«Se queremos um 5 de outubro como data viva, então criemos um Portugal mais inclusivo», afirmou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, durante a Cerimónia Solene Comemorativa do 111.º Aniversário da Implantação da República, que ficou marcada pelo convite de Fernando Medina (autarca cessante) ao seu sucessor Carlos Moedas.
A 13 dias do fim do mandato, Fernando Medina, o ainda presidente da câmara municipal de Lisboa, convidou o sucessor para assistir à cerimónia das comemorações do 5 de outubro, no Salão Nobre dos Paços do Concelho. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no seu quinto discurso em cerimónias comemorativas da implantação da República, Sousa começou o discurso relembrando o «grande presidente» Jorge Sampaio, que morreu a 10 de setembro deste ano, por agradecer a Fernando Medina o trabalho que desempenhou em frente à Câmara de Lisboa e felicitar Carlos Moedas pela eleição para o cargo.
O Presidente da República discursava, esta terça-feira, dia 5 de outubro, na cerimónia comemorativa dos 111 anos da Implantação da República, na Câmara de Lisboa, perante o autarca cessante, Fernando Medina, e Carlos Moedas, eleito em setembro, numa cerimónia que aconteceu num momento de transição política na Câmara Municipal de Lisboa, que marca o fim de 14 anos de gestão socialista, primeiro com António Costa (2007-2015) e depois com Fernando Medina, que perdeu as eleições autárquicas de 26 de setembro para Carlos Moedas ( PSD, CDS-PP, PPM, MPT e Aliança), que estará na sessão solene a convite do presidente da câmara cessante..
«Superada a pandemia, temos nos anos próximos que construir destinos e renovar sonhos, começou por salientar Marcelo Rebelo de Sousa, que diz que é tempo de ultrapassar as «vicissitudes da democracia», com as crises que adiaram o avanço de setores chave da economia. «Acabamos por ficar para trás no que poderíamos e devíamos ser», aponta.
«Se queremos um 5 de outubro como data, temos que multiplicar os que cá estão dentro e fora. Precisamos de mais gente nas empresas e nas escolas, sem esquecer a língua que tudo abarca», afirmou o Presidente da República, sublinhando que a língua portuguesa é uma das mais faladas em todo o mundo.
O Presidente defendeu «um Portugal no pelotão da frente, não no meio ou na retaguarda, a discutir com os melhores, num novo ciclo económico do clima, energia, digital, ciência, tecnologia e renovado tecido produtivo».
Após pedir que os meios de financiamento adicionais, sejam usados «com rigor, eficácia e transparência», o Presidente defendeu que, desta vez, «falhar a entrada a tempo é perder, sem apelo nem agravo, uma oportunidade que pode não voltar mais», sublinhando que superada a pandemia de covid-19, «Portugal tem nos anos próximos uma ocasião única e irrepetível de reconstruir destinos, de refazer esperanças, de renovar sonhos».
«A pensar em todos os portugueses, e desde logo nos que mais desesperam, e neles nos mais jovens, que são quem mais sofrem se essa ocasião passar ao nosso lado sem a assumirmos. Não a podemos perder. Não a vamos perder. Viva a República, viva Portugal», concluiu.
Numa cerimónia que ficou marcada pelo convite do autarca cessante ao seu sucessor para a sessão solene, o que tornou esta cerimónia inédita por estarem presentes dois presidentes da Câmara de Lisboa (um de saída e outro de entrada), o ainda presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, evocou, no seu discurso, os tempos passados para «aprender a lição e combater a erosão da democracia e a quebra da confiança nas instituições».
Lembrando que a política tem de estar sempre ao serviço dos cidadãos, Fernando Medina sublinhou a necessidade de empenho nos ideais democráticos que são, hoje, «perigosamente postos em causa na nossa democracia», aproveitando para criticar «as vozes que exploram fragilidades não para corrigir o que está mal, mas para atacar a democracia, e que conseguem uma projeção desproporcional, condicionando o debate público».
No seu discurso de despedida, Fernando Medina alertou que os políticos não podem «ceder à chantagem demagógica e responder à radicalização e populismo com radicalização e populismo. Não pode ser uma disputa de decibéis em que “vale tudo», salientando o «exemplo de união” vivido “em Lisboa e em todo o país», durante a pandemia de Covid-19, que tem como uma «lição que deve ser enaltecida e continuada no pós-pandemia».
O autarca chamou ainda a atenção as alterações climáticas, que classifica como o «desafio maior». Para Medina, este é um «imperativo moral ao qual a política tem de dar respostas urgentes e eficazes, porque estão em causa as vidas de milhares de milhões de seres humanos, em especial dos mais frágeis».
«Não há no nosso tempo combate mais urgente e indispensável», declarou Fernando Medina, lembrando que também nesta matéria o facilitismo, o adiamento e a demagogia são «crimes a combater».
Em tempos de despedida, Fernando Medina fez referências a Mário Soares e homenageou Jorge Sampaio, antes de lembrar que Lisboa é uma cidade que se pretende «de todos e para todos», agradecendo ao povo de Lisboa «a honra e privilégio de ter sido seu autarca», num tempo que considera ter sido «exaltante, de trabalho entusiástico e dedicação total».
O presidente da Câmara de Lisboa despediu-se do cargo com um «sentimento de dever cumprido, reconhecimento e gratidão», deixando votos de maior sucesso a quem o sucede – o social-democrata Carlos Moedas – ao serviço de Lisboa, reafirmando que «o sinal que Lisboa hoje dá juntando nesta cerimónia o presidente cessante e o presidente eleito reafirma a democracia valorizando o que é comum a todos os que as servem».
Carlos Moedas fala de dignidade na transição
Por seu turno, o presidente eleito para a Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, que toma posse a 18 de outubro, daqui duas semanas, como presidente da autarquia, fez questão de destacar a «dignidade com que a transição está a ser feita com Fernando Medina». Aos jornalistas, o presidente eleito referiu que, «como presidente eleito ainda não tem muito para acrescentar», explicando que «a sua presença pretende dar valor a um dia tão importante para Portugal», lembrando que só será anfitrião em 2022: «Vamos ter de esperar um ano, hoje estou aqui como convidado e presidente eleito».
Carlos Moedas, que se mostrou satisfeito com o convite, sublinhou: «É muito importante estar aqui e muito importante que as transições sejam feitas com toda esta dignidade com que a estamos a fazer entre o presidente da câmara e o presidente eleito. É muito importante para todos nós e para a democracia».
Todos presentes
Nesta cerimónia do 5 de outubro, marcada pelo fim das medidas restritivas, esteve presente, para além de Marcelo Rebelo de Sousa, Eduardo Ferro Rodrigues (presidente da Assembleia da República), António Costa (Primeiro Ministro) e Fernando Medina, todo o executivo eleito no mandato de 2017, não só o que governou a Câmara de Lisboa mas também a oposição, nomeadamente a ex-líder do CDS/PP, Assunção Cristas.