COMERCIANTES E MORADORES DE ODIVELAS CONTRA CRIAÇÃO DE CICLOVIA NA AVENIDA D. DINIS

Os atrasos das obras na Avenida D. Dinis e no Centro histórico de Odivelas, estão a pôr «os nervos em franja» a moradores e comerciantes que não entendem, também, os motivos que levaram à redução de uma faixa de rodagem e à criação de uma ciclovia, numa zona envelhecida.

Uma cidade voltada para as pessoas e que permita a todos ‘Viver Odivelas’ em pleno, é o slogan utilizado pela Câmara Municipal de Odivelas para a requalificação do espaço público e da rede viária que o Município tem vindo a desenvolver”. Contudo, apesar dessas intenções, moradores e comerciantes mostram-se «agastados» com as obras na zona histórica da cidade (perto da Câmara) e na Av. D. Dinis, por não entenderem os constantes atrasos das obras, os motivos que levam à redução da via rodoviária e à criação de uma ciclovia.

Neste momento, em Odivelas todos estão de acordo com a necessidade destas obras, mas também todos são unânimes em condenar os constantes atrasos das obras. «Isto começou logo com atrasos. Agora querem justificar-se e culpam a pandemia. Mas, mesmo que isso seja verdade, não justifica atrasos tão significativos», adianta D. Rosália, proprietária do restaurante «O Escondidinho», na Rua do Neto.

Apesar de compreender a necessidade das obras, D. Rosália lamenta «o tempo que se demora a fazer qualquer coisa».

Já Rui Gomes, proprietário da Churrasqueira Dom Pollo, junto à Câmara Municipal, desabafa: «as obras já começam a saturar, afetando o negócio». Segundo Rui Gomes, a instalação de um «autêntico estaleiro», cheio de entulho à sua porta, não facilita o «acesso das pessoas ao restaurante» que, antes da pandemia, empregava 9 pessoas e, agora, «está reduzido a 4 empregados», porque só «servem almoços.

Por seu turno, Guilherme Duarte Esteves, morador na Rua do Souto e membro do Quadro de Honra dos Bombeiros Voluntários de Odivelas, queixa-se da constante falta de pressão e dos cortes de água provocados pelos arranjos que estão a ser realizados na rede de água.

Segundo ele, as obras já deveriam ter sido feitas há muito tempo, mas, por mais que se desculpem, não «se consegue entender estes constantes atrasos».

Centro de Enfermagem Queijas

D. Dinis – um «bico d’obra»

Um facto, é que a imagem do centro de Odivelas e particularmente da Avenida Don Dinis está a mudar devido às obras de requalificação daquela artéria estruturante da cidade que ficará só com um sentido de trânsito, via rodoviária diminuída, passeios alargados e uma ciclovia. Mas, moradores e comerciantes queixam-se: «não faz sentido criar uma ciclovia numa zona habitada maioritariamente por pessoas idosas, encurtando a via rodoviária que só permite a passagem de um carro».

Por causa das obras e da pandemia, as manhãs na Avenida D. Dinis são, neste momento, extremamente calmas, «os negócios estão parados», afirma o senhor José Pereira, proprietário do snack-bar Smiling Bubbles, situado na Avenida D. Dinis.

Aliás, essa situação também é confirmada por Alberto Pinhão, proprietário da Fábrica de Óculos de Odivelas e da Óptica de S. Cristovão, para quem «as obras estão a afetar gravemente os negócios».

A mesma opinião é partilhada por Ana Silveira, da D. Dinis Modas, que se queixa de estar a registar quebras nas vendas na ordem dos 90%. «Isto era para começar e acabar tepidamente mas, pelos vistos, vão continuar a adiar a abertura faseada dos diferentes troços», adianta a empresária, lamentando  «a falta de respeito e de consideração pelo cidadãos que está a ser demonstrada pela Câmara Municipal e pela Junta de Freguesia» que não respondem «as nossas perguntas, nem  aos nossos mails»,

Apesar de reconhecer que as obras são importantes, o empresário José Pereira e a D. Maria Augusta, uma cliente do Smiling, consideram «despropositado» criar-se uma ciclovia na Avenida D. Dinis, encurtando-se a via rodoviária, numa zona habitada por pessoas idosas que, muitas vezes, precisam de «chamar uma ambulância para as ir buscar». Do ponto de vista de José, «até por questões de segurança e proteção civil, esta avenida deveria manter as duas faixas de rodagem».

Maria Augusta confirma esta opinião do empresário, acrescentando: «se um carro estiver parado, o outro já não passa, provocando um engarrafamento de trânsito e se, por azar, for necessária uma ambulância ou um carro de bombeiro deslocar-se para o final da Avenida, como é que passa?»

