CARLOS CASTRO JUSTIFICA-SE

O vereador Carlos Castro que, ontem, apresentou a sua demissão ao presidente da Câmara Municipal de Lisboa, publicou no Facebook uma cópia da carta endereçada a Fernando Medina, justificando os motivos que estiveram na origem da vacinação de vários dirigentes da autarquia, incluindo ele próprio.

O vereador da Proteção Civil de Lisboa, Carlos Castro, justifica o seu pedido de demissão, ontem apresentado ao presidente da Câmara, com o facto de «não querer que os serviços municipais percam o seu foco, porque ainda estamos num árduo combate» contra o Covid19, e não querer «contribuir para uma situação de instabilidade interna».

Carlos Castro reconhece que, na sua decisão, «pesou» a divulgação «fornecida à imprensa, na semana passada, do processo de vacinação nos lares da cidade de Lisboa, na qual se referiu que foram vacinados dirigentes da CML (Comandantes do Regimento de Sapadores Bombeiros e da Polícia Municipal, Diretora da Higiene Urbana), além de mim próprio», o que causou «mal-estar em vários serviços do Município».

Agradecendo a Fernando Medina a confiança depositada «em mim ao longo dos últimos anos», Carlos Castro admite que «as vacinas que foram administradas, sobras dos lares vacinados, foram, de facto, aplicadas a pessoas que estavam, e estão, desde o primeiro momento, ou seja, desde março de 2020, na linha da frente de combate à pandemia».

Assumindo a responsabilidade da vacinação dos dirigentes municipais Carlos Castro justifica a necessidade de vacinação dos comandantes da Regimento de Sapadores Municipais e da Polícia Municipal, assim como dos técnicos superiores da Higiene Urbana, por serem «essenciais na estrutura municipal e indispensáveis no dispositivo de resposta à pandemia».

Olhares de Lisboa publica na integra a carta enviada por Carlos Castro a Fernando Medina, onde o ex-vereador se «coloca à disposição das autoridades» para um melhor esclarecimento da situação:

Carta de demissão enviada a Fernando Medina


«Exmo. Sr. Presidente da CML,

Face à divulgação fornecida à imprensa, na semana passada, do processo de vacinação nos lares da cidade de Lisboa, na qual se referiu que foram vacinados dirigentes da CML (Comandantes do Regimento de Sapadores Bombeiros e da Polícia Municipal, Diretora da Higiene Urbana), além de mim próprio, estes dados causaram mal-estar em vários serviços do Município.

As vacinas que foram administradas, sobras dos lares vacinados, foram, de facto, aplicadas a pessoas que estavam, e estão, desde o primeiro momento, ou seja, desde março de 2020, na linha da frente de combate à pandemia.

Havendo sobras, de mais de 6 mil pessoas vacinadas na primeira semana de vacinação dos lares, e com a validação das autoridades de Saúde, e cumprindo as normas da DGS, de aplicação das vacinas a elementos da primeira linha, as 126 sobras foram aplicadas a pessoas que estavam diretamente ligadas a este processo.

A responsabilidade da vacinação dos dirigentes municipais é da minha inteira responsabilidade, pois são pessoas, que dependendo diretamente de mim, como é o caso do RSB e da HU, ou coordenando diretamente comigo o trabalho no terreno, como a PM, são essenciais na estrutura municipal e indispensáveis no dispositivo de resposta à pandemia.

Desde março de 2020 que têm sido inúmeras as respostas, sempre recorrendo a estes serviços municipais, sem os quais muito do trabalho de apoio a milhares de pessoas não teria sido possível fazer: da operação muito delicada com centenas de requerentes de asilo, e amplamente mediatizada na Primavera passada, ao apoio constante aos lares da cidade (foram apoiados 140 lares, seja com equipamentos de proteção individual, seja com respostas de retaguarda que assegurámos, dados os surtos e as dificuldades dos lares protegerem os seus utentes – respostas dadas sempre com caráter de urgência); das centenas de descontaminações em equipamentos da cidade feitas pelo RSB ao acompanhamento de pessoas com Covid no domicílio feitas pela PM; do auxílio da separação e recolha de resíduos a várias instituições por causa da pandemia à construção do Hospital de Campanha; da operacionalização da campanha de vacinação contra a Covid, entre muitas outras operações, de menor dimensão, mas não de menor impacto na vida de muitas pessoas, muito deste trabalho só foi possível pela participação destes serviços municipais.

Desconsiderar ou ignorar por algum momento a importância do comando destas operações, nos vários sectores, para não perder capacidade e eficácia de resposta, como se conta em Lisboa, seria e é um erro.

A preservação da condição pessoal e disponibilidade permanente destes dirigentes é essencial para o sucesso destas operações.

Quanto à minha pessoa, todos os elementos da Saúde da cidade de Lisboa: de Delegados de Saúde a Diretores Executivos dos ACES, dos dirigentes da ARSLVT às equipas das Unidades de Cuidados na Comunidade, podem comprovar que estive sempre presente e disponível para responder, em especial às circunstância mais difíceis, como por exemplo a que se viveu no Dia de Natal, quando surgiu um dos casos mais delicados neste quadro pandémico, com um surto numa estrutura infantil, sem qualquer condição interna de proteger crianças e adolescentes, e fomos nós a garantir o apoio e sustentação, porque mais ninguém conseguia assegurar, dada a quadra que se vivia.

Quanto ao plano de vacinação contra a Covid, não só tive a responsabilidade de o desenhar como implementar no terreno e acompanhar os primeiros dias de trabalho, como tenho o cuidado de fazer, verificando se está tudo a correr como planeado, contando, como sempre, com a presença dos meus dirigentes.

Recebi a sobra de uma vacina, medida que foi validada por um Delegado de Saúde.

Nunca quis beneficiar de nada, nem prejudicar ninguém. Não houve nenhuma pessoa de um lar da cidade, utente ou profissional, a quem ficou por dar uma vacina. Restaram sobras, para as quais as palavras dos Delegados de Saúde eram, e são, objetivas: “não se desperdiçam vacinas”. Agi sempre da melhor forma possível, procurando cumprir o meu trabalho com rigor, dando sempre o meu melhor. E estes longos e duros meses requereram mais do que o melhor de nós.

Estou inteiramente disponível para prestar todas as declarações às autoridades competentes de um trabalho que partilhei com dezenas de elementos da Saúde da cidade, além de centenas de pessoas de outras instituições que diretamente contribuem para a resposta do dispositivo da cidade.

Nunca procurei, ao agir desta forma, gerar um mal-estar nos serviços da Câmara, a quem só posso reconhecer profissionalismo e dedicação, dos principais dirigentes ao mais humilde trabalhador.

Por não querer que os serviços municipais percam o seu foco, porque ainda estamos num árduo combate, e não quero contribuir para uma situação de instabilidade interna; verifico não estarem reunidas as condições para permanecer em funções e por isso apresento a minha renúncia ao cargo.

Em Política, as palavras e os atos contam e só com responsabilidade correspondemos totalmente à missão pública que nos foi confiada.

Por último, mas não em último, uma palavra de reconhecimento e profundo agradecimento ao Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, pela confiança depositada em mim ao longo dos últimos anos, que procurei, sempre com lealdade e empenho, corresponder da melhor forma que sabia e podia, em prol da melhoria da cidade de Lisboa e da segurança das pessoas.

Carlos Manuel Castro

P.S. – Obrigado Lisboa.»

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