A Assembleia Municipal de Lisboa aprovou, por maioria, a recomendação do Bloco de Esquerda para implementação das Zonas de Emissões Reduzidas. Por seu turno, o presidente da freguesia de Santa Maria Maior (PS), que se absteve na votação, defende a ZAC (Zonas de Acesso Condicionado) para a sua freguesia. Já os Partidos à direita estão todos de acordo com a ZER mas querem melhor planeamento e mais participação.
Os deputados do BE apresentaram uma iniciativa para recomendar à câmara a implementação das Zonas de Emissão Reduzidas (ZER) na Avenida da Liberdade, Baixa, Chiado e Ribeira das Naus, que foi viabilizada com os votos contra de PSD, CDS-PP, Chega, PPM, Iniciativa Liberal e Aliança, a abstenção de MPT e do deputado do PS Miguel Coelho e a favor dos restantes.
A recomendação, apresentada pelos deputados bloquistas Isabel Pires, Vasco Barata, Maria Escaja e Leonor Rosas, acabou por ser aprovada por maioria pelo BE, PS (o deputado socialista Miguel Coelho, que também é Presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, a principal freguesia afetada pela ZER, absteve-se), Livre, PCP, PEV, PAN e pelos independentes. Apenas os partidos à direita votaram contra – PSD, CDS, Aliança, IL, PPM e Chega. Já o MPT, que integrou a coligação Novos Tempos, absteve-se ao lado de Miguel Coelho.
No texto da recomendação, o BE refere Lisboa como uma das cidades europeias com mais emissões de gases de efeito de estufa por habitante, superando Madrid, Paris ou Londres, com a entrada diária de 370 mil automóveis na cidade, o que provoca problemas de saúde originados pela poluição e pelo ruído.
Segundo o BE, é prioritário avançar com Zona de Emissões Reduzidas para as zonas da Avenida da Liberdade, Baixa e Chiado (ZER ABC), não só porque ela já foi aprovada por maioria no anterior mandato da Câmara Municipal de Lisboa, mas acima de tudo porque o recuo que se verificou não é condizente com a urgência de descarbonizarmos as nossas cidades e fazer frente ao desafio climático.
Por seu turno, Miguel Coelho, deputado municipal e presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, pelo PS, recordou que a ZER ABC foi apresentada e debatida publicamente, muito por força da sua junta. «Houve um compromisso que o Presidente da Câmara na altura assumiu comigo de fazer uma revisão geral da proposta inicial atendendo a muitas das reivindicações que a Junta de Freguesia de Santa Maria Maior e que os residentes e comerciantes também puderam colocar nesses debates», disse. Miguel Coelho, defendendo que tinha «muitas margens de divergência com Fernando Medina. Apesar de termos convergido em muita coisa – era um diálogo que não estava concluído».
Apesar de perceber a «boa intenção» da moção, Miguel Coelho não quer ficar condicionado porque entende que o trânsito automóvel deve ser restringido em todo o centro histórico e designadamente em toda a sua freguesia. «Não me posso comprometer com uma recomendação que diga que é só a Baixa e a Chiado. Uma fronteira, por exemplo, era a Rua da Madalena, o que era inaceitável para mim e para as pessoas que lá moram», concretizou, acrescentando que as pessoas de Santa Maria Maior «estão, de facto, fartas de tantos automóveis a atravessar a freguesia”.
Independentemente de entender que a recomendação apresentada pelo BE «não é séria e que, apesar de ser óbvio que estamos todos unidos na salvação do planeta, que temos de resolver o problema do trânsito no centro da cidade e fazer algo em relação à Baixa e ao Chiado», o social-democrata adianta que «não há estudos, não há propostas para fazer a ZER. Há apenas anúncios e declarações para ‘feel good’ e declarações para ‘feel good’ não servem»
Por seu turno, José Inácio Faria, do MPT/Partido da Terra, referiu que «devemos agradecer ao antigo executivo camarário a má qualidade do ar da cidade». Pois «nada fez para cuidar do ar que todos respiramos nesta nossa Lisboa», acusando a ZER de ser um ««projeto cozinhado sem auscultar os moradores», tendo sido desenvolvido sem estudos de tráfego e sem «transportes que sustentassem as medidas” – isto apesar de a Baixa-Chiado ser já das zonas melhor servidas com transportes públicos com duas linhas de comboio, duas linhas de metro, duas estações fluviais e 15 carreiras da Carris e que na proposta da ZER se pretendia reforçar a oferta existente».
Na campanha eleitoral, a coligação Novos Tempos defendeu a necessidade de se «implementar gradualmente um Plano de Zonas de Zero Emissões, por forma a ir de encontro gradualmente aos objetivos de Transição Climática definidos para a Cidade de Lisboa até 2030, sendo que esta definição terá que ser feita zona-a-zona e com base em processos participativos, com um envolvimento profundo dos residentes».
Prémio Municipal do Ambiente Ribeiro Telles
Por outro lado, a Assembleia Municipal de Lisboa aprovou uma recomendação do MPT para a criação do Prémio Municipal do Ambiente Gonçalo Ribeiro Telles, homenageando o arquiteto pelo trabalho desenvolvido na capital na área da defesa e proteção do ambiente.
A proposta de recomendar à Câmara Municipal de Lisboa a implementação deste prémio, evocando o primeiro aniversário do falecimento em 11 de novembro de 2020 de Gonçalo Ribeiro Telles, foi aprovada esta terça-feira sem votos contra, a abstenção de PS e PAN e os votos favoráveis dos restantes deputados municipais.
Os pontos relativos à constituição de uma comissão técnica para a elaboração de um regulamento que defina os critérios que possam garantir a exequibilidade deste prémio municipal e de uma comissão de júri para a atribuição anual deste galardão também foram aprovados, com os votos contra dos deputados da Iniciativa Liberal, a abstenção de PS e PAN e a favor dos restantes.