O Vice-Almirante Henrique Gouveia e Melo foi um dos principais convidados da Fundação Alfredo Sousa, presidida por Pinto Luz, para comemorar o terceiro aniversário do campus de Carcavelos na NOVA SBE e que, na altura, foi descrita pelo reitor da Universidade Nova, João Sàágua, como um «dia glorioso» para aquela instituição.
«O que nos impede de sermos melhores é uma cultura e falta de ambição, afirmou o Vice-almirante, Gouveia de Melo, que falou sobre a liderança em tempos de crise, no terceiro aniversário do campus de Carcavelos, que contou com a presença do ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor.
Segundo Gouveia e Melo, nos primeiros meses à frente da task force de vacinação contra a covid-19, «a expectativa foi a de criar um campo magnético para que todas as peças se encaixassem. Uma das minhas primeiras preocupações foi sobreviver. Não olhar para o topo da montanha para não ter vertigens. Mas, a dada altura, olhei para trás e já estava a meio da montanha», disse, na intervenção que fez sobre “A cultura portuguesa de liderança em tempos de crise”, no âmbito das celebrações do 3.º aniversário do campus de Carcavelos da NOVA SBE, em que também intervieram o Reitor da Universidade Nova de Lisboa, João Sàágua, do presidente da Fundação Alfredo de Sousa e vice-presidente da Câmara de Cascais, Miguel Pinto Luz, e do diretor da NOVA SBE, Daniel Traça.
O Vice-almirante afirmou que tinha a «sensação de ter dez milhões de portugueses a olhar para ele» e que o seu objetivo foi «limpar a má imagem que havia do processo de vacinação, sempre auxiliado por uma boa comunicação».
«A liderança é definida de acordo com os objetivos. O meu objetivo era vacinar a população portuguesa o mais depressa possível», recordou, reconhecendo «que teve de aprender a negociar mais. Nós, militares, também negociamos, mas é diferente. Na nossa hierarquia insistimos, mas só até um determinado momento».
«Aprendi a ter paciência e aprendi que nós quando estamos motivados somos capazes de tudo. Todos nós conseguimos o sucesso da vacinação», afirmou, sublinhando «nós às vezes temos um complexo de inferioridade em relação ao que se faz lá fora, mas temos de nos deixar disso, temos de acreditar».
Gouveia e Melo foi taxativo ao dizer que «nada nos impede» de ser um melhor país, quando questionado sobre o facto de Portugal ser o país com a mais alta taxa de vacinação do mundo, mas também uma nação que parece não saber prosperar. «Não há nenhum gene português que seja inferior. O que nos impede de sermos melhores é uma cultura e uma falta de ambição. Temos de ultrapassar esta falta de ambição e trabalhar muito. Assim conseguimos melhorar o país. Mas temos de ultrapassar o complexo de inferioridade», referiu o vice-almirante, salientando «pomo-nos na posição fácil de esperar que alguém nos lidere. Mas não podemos esperar por um D. Sebastião. Não podemos viver num regime paternalista, isso é mau para a democracia».
O vice-almirante Gouveia e Melo e Alexandra Palt tiveram duas conversas dinâmicas sobre Liderança e Sustentabilidade com Nadim Habib e Pedro Oliveira, docentes da Nova SBE.
Dia Glorioso
O campus de Carcavelos na NOVA SBE foi inaugurado a 29 de setembro de 2018, uma data que, na altura, foi descrita pelo reitor da Universidade Nova, João Sàágua, como um «dia glorioso» para aquela instituição.
«A decisão foi tomada em 2011 ou 2012, quando eu era diretor da SBE. A questão que se colocava então era como aproveitar ao máximo as oportunidades abertas por Bolonha para projetar ainda mais internacionalmente a SBE e contribuir para fazer do ensino superior em Portugal uma grande indústria exportadora. O conceito que se desenvolveu consistiu em aliar a qualidade académica e as acreditações internacionais – que a SBE já possuía – a um estilo de vida único que Portugal, e Lisboa em particular, podem proporcionar. No fundo, tratava-se de a academia perder a relutância em usar o “sol e mar” como ativos na competição internacional por talento», recorda José Ferreira Machado, vice-reitor da Universidade Nova e diretor da SBE entre 2005 e 2015. O seu sucessor no cargo é o atual diretor, Daniel Traça.
