O Centro Sagrada Família de Algés foi um dos mais «importantes auxiliares» da Câmara de Oeiras e da União de Freguesias no apoio às famílias mais carenciadas do concelho, confecionando mais de 1200 refeições/dia.
O Covid-19 trouxe novos desafios, difíceis de imaginar às várias instituições que, como puderam, foram resolvendo as situações mais graves que surgiam. Foi o que sucedeu no Centro Sagrada Família de Algés que, de um dia para outro, «se viu a braços» com a confecção de 8400 refeições/semana para famílias, pessoas isoladas e também para os mais carenciados do concelho de Oeiras, por causa da pandemia.
Amélia Borges, diretora técnica deste centro das Irmãs Dominicanas Irlandesas, considera que esta pandemia obrigou, tanto as instituições particulares de solidariedade social, como o Governo e as autarquias, a serem criativos e a reinventarem-se para conseguirem levar o seu apoio aos mais necessitados.
Nem o presidente da União de Freguesias «fugiu» à cozinha
«Estivemos sempre a trabalhar e, diariamente fazíamos 1200 refeições que eram confeccionadas por alguns chefes de cozinha conhecidos, nomeadamente os Chefes António Alexandre, Carlos Pinto, Hélder Pereira e Diogo Fonseca e também o presidente da União de Freguesias de Algés, Linda-a-Velha, Dafundo e Cruz Quebrada, Rui Teixeira, que, durante vários dias, foi chefe de cozinha na Sagrada Família, preparando cerca de 250 refeições/dia».
De facto, como faz questão de referir Amélia Borges, com a proliferação do novo coronavírus, a declaração de Estado de Emergência e as renovadas situações de Calamidade, cresceu a também chamada «crise pandémica no que concerne às questões socioeconómicas». As estruturas de apoio social e combate à pobreza municipal ou de associações/IPSS tiveram de se adaptar a esta nova realidade, mantendo o acompanhamento às famílias carenciadas já sinalizadas, mas estando de olho nos novos casos que necessitavam de apoio.
A economia condicionada e suspensa veio trazer instabilidade à maioria das famílias, muitas vendo os seus rendimentos diminuídos por regimes de lay-off, outras sem trabalho em setores como a construção civil, hotelaria e restauração, pequeno comércio ou oficinas de mecânica.
«Juntam-se a estes tantos outros trabalhadores que caíram no desemprego e não têm como sustentar a família e fazer face às despesas do quotidiano», defende a diretora da Sagrada Família, acrescentando que foi «nestas situações de carência de ordem social e económica que municípios, instituições de solidariedade social e associações concentraram a sua atenção nas mais diversas ações, projetos e medidas de apoio aos mais carenciados».
Na Sagrada Família, uma IPSS com uma forte componente de voluntariado, a procura por ajuda e apoios fez-se notar assim que a pandemia se instalou. O grande objetivo foi «oferecer apoio imediato quanto a bens de primeira necessidade e depois facultar as ferramentas adequadas para se tornarem autónomos», explica Amélia Borges, salientando que existia «um programa de cantina que não podia deixar de ser feito e, por isso, quando foram solicitados pela Câmara de Oeiras para confecionarem refeições aceitaram de imediato.»
Esta instituição disponibilizou, além de bens alimentares, vestuário e roupa para casa, móveis e eletrodomésticos, apoio ao estudo, apoio psicológico, apoio na procura de emprego e apoio ao sobre-endividamento.
Ao serviço da comunidade
O Centro a Sagrada Família é uma instituição da Fundação Obra Social das Religiosas Dominicanas Irlandesas, sediado em Algés, concelho de Oeiras, reconhecida como I.P.S.S. desde 1993 e que desenvolve a sua atividade em duas áreas principais: a Educativa – através da Creche, Pré-Escolar e Campo de Férias; e a de Apoio à Comunidade (Projeto Famílias com Alma), com o objetivo de contribuir para a inclusão e capacitação e reduzir o isolamento.
