MEMÓRIA DE ALCINDO MONTEIRO PERPETUADA NA R. GARRET

A Câmara de Lisboa inaugurou uma placa em homenagem a Alcindo Monteiro na Rua Garret, onde o jovem de ascendência cabo-verdiana foi assassinado há 25 anos, num crime de ódio racial, reafirmando os «valores anti-racistas» da cidade.

No dia do seu aniversário, que se celebrava no dia 1 de outubro, a morte de Alcindo Monteiro foi assinalada pela Câmara Municipal de Lisboa com a colocação de uma placa no local onde foi assassinado, na presença dos pais, vários familiares e amigos.

Alcindo Monteiro, um jovem português de ascendência cabo-verdiana, foi assassinado na Rua Garret há 25 anos, num crime de ódio racial e com a colocação da placa de homenagem, a Câmara de Lisboa quis perpetuar a memória sobre a sua vida e sobre o que a sua morte representou: «um gesto de barbárie de uma ideologia que não se desvaneceu e que ainda está presente sob muitas formas em muitos países, incluindo Portugal».

Numa cerimónia presidida pelo presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, foi descerrada a placa de homenagem com a seguinte inscrição: «Nos 25 anos do assassinato de ALCINDO MONTEIRO (1967-1995) – neste mesmo local, a cidade de Lisboa reafirmou o seu dever de memória e justiça e o seu compromisso com o combate ao racismo e ao fascismo sob todas as suas formas.»

Para Fernando Medina, a homenagem a Alcindo Monteiro também «tem o significado de combate ao racismo, à xenofobia e à intolerância», lembrando que Lisboa «é uma cidade aberta e tolerante».

Esta homenagem, na data do seu aniversário, como salientou Fernando Medina, pretendeu também «afirmar com muita clareza uma mensagem sobre o nosso futuro enquanto cidade e enquanto país», porque a construção da sociedade, faz-se «num combate direto às manifestações mais violentas de racismo e intolerância», afirmou o autarca.

«Há 25 anos, Alcindo Monteiro, um português de 27 anos, foi barbaramente assassinado em Lisboa por uma simples razão. Por ser negro», afirmou Fernando Medina, salientando que não «aceita que o racismo, a xenofobia e a intolerância sejam uma realidade em Lisboa».

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«Não vamos por aí, vamos pelo caminho de uma cidade aberta, tolerante, cosmopolita, que todos integra», afirmou Fernando Medina, após ter evocado os valores da tolerância e da inclusão da cidade de Lisboa.

O autarca referiu, a terminar, que «falta cumprir uma promessa, feita aquando da homenagem no dia 11 de junho, a criação de uma bolsa de estudo anti-racismo para apoiar todos os que vão estudar a forma como a sociedade se defende destes fenómenos de violência».

Anteriormente, o pai de Alcindo Monteiro, Bernardo Monteiro, que foi fogueiro num ferryboat na Alemanha e mais tarde trabalhou no Hospital de Almada, evocou a trágica madrugada de 10 para 11 de junho, recordando que o filho tinha uma paixão pela dança e que era um ótimo cozinheiro de cachupa e de sorriso fácil.

Bernardo Monteiro lamentou ainda que, passados 25 anos, os assassinos estejam em liberdade e novamente a contas com a justiça, salientando que a «dor de perder um filho permanece».

Morto aos 27 anos

Alcindo Monteiro, de origem cabo-verdiana, tinha 27 anos quando foi assassinado. Vinte e cinco anos depois, os assassinos já estão em liberdade e novamente a contas com a justiça: em maio deste ano, o Ministério Público constituiu como arguidos 37 neonazis suspeitos de agressões brutais e tentativas de homicídio contra afrodescendentes e homossexuais, entre os quais se contam cinco dos condenados pela morte de Alcindo Monteiro.

Alcindo Monteiro, o homem português nascido em Cabo Verde e morto em 1995 em Lisboa, faria 53 anos.

No dia 10 de junho de 1995, Alcindo, na altura com 27 anos e residente no Barreiro, tinha vindo a Lisboa para se divertir. Nessa mesma noite, um grupo de skinheads agrediu várias pessoas – todas elas negras. Alcindo morreu nessa noite, espancado pelos agressores. Foi encontrado sem sentidos na rua Garrett.

Essa foi também a noite em que muitos comemoravam: passados 18 anos, o Sporting tinha vencido a Taça de Portugal. A segurança estava focada nos festejos dos leões – nada fazia prever que, muito perto dos locais das comemorações, um homem estava a ser espancado até à morte e outros 10 estavam a ser agredidos violentamente. Mas a verdade é que a identificação dos agressores acabou por ser rápida. A forma como se vestiam ajudou: «as calças de ganga curtas e dobradas no fundo, para mostrarem as botas de biqueira de aço – na maioria da marca britânica Doc Martens e Sendra -, as t-shirts e calças com padrão camuflado, blusões negros, e o cabelo rapado – um suposto sinal de limpeza», como descrevem vários testemunhos, citados pelo Observador.

Nove pessoas foram detidas naquela noite.

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