O terreno de Carcavelos, disponibilizado pela Câmara de Cascais. «era um terreno que correspondia à ideia de uma localização icónica, junto ao mar, que permitisse, também através do estilo de vida que proporcionava, tornar-se um grande magnete de atração de talentos internacional. E, portanto, não houve nada de especial em Carcavelos, o que houve de especial foi esta visão de que era importante unir à qualidade académica algo mais, um estilo de vida que nós, na altura, chamávamos de californiano. Foi esta a ideia», prosseguiu este responsável. O campus tem uma área de 83 579 m2, é frequentado por 5050 alunos e tem um corpo docente de 387 pessoas.
O financiamento por donativos privados e a relação entre a SBE e empresas são um dos motivos pelos quais esta faculdade é revolucionária. Mas existem outras razões, segundo o vice-reitor da Nova. «A SBE é uma instituição única no panorama português, desde a sua fundação nos anos 70 do século passado. Foi a primeira instituição portuguesa a ter uma política sistemática de doutorar os seus professores, criou o primeiro MBA, foi pioneira na formação de executivos, foi a primeira instituição a rejeitar a endogamia no recrutamento dos docentes, a primeira a ter uma política de recrutamento internacional dos seus docentes, a primeira a ensinar em inglês. As relações com as empresas são muito antigas e profícuas».
Miguel Pinto Luz: «Revolucionária na criação»
Miguel Pinto Luz, vice-presidente da Câmara de Cascais e presidente da Fundação Alfredo de Sousa, defende que esta é uma instituição única, tendo sido «revolucionária logo na sua criação: foi construída sem qualquer verba do Estado central, provando que, quando o projeto é bom, os privados estão dispostos a investir e a ajudar»
Segundo o autarca, «depois, com o ponto de estar muito virada para o mercado internacional, não nos basta estarmos entre os melhores do país, queremos ombrear com as melhores escolas de gestão do mundo. Para isso há uma aposta clara na adaptação da oferta de ensino à realidade atual, com a criação de novos mestrados direcionados para aquilo que o mercado procura. Isto só é possível por existir uma grande relação com as empresas, chamando-as para o campus e colocando-as a trabalhar em conjunto com os alunos».
Segundo Pinto Luz, «a NOVA SBE veio criar uma nova centralidade no município de Cascais. A vinda de mais de 3000 alunos, que diariamente utilizam o campus, mas também a sua envolvente, cria uma dinâmica económica, mas também de vivência, que têm tido impactos muito importantes na zona de Carcavelos. Também o elevado número de estrangeiros é interessante para a revitalização da zona, tornando-a mais cosmopolita e multicultural».
De acordo com o vice-presidente da Câmara de Cascais, «existe um grande número de alunos que se está a fixar em Carcavelos. Não direi que se está a criar uma nova “cidade”, mas sim que existe uma nova vida naquela zona», diz Pinto Luz, que é também presidente da Fundação Alfredo de Sousa.
«A fundação foi criada com o objetivo da construção do campus, passando agora para uma fase de garantia da operação, gestão, manutenção, mas principalmente de apoio ao desenvolvimento da SBE, na persecução do objetivo de colocar a SBE como uma referência mundial do ensino da gestão», acrescenta Pinto Luz.
Daniel Traça: «a nossa missão não está terminada»
Já para Daniel Traça, «apesar dos grandes objetivos que alcançámos nos últimos três anos, a nossa missão nunca está terminada, porque sentimos que o país e a Europa precisam de nós. Da nossa capacidade para inspirar e desenvolver os mais talentosos da Europa, numa comunidade verdadeiramente pan-europeia, fiel àquilo que a Europa sonhou ser».
