do BE, a passividade de algumas entidades, nomeadamente do Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU).

«Estamos a fazer o nosso trabalho e a realojar à medida das nossas possibilidades. Já as outras entidades não dão resposta», salienta Gonçalo Caroço, revelando que o município procedeu, a semana passada, ao realojamento de duas famílias e que durante esta semana haverá o realojamento de outra.

O autarca disse ainda que o município tem entregue refeições escolares às crianças que vivem no bairro. «O objetivo é que as famílias que ainda vivem na Torre saiam dali e possam ser realojadas em habitações dignas. Lamentamos é que os principais responsáveis por esta carta se recusem a sair, mesmo que lhes tenham sido apresentadas alternativas», concluiu.

Mas, segundo o Bloco de Esquerda as soluções de realojamento apresentadas dispersam e desagregam a comunidade, salientando que os realojamentos devem ser «efetuados de acordo com as melhores práticas internacionais, evitando desagregar comunidades que, muitas vezes, fazem da interdependência e da cooperação informal verdadeiras redes de assistência social».

Alias, apesar de «estarmos a viver tempos de solidariedade e de esperança», devendo orientar todos os «esforços no combate ao Covid-19, a presidente da Comissão de Moradores, Ricardina Cuthbert, é clara e não se coíbe de defender que «os realojamentos tem de ser feitos na zona», porque «todos gostamos de viver no bairro da Torre. Apenas queremos é ter uma casa digna».

Os bloquistas e os responsáveis da Câmara estão de acordo num ponto: é urgente encontrar uma solução definitiva para as 37 famílias que ainda residem do Bairro da Torre.

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