Comerciante e cliente defendem que a ciclovia poderia ser implementada na zona do Jardim da Amoreira, na Ramada ou noutro sítio qualquer. Tudo menos na Avenida principal de Odivelas».

A mesma opinião é partilhada por João Mendes, carpinteiro em Serra Chã, que chama a atenção para o trânsito caótico, em horas de ponta, existente em Odivelas. «Mesmo antes das obras, o trânsito já era péssimo. Agora, como é lógico, com a redução da ‘estrada’ vai ficar pior», diz convictamente João Mendes, reconhecendo, no entanto, que esta zona de Odivelas assim como o centro histórico, junto à Câmara Municipal, «estão a precisar de obras profundas».

Como acrescenta a moradora Anabela Simões, que se encontrava a tomar um café na esplanada da Pastelaria D. Dinis, «as obras são necessárias e vão embelezar toda esta zona, mas não se pode admitir é que uma obra, que estava para ser iniciada em 2019, só tenha começado em Fevereiro de 2020, uns dias antes do Covid».

O proprietário do Smiling recorda que, em finais de maio, os empresários e alguns moradores aproveitaram uma vista do presidente do CDS PP, Francisco Rodrigues dos Santos, para se queixarem desta obra que, de certa forma, está a causar vários problemas financeiros ao comércio local, no momento em que «começávamos a ultrapassar os efeitos económicos neste ramo de atividades e os efeitos psicológicos da clientela causados pelo COVID-19 em Odivelas».

Obras superiores a um milhão de euros

Para a Câmara Municipal de Odivelas, estas obras vão conferir mais modernidade e dinâmica local, permitindo a todos ‘Viver Odivelas’ em pleno, dando continuidade à requalificação do espaço público e da rede viária que o Município tem vindo a desenvolver”.

Em conjunto com os SIMAR, a autarquia está a realizar a requalificação da Avenida D. Dinis, em Odivelas, em três fases, com a duração prevista de 270 dias, representando um investimento total de 1.249 mil euros (um milhão e duzentos e quarenta e nove mil euros).

Comparticipadas com fundos comunitários, as obras destinam-se a «modernizar pavimentos, melhorar a iluminação pública, criar mais bolsas de estacionamento, substituir a rede de abastecimento de água e reformular os pontos de recolha de resíduos. O investimento ascende a mais de três milhões de euros e o desafio é fazer de Odivelas um município mais moderno, mais agradável à sua fruição, com melhores condições de mobilidade de modo a que as pessoas possam viver a cidade, como referiu o presidente da Câmara Municipal de Odivelas, Hugo Martins», afirma a edilidade.

Assim, no Centro Urbano vai ser criada uma Zona 30, na qual e conforme a sua designação os automóveis não podem circular a uma velocidade superior a 30 Km/hora. Quanto à Avenida D. Dinis, passará a ter uma maior zona pedonal e apenas um sentido entre a rua Guilherme Gomes Fernandes e o cruzamento do Centro Comercial Oceano, onde será construída uma rotunda.

A intervenção, adjudicada à empresa Luís Frazão S.A., contempla a criação de novas bolsas de estacionamento, a introdução de medidas de acalmia de tráfego, a renovação da rede de abastecimento de água, a reformulação dos pontos de recolha de resíduos urbanos e a requalificação do espaço público e da rede viária, tendo em vista uma cidade mais moderna, mais segura e mais atrativa.

3 COMENTÁRIOS

  1. E a falta de estacionamento, para quem sai do trabalho a partir das 20h/21h é um absurdo ter que deixar o carro a 10 min/15min de casa

  2. Os comerciantes da Rua D. Dinis deviam ir perguntar aos seus colegas da Av. da República em Lisboa se mantêm a opinião que tinham antes da ciclovia e que eram exactamente iguais a estas. Há milhares de ruas com passeios estreitos, com 3 vias, mas duas delas são estacionamento. Nunca ninguém colocou em causa o problema das ambulâncias. Depois falam em idosos, quando uma das obras é o alargamento dos passeios. Finalmente. Os carros e os seus ocupantes não fazem compras. Quem faz compras são as pessoas que andam a pé ou mais devagar. Os utilizadores das bicicletas mais facilmente verão produtos nas montras e pararão para comprar. Mas é normal numa sociedade carro-centrada….

  3. O cerne da questão aqui é: quantas bicicletas vão circular nessas ciclovias? Foi feito um estudo prévio se o número de velocípedes merecia todo o desconforto que acarreta? Eu vivi em Odivelas 58 anos e na Avenida Dom Diniz 30 anos, e posso contar as bicicletas, a dia putos não contam, ao longo dos quase 60 anos… Haja tino e ponderação…

Quer comentar a notícia que leu?