Todos os anos, perspetivamos que o ano que entra vai «trazer» uma melhoria na nossa vida e, por isso, a frase «Ano Novo, Vida Nova». Mas, o próximo ano, infelizmente, vai trazer aumentos generalizados dos preços ao consumidor.
O ano que se aproxima vai ficar marcado pelo aumento generalizado de preços que os consumidores irão pagar pelos serviços que usam no dia-a-dia.
Desde os produtos alimentares, passando pelo gás de botija, até às telecomunicações, tudo vai estar mais caro a partir da primeira semana de 2022. A eletricidade, por exemplo, aumenta para quem está no mercado regulado, mas também para os clientes que já passaram para o liberalizado. As portagens e as rendas também registam acréscimos.
Desta forma, no rescaldo do impacto da pandemia na economia, são vários os produtos e serviços que vão sofrer mudanças em 2022. Outros deverão estabilizar.
De referir que alguns preços são ainda incertos, já que estavam ligados a políticas inscritas no Orçamento do Estado para 2022, que foi chumbado. Após as eleições de 30 de janeiro, será mais claro o que muda nos custos do consumo dos portugueses.
Mercearia mais cara
Vamos começar pelos chamados bens essenciais. De facto, os preços de alguns bens alimentares vão custar mais às famílias portuguesas. Por exemplo, os preços do bacalhau estão cerca de 10% mais altos que há um ano. Em geral, as carnes também estão a ficar mais caras, sobretudo a de vitela, com exceção para a carne de porco. Os aumentos andam na casa dos dois dígitos.
O azeite encareceu este ano, na ordem dos 7%, e várias panificadoras já admitiram “ter de reagir” à subida dos custos das matérias-primas e da energia, incluindo o gás, pelo que os portugueses podem esperar o aumento dos preços do pão.
É igual no caso das hortaliças: a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) alertou em novembro para o «incontornável» aumento de custos dos combustíveis e adubos, o que terá reflexo nos preços pagos pelos consumidores.
Roupa não fica atrás
O setor da moda também já antecipou subidas de preços em 2022, por causa do aumento dos custos de produção. Um relatório da McKinsey e da Business of Fashion (BoF) concluiu que 67% dos executivos deste setor da economia preveem aumentar os preços de retalho em 3%, enquanto 15% antecipam subidas de 10% ou mais.
Eletricidade
O preço da eletricidade para as famílias do mercado regulado vai subir, em média, 0,2% no próximo ano, anunciou a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), em 15 de dezembro.
«Para os consumidores que permaneçam no mercado regulado (que representam 5% do consumo total e 915 mil clientes), ou que, estando no mercado livre, tenham optado por tarifa equiparada, a variação média anual das tarifas transitórias de venda a clientes finais em baixa tensão é de 0,2%», indicou na altura, em comunicado, o regulador.
Ainda assim, ressalvou a ERSE, em janeiro de 2022, os consumidores vão constatar uma descida média de 3,4% e relação aos preços em vigor em dezembro do corrente ano. Já os consumidores da tarifa social vão beneficiar de um desconto de 33,8% sobre as tarifas de venda a clientes finais.
No mercado liberalizado, as tarifas de eletricidade da EDP Comercial vão subir em média 2,4% em 2022, o que corresponde a um acréscimo na fatura das famílias de cerca de 90 cêntimos por mês, refletindo a subida dos custos da energia.
Já a Endesa vai manter os preços da eletricidade para as famílias e pequenos negócios em 01 de janeiro, disse à Lusa fonte oficial da comercializadora de energia no mercado liberalizado.
Por sua vez, a Galp vai aumentar os preços da eletricidade a partir de 01 de janeiro, uma subida que rondará os 2,7 euros mensais para as potências contratadas mais representativas.
Rendas
As rendas vão subir 0,43% em 2022, depois de congeladas este ano, confirmou um aviso do INE – Instituto Nacional de Estatística, publicado em outubro, representando um aumento de cerca de 43 cêntimos por cada 100 euros de renda.
O coeficiente de atualização de 0,43% para os contratos de arrendamento rurais e urbanos para 2022, publicado em Diário da República, acontece após o congelamento este ano, na sequência de variação negativa do índice de preços, e aumentos de 0,51% em 2020, 1,15% em 2019, 1,12% em 2018, 0,54% em 2017 e 0,16% em 2016.
Gás de botija a preços recorde
Não é só a energia elétrica que está mais cara. Os preços do gás de botija têm estado a subir em flecha e atingiram recordes no final deste ano.
Os portugueses que usam gás engarrafado para cozinhar ou aquecer a casa podem esperar um encargo maior em 2022, numa altura em que a botija de butano de 13 quilos custa em torno de 29,17 euros, e a de 54 quilos 120 euros.
Transportes
O preço dos transportes públicos que irá vigorar a partir de 01 de janeiro de 2022 será atualizado em 0,57%, de acordo com a Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT).
