Oeiras formalizou ontem, oficialmente, a sua candidatura ao título Capital Europeia da Cultura 2027, que remonta a 1985, tendo distinguido até à data mais de 50 cidades. O título é atribuído anualmente pela Comissão Europeia a duas cidades da Europa, localizadas em países diferentes.
A Câmara Municipal de Oeiras apresentou ontem oficialmente a candidatura a Capital Europeia da Cultura 2027, apelando à participação dos cidadãos, para que a comunidade do concelho seja «mais coesa, plural inclusiva e sustentável no futuro» e, tanto para o presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Isaltino Morais, como para o Comissário da Candidatura do programa Oeiras 27, Jorge Barreto Xavier, «Oeiras sairá sempre a ganhar com esta candidatura», mesmo não a vencendo.
A cerimónia de apresentação do programa Oeiras27, conduzida por Rui Unas e que decorreu no auditório do Taguspark, em Porto Salvo, arrancou com mensagens enviadas pelo conselheiro estratégico Robert Palmer, que mostrou a convicção de que Oeiras vai vencer esta candidatura, e também da comissária europeia Elisa Ferreira e do ex-presidente da Comissão Europeia Durão Barroso, que manifestaram o seu apoio.
«A candidatura é uma oportunidade da nossa comunidade e um desenho para o futuro e, portanto, também um instrumento de desenvolvimento a nível da comunidade local, como para a região onde esta comunidade se insere, como contributo para o desenvolvimento para o país e para a projeção internacional», disse o comissário da candidatura, Jorge Barreto Xavier.
De acordo com o comissário da candidatura, é através de novas «dinâmicas de ideias» que é possível preparar um novo ciclo de desenvolvimento, como as atividades empreendedoras e criativas.
«Tudo na nossa vida é coberto por esta estranha palavra que tem centenas de definições que é a cultura. Tudo na nossa vida está contaminado, não só pelas dinâmicas do quotidiano, como também na receção que fazemos do património do passado por uma ideia de cultura. A cultura é um elemento crítico para a inovação e para a criatividade», realçou.
A ideia do projeto, segundo Jorge Barreto Xavier, é desenvolver uma «cidade polinucleada com serviços de curta distância para os cidadãos, um polo de referência nas aéreas de ciência e tecnologia, um motor de desenvolvimento para o país, um nó crítico da rede na Área Metropolitana de Lisboa e um território que faz da cultura o cimento que liga os cidadãos».
Na perspetiva de Barreto Xavier, os objetivos da candidatura e dos programas previstos no âmbito do Oeiras 27, centram-se em cinco grandes eixos: Oeiras, Ecossistema Urbano; Oeiras, Capital da Poesia e das Culturas de Língua Portuguesa; Oeiras, Capital das Artes e da Criatividade; Oeiras, Capital das Heranças Culturais; Oeiras, Capital do Património Marítimo.
O ex-secretário de estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier sublinha que o alcance dos projetos vai «muito além da candidatura a Capital Europeia da Cultura, porque aposta na Cultura, nas Pessoas e no desenvolvimento de Oeiras», lembrando que entre o património que será recuperado está o Convento da Cartuxa em Caxias que irá «receber um centro internacional de artes contemporâneas»; será também reabilitada a Bateria do Areeiro em Oeiras para ali instalar «um projeto museológico no domínio das fortificações marítimas». Também a Fábrica de Cima, na Fábrica da Pólvora será alvo de obras para a instalação de um centro de artes cinematográficas, performativas e visuais e na Estação Agronómica Nacional, em Oeiras haverá «um conjunto de utilizações polivalentes, entre as quais, na área da cultura e gastronomia».
Prevista ainda está a transformação do Palácio Marquês de Pombal, em Oeiras, numa unidade museológica na área das Artes, Ciências e Tecnologias. A estratégia para a Oeiras 27 aposta ainda no desenvolvimento «de uma programação sistémica na área da poesia no Parque dos Poetas e Templo da Poesia, assim como em outros locais».
Isaltino «chama» concelhos vizinhos
Apontando para uma competição saudável entre os municípios, o presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais, explicou que Cascais, Sintra, Lisboa, Almada foram chamados a envolverem-se na candidatura à Capital Europeia da Cultura 2027.