Na perspetiva do diretor da NOVA, este espaço de ensino pode liderar nos novos desafios que se põem a todos, nomeadamente «a sustentabilidade acima de tudo, mas também a renovação do capitalismo, a coesão social, a transformação pela tecnologia, o digital e os dados, e tantos outros».
Por isso, salienta «vamos continuar a apoiar ainda mais a transformação das empresas e das instituições – e com ela a vida das pessoas – rumo ao futuro. Temos um vasto conjunto de projetos em desenvolvimento, de que destacaria o lançamento do ecossistema de inovação ainda este ano, entre muitos outros projetos ambiciosos e que contribuirão para um reforço da sustentabilidade económica, social e ambiental de Portugal», salienta.
A Nova SBE, recorde-se, foi a primeira escola de Business portuguesa a adquirir acreditações internacionais e reconhecimento de renome mundial no ensino superior. A visão internacional da Nova SBE também se reflete na adoção do inglês como o principal idioma de ensino. Mais da metade dos cursos de graduação e todos os programas de mestrado, MBA e PhD são lecionados em inglês.
KPMG atribui bolsas e investe 3 milhões
Entretanto, a KPMG e a Nova SBE celebraram uma parceria que envolve investimento de 3 milhões de euros por parte da empresa de consultoria e auditoria para desenvolver um programa alargado de formação destinado aos colaboradores da KPMG em Portugal, podendo também vir abranger outros países da sua rede, nomeadamente da zona da EMEA (Europa, Médio Oriente e África)”.
No âmbito desta parceria a KPMG atribuirá bolsas aos candidatos selecionados para frequência de qualquer um dos mestrados da Nova SBE de acordo com os critérios gerais de admissão da escola.
Além deste programa de bolsas, «a KPMG atribuiu um donativo à Fundação Alfredo de Sousa, destinado a fazer face aos custos de desenvolvimento do projeto do campus universitário em Carcavelos, onde a Nova SBE desenvolve a sua atividade.
A fundação, juntamente com a Nova SBE, continua a desenvolver o projeto do novo campus universitário, em Carcavelos, procurando, para o efeito, encontrar parceiros estratégicos, onde se enquadra o acordo agora celebrado com a KMPG.
A fundação irá ainda designar um espaço no campus, identificado como “KPMG Gallery”, que se constitui como “um espaço nobre de vivência, de estudo, de trabalho e de eventos”.
Fundação Alfredo de Sousa
Entre outras, a missão da Fundação Alfredo de Sousa passa pela gestão e manutenção do campus, pela angariação de novos benfeitores e de novos donativos e pela aposta numa política ativa de fund raising em benefício da Fundação.
Para Miguel Pinto Luz, presidente da Fundação Alfredo de Sousa, «esta parceria enquadra-se da atividade da fundação, no sentido de dotar o campus e o projeto educativo da Nova SBE das melhores condições, de modo a reforçar o seu importante papel na sociedade portuguesa, enquanto entidade de referência e farol de criação e partilha de conhecimento».
Já Sikander Sattar, chairman da região EMEA da KPMG, «a capacidade de atrair, reter e desenvolver o talento e fomentar a colaboração entre as firmas da KPMG da nossa região na área da formação e desenvolvimento profissional das nossas pessoas são fatores chave para o crescimento e desenvolvimento da KPMG no contexto europeu. Esta parceria com a Nova SBE será uma das formas de desenvolver esta capacidade».
Por seu turno, para Daniel Traça, da Nova SBE, «este acordo permitirá um envolvimento ainda maior da escola com o mundo empresarial à escala global, através da parceria com uma empresa de reconhecimento planetário, aumentando o impacto e a visibilidade da escola e do país».
Por fim, Vítor Ribeirinho, presidente da KPMG Portugal, diz que «para a KPMG o talento e o seu desenvolvimento são variáveis absolutamente críticas para a concretização da sua missão. É com muita satisfação que realizamos estes acordos com a Fundação Alfredo de Sousa e com a Nova SBE, contribuindo para uma cada vez maior interação entre o mundo académico e empresarial».