Apesar de Portugal ter registado hoje mais 20.041 novos casos de Covid, os peritos garantem ser altura de aliviar restrições, nomeadamente redução do período de isolamento e o fim do uso de máscara na rua. Contudo, Marta Temido, afirmou, no final da reunião no Infarmed, que o país deve continuar a ser vigilante, prosseguir com vacinação e mudar foco de testagem.
Peritos e responsáveis políticos reuniram-se esta quarta-feira no Infarmed, em Lisboa, para avaliar a situação epidemiológica da covid-19 em Portugal. Esta nova reunião de avaliação, convocada pelo primeiro-ministro, insere-se num contexto em que o país já terá atingido, há cerca de 10 dias, um pico de casos de covid-19 e, por isso, os peritos defendem que, o território está «em situação de passar a um nível de menos medidas restritivas».
Entre as propostas, os especialistas avançam com o fim do teletrabalho, da lotação máxima em estabelecimentos comerciais, da exigência de teste para entrar em bares e discotecas e da proibição do consumo de bebidas alcoólicas na via pública.
Também o uso de máscara de proteção está a ser analisado, com os especialistas a defenderem o nível 1, aquele em que se mantém obrigatório em casos como locais interiores públicos e serviços de saúde, transportes públicos e veículos TVDE, locais exteriores de grande densidade populacional. A manutenção do uso obrigatório deve também estender-se a profissionais que trabalham diretamente com populações vulneráveis. Já no nível 0, o uso deixaria de ser obrigatório com exceção do caso de pessoas com sintomas respiratórios ou perceção de risco.
Já sobre as fronteiras, avançam com a proposta de isenção de teste para quem tiver certificado digital válido e a realização de teste PCR ou antigénio nas 24 horas anteriores para quem não tiver.
Os especialistas abordam ainda a possibilidade de ser montado um novo modelo para a vigilância da pandemia. Na proposta, apresenta-se um eventual processo integrado que junte outros agentes de infeções respiratórias com potencial epidémico e sazonal semelhante ao da covid-19 – como, por exemplo, a gripe, o que geraria uma otimização dos recursos, tornando o sistema exequível
A diretora-geral da Saúde admitiu, entretanto, que poderá haver alterações em relação ao período de isolamento. «Para as pessoas que estão doentes, não, porque continuam no auge da transmissibilidade e, portanto, deverão continuar em isolamento», mas Graça Freitas considerou que poderá haver um aligeiramento da medida para os contactos diretos com infetados.
Gustavo Tato Borges, presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, defendeu que o fim do isolamento, defendido por alguns especialistas, ainda é “prematuro” e espera que a Direção-Geral da Saúde não avance com essa medida.
Já para o pneumologista Filipe Froes defendeu, um «alívio gradual de uma forma faseada, de uma forma monitorizada e com um incentivo à vacinação de reforço», com um sistema de semáforo, tendo em conta internamentos e vacinação. “Penso que no final do mês vamos estar no nível verde”, especialistas defendem alívio gradual das restrições
Embora haja divergências em alguns pontos, nomeadamente no que diz respeito aos períodos de isolamento para infetados e contactos diretos, a maioria dos especialistas concorda que o Concelho de Ministros, que amanhã se reúne, deve decretar um alívio da maioria das medidas.
Doença continua
Entretanto, o primeiro-ministro elogiou os progressos registados ao longo de quase dois anos de combate à pandemia da covid-19, mas advertiu que a ameaça da doença persiste enquanto não houver vacinação à escala global.
Esta posição foi transmitida por António Costa através da sua conta na rede social Twitter, após mais uma reunião com especialistas para análise à evolução da situação epidemiológica da covid-19 em Portugal.
No final da reunião, em que participou por videoconferência – tal como o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, e os representantes dos partidos -, António Costa agradeceu «a todos os peritos que, ao longo destes dois anos, fizeram um trabalho muito importante para que todas as decisões pudessem ser tomadas com base no conhecimento e na melhor informação científica disponível em cada momento».
«Lidámos com a experiência intensa de governar num quadro de incerteza muito elevado, solicitando aos cientistas respostas que ainda não tinham. Mas a verdade é que fomos vencendo etapas nesse desconhecimento e isso permitiu-nos ir calibrando as medidas ao longo de todo este tempo» sustentou o primeiro-ministro.
António Costa elogiou o modelo das reuniões do Infarmed, em Lisboa, considerando que “a partilha pública da informação foi essencial para reforçar a confiança e mobilizar os portugueses, que revelaram um notável civismo ao longo desta crise”.
Antes, o Presidente da República tinha agradecido aos especialistas que ao longo de quase dois anos participaram nas sessões sobre a situação da covid-19 em Portugal e também à ministra da Saúde e à diretora-geral da Saúde.
«Foi um esforço de equipa muito complexo, difícil, aturado, devotado e importante», declarou Marcelo Rebelo de Sousa, por videoconferência, na 26.ª sessão sobre a situação da covid-19
Ainda na parte com transmissão pública desta sessão, o chefe de Estado usou da palavra apenas «para, uma vez mais, agradecer a todos” os que desde o início da pandemia de covid-19 “contribuíram diretamente ou por videoconferência com o seu saber para o aconselhamento das decisões políticas».
«Foram dois anos muito intensos, muito complexos, às vezes, com variações, mais previstas, menos previstas, há uma dose de imprevisibilidade», referiu, considerando que se está «num momento que de alguma maneira é simbólico».
Dirigindo-se à ministra da Saúde, Marta Temido, o Presidente da República acrescentou que «é a primeira a merecer também este agradecimento, como a senhora diretora-geral da Saúde. Graça Freitas, e toda a equipa».
Ministra anuncia nova politica de testagem
Por sua vez, no final da reunião, a ministra da Saúde considerou que Portugal se encontra numa nova fase da pandemia da covid-19 e admitiu o alívio de medidas de mitigação, com nova política de testagem e a revisão da obrigatoriedade de máscara.
«Tão rápido quanto possível e tão devagar quanto necessário», disse Marta Temido sobre o eventual alívio de restrições, em declarações aos jornalistas.
Resumindo as conclusões do encontro, a responsável disse que é possível considerar que o país se encontra já numa nova fase da pandemia da covid-19, apesar de admitir que há ainda muitas incertezas, abrindo a porta à revisão das medidas atualmente em vigor.
Concretamente, Marta Temido referiu uma nova política de testagem, a avaliação dos contextos em que o uso obrigatório de máscara possa vir a cair e a alteração das situações em que é exigida a apresentação do certificado digital.
Foto: Infarme