A Penha de França é um bairro envelhecido, onde as pessoas têm dificuldades em deslocar-se por causa da sua orografia. Com a pandemia a situação agravou-se e, muitos idosos, deixaram de sair à rua, mesmo para a compra de bens essenciais.
Foi em tempos uma zona de quintas e hortas onde numerosos lisboetas se deslocavam para passear, e onde foram erguidos imponentes e majestosos solares para viverem famílias senhoriais. Hoje, a Penha de França, em Lisboa, mantém ainda essa aura de um local senhorial, de famílias de classes média e alta. Aqui vivem famílias completas, jovens e adultos, pois as habitações assim o permitem.
A Avenida General Roçadas, que atravessa o bairro ligando São João até à Graça, é o espelho mais visível desta tradição. Todo o bairro teve uma evolução sustentável, sendo uma zona segura e com muita tradição (como é o exemplo das conhecidas marchas populares que juntam moradores em torno do mesmo objetivo todos os anos).
Com uma grande densidade populacional, e maioritariamente envelhecida, e também por causa da pandemia e do período de férias que estamos a atravessar, não se vê muita gente na rua. Muitos só estão de passagem. Mas, ao chegar à Praça Paiva Couceiro, apesar do risco de contágio pelo covid-19, ainda se vislumbram alguns grupos de jogadores de sueca, reunidos à volta das mesas de madeira do largo.
Idosos querem mais mobilidade
«Esta é uma zona com uma mistura muito grande de etnias e classes sociais, para onde vieram morar muitos retornados. Quando vim morar para aqui, a Penha de França era mal-afamada, ninguém queria morar aqui. Hoje, apesar do Covid, todos querem ter aqui um apartamento», diz Josefa Matos Mira, com 73 anos.
Contudo, conforme adianta, «ainda há muito a fazer no bairro», principalmente em relação à mobilidade dos mais idosos», lembrando que a Penha de França é um bairro situado no topo de uma das colinas de Lisboa, a 110 metros de altitude, o que lhe permite ser um dos grandes miradouros da cidade.
Maria Antonieta, reformada, que vive próximo do mercado de Sapadores, considera que na «Penha de França vive-se uma vida tranquila, numa zona muito bem localizada, com bons equipamentos sociais, e uma boa rede de transportes públicos».
Contudo, à semelhança de D. Josefa, lembra que a freguesia esta situada num dos pontos mais altos da cidade, com subidas e descidas íngremes, o que não ajuda à deslocação da maioria da população residente, muito envelhecida. «Mesmo antes da pandemia, muitos idosos só saiam de casa para irem ao supermercado», adianta.
Degradação dos prédios
Outra das queixas prende-se com a não requalificação do espaço público, há prédios a ruir e muito lixo nas ruas, diz João Afonso, 49 anos, empregado de balcão. «É um bairro muito velho, os mais novos saem todos daqui porque as casas estão pela hora da morte. A Rua da Penha de França está apagada, há prédios muito antigos há anos», lamenta, por seu turno, Graça Carvalho, 70 anos, a viver na Penha de França desde os 19.
As faltas de espaços verdes na freguesia levam os moradores a não passarem tanto tempo no bairro onde vivem. «Existem pessoas com casa na Penha, mas que vão para a Graça ou para a Baixa fazer compras e não consomem aqui. Há muitas lojas fechadas e não é por falta de população», queixam-se os comerciantes.
O miradouro da Penha de França parece ser a única razão porque os lisboetas e os turistas visitam a zona. Os moradores sentem, ainda assim, que poucos sabem da existência do ex-líbris. «Temos um miradouro lindíssimo e muito pouco conhecido, é uma pena. É um dos mais bonitos da cidade», salienta Nuno Marques, 35 anos, considerando que, apesar da «falta de investimento na zona, já há muita gente nova, estudantes e estrangeiros, a procurar a Penha».
Para este morador, «o maior problema da freguesia é a falta de estacionamento. Estamos à procura de lugar durante uma hora e acabamos por deixar o carro a quase cinco quilómetros do sítio onde queremos ir».