«Queremos que o epicentro seja aqui em Oeiras, mas não excluímos a possibilidade do contrário, que haja uma interatividade, uma proatividade, com todos esses municípios da Área Metropolitana de Lisboa. Que esta candidatura seja vista como uma alavanca, seja para o turismo, seja para a atividade cultural de toda a Área Metropolitana de Lisboa», afirmou.
Na sua intervenção, o presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Isaltino Morais, explicou que o Município «lançou-se nesta aventura», por estarem «reunidas todas as condições materiais, imateriais e identitárias» para o fazer.
Além disso, apontou, foi fundamental o consenso político na Câmara Municipal e na Assembleia Municipal, e ainda o envolvimento dos Municípios da Área Metropolitana de Lisboa no apoio a esta candidatura.
«O que queremos agora é o envolvimento das pessoas. Que todos participem e reconheçam a importância desta participação e se mobilizem em função do interesse público. Isto é determinante para o sucesso da candidatura e dos resultados que ficarão para depois disso», apelou.
Isaltino Morais frisou que «todos os projetos que o Município se propõe fazer no âmbito do Oeiras 27 vão sempre acontecer», quer se vença a candidatura ou não e, por isso, concluiu o autarca, «Oeiras sairá sempre a ganhar».
Por seu turno, Katia Guerreiro, fadista e membro do conselho geral do Oeiras 27, justificou a sua adesão a esta candidatura e mostrou-se convicta de que, com este pograma, Oeiras estará centrada no mapa nacional e internacional a nível cultural.
«Em Oeiras vai nascer uma nova era. Estou certa de que este concelho poderá ser altamente competitivo em programação cultural e atratividade com toda esta envolvência urbana, as praças centrais, e vivência cultural que está prevista”, afirmou a fadista.
Ramalho Eanes preside Comissão de honra
Em torno desta candidatura, cuja cerimónia de apresentação terminou com uma atuação da Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras, o município de Oeiras reuniu um conjunto de personalidades nacionais e internacionais numa Comissão de Honra, presidida pelo ex-presidente da República, Ramalho Eanes, integrando ainda o presidente da Confederação Empresarial de Portugal António Saraiva, a cientista Elvira Fortunato, os atores Eunice Muñoz e Ruy de Carvalho, o bailarino Marcelino Sambé, a cantora brasileira Maria Bethânia, o designer francês Philippe Starck e a campeã olímpica Rosa Mota.
Oeiras 27 tem também um Conselho Geral constituído por trinta e duas personalidades, entre elas estão os ex-ministros da Educação Marçal Grilo e David Justino; Guta Moura Guedes criadora da Experimenta Design; a maestrina Joana Carneiro, o músico Kalaf Epalanga, a fadista Katia Guerreiro, o ex-ministro Miguel Poiares Maduro, entre outros.
Como embaixadores a candidatura apostou em artistas. São eles o fadista Camané, o cantor Paulo de Carvalho, a atriz Sofia Alves e o artista plástico Francisco Vidal. A autarquia reitera que o programa de candidatura “aprovado, por unanimidade, na Câmara Municipal e na Assembleia Municipal” pretende “concretizar-se, independentemente de Oeiras ser escolhida para Capital Europeia da Cultura”.
Anúncio de vencedores em 2023
Aveiro, Braga, Coimbra, Évora, Faro, Funchal, Leiria, Guarda, Oeiras e Viana do Castelo são as cidades que já formalizaram ou manifestaram intenção em serem Capital Europeia da Cultura 2027. A cidade vencedora será anunciada em 2023.
A candidatura vencedora receberá um montante de 25 milhões de euros que será operacionalizado através do próximo Quadro Comunitário de Apoio Portugal 2020-2030. A escolha será feita por um júri composto por dez peritos independentes, nomeados por instituições europeias, e para o qual Portugal escolherá dois elementos.
A gestão deste processo está a cargo do Gabinete de Estratégia, Planeamento e Avaliação Culturais, do Ministra da Cultura.
Portugal já acolheu no passado três vezes a Capital Europeia da Cultura. Em 1994 foi em Lisboa, em 2001 no Porto e em 2012 em Guimarães.