A área educativa rege-se por uma pedagogia em participação, que assume vários modelos ou perspetivas de inspiração construtiva ou socio-construtiva: o modelo Reggio Emília, o modelo do Movimento Escola Moderna (MEM), o modelo High/Scope, entre outros, procurando que «as crianças na nossa escola cresçam de acordo com os seguintes objetivos educativos: viver a experiência, descobrir a vida; envolver-se no processo de aprendizagem pela experimentação; dar significado à experiência, construindo as aprendizagens; consolidar as aprendizagens e promovendo o desenvolvimento integral da criança», O Centro da Sagrada Família possui instalações para crianças dos 4 meses à idade de ingresso no 1.º ciclo do ensino básico, abrangendo cerca de 200 crianças, através das respostas de Creche e Pré-escolar e realizando ainda Campo de Férias, para crianças dos 6 aos 13 anos.
Formação profissional e ajuda na procura de emprego
Este Centro promove também atividades de formação profissional e de apoio à comunidade, dando «educação e conhecimento para as pessoas se defenderem». Utilizando uma metáfora para justificar esta atitude, Amélia Borges resume: «Damos o peixe e ensinamos a pescar, é o que tentamos fazer».
O Centro Sagrada Família iniciou a sua atividade formativa em 1997, estando certificada pela Direção Geral do Emprego e Relações do Trabalho (D.G.E.R.T.) nas seguintes áreas de educação e formação: Desenvolvimento pessoal; formação de professores e formadores de áreas tecnológicas; informática na ótica do utilizador; serviço de apoio a crianças e jovens, Enquadramento na organização/empresa e Trabalho social e orientação.
O Centro promove um apoio complementar às famílias das suas crianças e formandos, procurando igualmente dar resposta às necessidades da comunidade em geral, através de acompanhamento pessoal e social, enquadramento em ações de formação profissional e disponibilização de produtos alimentares essenciais, doados por particulares, para reforço dos cabazes alimentares distribuídos às famílias identificadas.
Programas para todas as gerações
Por outro lado, promove as relações intergeracionais através de ateliers e atividades coordenadas por uma equipa de profissionais, que trabalha em conjunto com os séniores, as crianças e pessoas com incapacidade, num programa a que que chamou: Avós e Companhia, tendo ainda uma Academia Sénior – “Oficina de Saberes”.
A Sala Aberta é um outro programa desta instituição que visa o apoio à Primeira Infância. Na prática é um lugar de encontro, partilha, lazer e apoio educativo para crianças dos 0 aos 3 anos, que não frequentam instituições de infância e seus cuidadores.
O Põe-te a Mexer é uma iniciativa que promove a prática de voluntariado nos jovens, desenvolvendo as capacidades e competências de cidadania e a consciência da responsabilidade social.
Desde 1693 em Portugal e desde 1993 em Algés
A Fundação Obra Social das Religiosas Dominicanas Irlandesas (F.O.S.R.D.I.), existente em Portugal desde 1639, criou, em 1993, o Centro Sagrada Família (C.S.F.), sediado na Quinta do Leonel, em Algés, onde ainda hoje mantém as suas instalações, dando apoio a crianças oriundas das famílias residentes em Algés e outras freguesias do concelho de Oeiras e Lisboa, com o objetivo de promover, de forma sustentada, a educação integral da criança, regendo-se pelos valores católicos dominicanos, nos quais assentam os princípios educativos da sua ação.
As suas atividades são desenvolvidas na Quinta do Leonel em Algés, em 4 pavilhões de piso térreo, rodeados de um amplo espaço verde e recreio exterior coberto e descoberto.
Em 2013, a Câmara Municipal de Oeiras cedeu-nos o espaço anexo ao Centro Sagrada Família (Quinta de Santa Marta) para que pudéssemos ampliar as nossas instalações.
A Fundação tem outros centros ligados à atividade educativa, designadamente o Colégio do Bom Sucesso e Casinha de Nossa Senhora, ambos sediados em Belém.