Carla Salsinha assumiu a presidência da UACS até 2025, depois de uma passagem entre 2011 e 2017. A nova presidente pretende reforçar «a resiliência de todos durante este período em que a pandemia veio mostrar o quão importante é o Comércio da Cidade na sua sustentabilidade, mas, para isso, a aposta tem que passar pela criação de bairros digitais e pela implementação de um Gabinete de Defesa e apoio do Comerciante.»
Com 151 anos de história, a União das Associações do Comércio e Serviços (UACS) «apoia e defende os empresários do setor do comércio e serviços nas questões relacionadas com o arrendamento, com a legislação laboral e respetivo contrato coletivo de trabalho, os impostos, a taxa municipal, entre outros assuntos relacionados com a atividade», defende a nova presidente da nova direção da UACS, Carla Salsinha, que tomou posse no dia 12 de janeiro.
Em declarações a Olhares de Lisboa, a regressada presidente, além da requalificação dos serviços prestados pelas empresas, pretende criar um Gabinete de Defesa/Apoio do Comerciante e desenvolver iniciativas de animação dirigidas aos consumidores finais nas diferentes zonas da cidade, intensificar o Programa Lojas com História e implementar um curso de gestores para as micro e PMEs em parceria com universidades.
Do ponto de vista da nova presidente, que liderou os interesses dos empresários do sector do comércio e serviços entre 2011 e 2017, «Lisboa, vive um momento particular de uma elevada requalificação do edificado, de requalificação do espaço público, de forte atratividade de eventos culturais, musicais e sociais, mas também, e sobretudo, de eventos de empreendedorismo e de negócios, conferindo uma forte estabilidade financeira à cidade para que possa pensar de uma forma estruturante para todos os sectores, e em particular para o comércio».
Para Carla Salsinha, «a pandemia veio mostrar o quão importante é o comércio da cidade na sua sustentabilidade, trazendo enormes desafios aos quais nós temos, como instituição centenária, saber dar resposta e apoiar as empresas da cidade», lembrando que o Comércio «tem aqui a oportunidade de um novo fôlego pela proximidade, pela conveniência, pela diferenciação e pelo conhecimento individual dos consumidores».
Contudo, a nova dinâmica que quer implementar implica transformações e alterações de paradigma com maior rapidez, eficácia e assertividade. E é nesta aposta, que a sua Direção está empenhada: ajudar Lisboa a ser uma das cidades do futuro, deixando a marca de um dos setores mais fortes da economia das cidades, o comércio.
Na perspetiva de Carla Salsinha, que reconhece que muitas empresas estão a fechar por causas das medidas de isolamento profilático e «por falta de pessoas na cidade, o pequeno comércio, ou o chamado Comércio de Proximidade, assenta na sua maioria por micro e pequenas empresas, maioritariamente de cariz familiar, «mas cuja gestão se tem vindo a transformar numa gestão profissional fruto muito das novas gerações, com elevados graus de formação que hoje abraçam este setor, como um setor de novas oportunidades, de muitos desafios e onde existe a possibilidade de conciliar a dimensão das novas tecnologias com o tradicional e com os antigos ofícios e saberes».
Bairros digitais
«As repercussões da pandemia no Comércio da Cidade foram e continuam a ser devastadoras, com o encerramento de inúmeras empresas do setor, e dentro destas com a perda de muitas lojas históricas, que foram ícones da nossa cidade e o símbolo da sua identidade, mas será também a própria pandemia impulsionadora de inúmeras transformações e oportunidades para as empresas», afirma a dirigente, defendendo, por isso, que a sua direção vai apostar «na digitalização do nosso Comércio, o reforço na aposta de formação quer de empresários e colaboradores, exigir ao Poder central e ao Poder local uma estratégia para o setor do Comércio».
Desta forma, a aposta no digital é, em seu entender, fundamental para a sustentabilidade do comércio. «Temos que desafiar o pequeno lojista a estar no mundo digital. Levar a formação digital, que nesta fase é gratuita, a todos», reafirma Carla Salsinha, salientando que este é um dos eixos de atuação fundamentais, que irão marcar a atuação e a ação da UACS.
Após anunciar a futura criação de uma aplicação, a ser construída por bairros, e que promova a modernização do setor, Carla Salsinha considera que a «digitalização do negócio e o comércio eletrónico são ferramentas importantes para o futuro do setor», aprofundando o sentido e a noção de proximidade com os utentes dos espaços.
«É através do comércio e dos serviços que ligamos as pessoas aos espaços e é importante as pessoas terem ligação aos espaços. E aquilo que vimos hoje é que o comércio e os serviços se estão a transformar. Queremos uma cidade diferente e construí-la depende do comércio e dos serviços. Mas, esse objetivo, só existe se estiverem desenhados de forma que a cidade possa viver essa relação entre a pessoa e o espaço numa era digital», defende.
É, por isso, que considera que a plataforma digital Lisbon Shopping, criada pela Câmara de Lisboa, nos tempos de Fernando Medina, é importante para o sector para «dar visibilidade e garantir o futuro do comércio local», dando a conhecer os estabelecimentos comerciais da capital «de forma simples, interativa e ajustada aos interesses dos comerciantes e às preferências dos utilizadores».
Comércio alimentar, joalharia e relojoaria, lar e decoração, lazer e cultura, restauração e hotelaria, saúde e bem-estar, serviços e reparações ou vestuário e acessórios são as várias categorias de atividades disponíveis do Lisbon Shopping, onde todos os comerciantes registados podem divulgar, de forma gratuita, os seus estabelecimentos, contar a sua história, criar campanhas e ofertas especiais e ainda ampliarem a sua presença no digital, através da ligação aos seus sites, lojas online e redes sociais. O registo é gratuito e válido apenas para estabelecimentos comerciais com atividade em Lisboa.
Especulação imobiliária fecha lojas
Mas, apesar do espírito resiliente do sector, na especulação imobiliária está a pôr em causa a sobrevivência do comércio tradicional. Pelo menos nas grandes cidades, garante, exemplificando: uma loja de 50 metros no centro de Lisboa pode «facilmente custar cinco ou seis mil euros», diz Carla Salsinha, apontando que na Avenida da Liberdade as rendas começam nos 11 mil euros.
Dez anos volvidos sobre a entrada em vigor do Novo Regime do Arrendamento Urbano (NRAU), em agosto de 2012, os comerciantes aguardam com expectativa e urgência as prometidas alterações à lei. «Esperamos que as alterações sejam rapidamente publicadas, porque são urgentes. Se não se tomarem medidas, os próximos anos poderão ser anos de avalanches de despejos, com o fim do período transitório», alerta Carla Salsinha.
A presidente da UACS garante que «nenhum comerciante é contra a atualização das rendas», apenas são contra aumentos que «em muitos casos chegaram a ser de mais de 1000%» e que «obrigaram os lojistas a fechar a porta e ir embora».
Apesar de tudo, a responsável da União das Associação de Comércio e Serviços «que tem de haver dois direitos a ser respeitados: o da propriedade e o direito específico do negócio, da marca, do conceito, da clientela, que tem um valor que tem de ser quantificado em função da faturação dos últimos anos».
O novo mandato perdurará durante quatro anos (2022-2025) e conta com um grupo de nove elementos, sendo a presidente Carla Salsinha, o vice-presidente José Gomes de Castro, os diretores efetivos Tiago Quaresma, Vítor Vicente, Sandra Condesso, Pedro Raposo, Ricardo Claudino e os diretores suplentes Joaquim Valente e Pedro Costa.