Por outro lado, os passes únicos Navegante, Municipal e Metropolitano vão manter o seu valor no próximo ano, de 30 e 40 euros, respetivamente, anunciou a Transportes Metropolitanos de Lisboa (TML).
Telecomunicações
Fonte oficial da Nowo disse à Lusa que, «para o próximo ano, não estão previstas quaisquer atualizações de preço» pela operadora de comunicações eletrónicas.
Já a Meo, da Altice Portugal, «procederá a uma atualização do preço base da mensalidade em tarifários/pacotes, com efeitos a 01 de janeiro de 2022, de acordo com as condições contratuais», disse fonte oficial. As restantes operadoras ainda não deram a conhecer a sua decisão.
Portagens
O preço das portagens nas autoestradas deverá aumentar 1,84% em 2022, tendo em conta a taxa de inflação homóloga, sem habitação para outubro, divulgada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
Em 2020 e 2021 os preços das portagens não foram alterados, após quatro anos consecutivos de subidas: em 2019 as portagens nas autoestradas aumentaram 0,98%, depois de aumentos de 1,42% em 2018, de 0,84% em 2017 e de 0,62% em 2016.
Inspeções obrigatórias
O preço da inspeção obrigatória de automóveis ligeiros aumenta para 31,80 euros e o de pesados para 47,59 euros a partir de 01 de janeiro, segundo uma deliberação publicada no Diário da República.
O aumento das tarifas das inspeções técnicas a veículos rodoviários, previsto numa deliberação Instituto da Mobilidade e dos Transportes, vigora a partir de 01 de janeiro de 2022 e teve por base a última atualização do INE da taxa de inflação (sem habitação), referente a novembro de 2021, com uma taxa de variação média anual (sem habitação) de 0,99%.
Na deliberação é apresentado o valor base para os veículos ligeiros de 25,85 euros, a que acresce IVA a 23%.
A tarifa base dos veículos pesados sobe para 38,69 euros, a que acresce IVA, a dos motociclos, triciclos e quadriciclos para 13,02 euros e as dos reboques e semirreboques para 25,85 euros.
Já a tarifa base da reinspeção de inspeções aumenta para 6,48 euros, a atribuição ou reposição de matrícula para 64,53 euros, a extraordinária para 90,25 euros e a emissão de segunda via da ficha/certificado de inspeção para 2,43 euros.
Preços dos medicamentos
De acordo com uma portaria, os medicamentos que custem até 15 euros não vão ter qualquer descida em 2022. Para os que custam entre 15 e 30 euros, o preço não pode descer mais do que 5%.
No caso dos medicamentos mais caros, acima dos 30 euros, eventuais descidas não podem superar 10%.
Carros em segunda valorizam
A crise dos “chips” continua a condicionar o setor automóvel. Em 2022, mantém-se o cenário de alguma escassez de carros novos, por falta de componentes críticas, pelo que as encomendas vão continuar a demorar bem mais do que é habitual.
Além disso, se está a pensar em comprar um carro em segunda mão no próximo ano, prepare-se para deixar mais notas no balcão do stand, principalmente se é fã de modelos SUV e Sedan. Os aumentos podem chegar aos 20% para alguns carros usados, como o Seat León, por causa da forte procura.
ADSE revê preços
Já começou a ser aplicada em setembro a nova tabela do regime convencionado da ADSE, mas o subsistema de saúde dos funcionários públicos acabou por rever alguns preços, mudanças que vão entrar em vigor a partir do próximo ano. Os partos, por exemplo, vão ficar cerca de 35% mais caros para os utentes.
«As alterações, que determinam uma revisão em alta dos preços dos atos comparticipados, incidem sobretudo nas tabelas de cirurgia e medicina, onde estão incluídos alguns meios de diagnóstico e terapêutica, atos de ginecologia, obstetrícia (partos), urologia, anatomia patológica e certas situações de exames radiológicos e enfermagem», refere uma nota publicada no site da ADSE. De notar que também há alguns preços que baixam.
Seguros de saúde aumentam
Este ano, também vai trazer um aumento no preço das apólices dos seguros de saúde, por causa da subida de custos nos estabelecimentos de hospitalização privada, desde as matérias-primas aos recursos humanos. Os hospitais privados estarão a fazer pressão sobre as seguradoras para pagarem mais pelos atos praticados, sendo que o que envolve internamento poderá sofrer um aumento mais expressivo.
Tabaco não escapa
Estava previsto um agravamento fiscal que deveria puxar pelo preço do tabaco no próximo ano, mas com o chumbo do Orçamento do Estado para 2022, esta possibilidade é ainda incerta. No entanto, foi já definido que os maços de tabaco vão ter o selo castanho em 2022, com a estampilha a ficar mais cara.
Se o Orçamento do Estado para 2022 entrasse em vigor, a Imperial Brands tinha estimado que o preço dos maços de tabaco poderia aumentar em 10%.