SAÍDA DOS LISBOETAS DA CIDADE AFETA A MARCHA DE BELÉM

A Marcha de Belém conta com marchantes dos 14 anos aos 60. Grande parte dos jovens são estreantes e entraram na marcha por apelo das famílias. No entanto, a esmagadora maioria dos marchantes não reside em Belém, e muitos vêm de localidades como Setúbal, Brandoa ou Almada.

“Muitos dos marchantes vieram porque têm aqui os pais, mas outros vieram porque os familiares lhes disseram que estávamos a precisar de gente e lá apareceram, mas na verdade nem sei se eles vão ganhar gosto pelas marchas”, conta o responsável pela Marcha de Belém, José Caroço, ao Olhares de Lisboa, acrescentando ainda que, “hoje em dia, tirando nalguns bairros, já não há pessoas suficientes para preencher uma marcha”.

Para o responsável, a migração de muitos lisboetas para fora do concelho vai contribuindo para a perda da identidade das marchas. “Basta olhar para as pessoas que vêm agora viver para Lisboa, compram uma casa, por exemplo, aqui em Belém, que custam um milhão de euros, acha que essa gente quer vir marchar? Ou até mesmo os estrangeiros que se instalam aqui? Essa gente quer é que nós marchemos daqui para fora”, critica o responsável, que apela ainda à Câmara Municipal de Lisboa que olhe para o problema.

A Marcha de Belém já tem o grupo completo, mas desde o início das inscrições até ao momento, já houve algumas desistências, ao que se junta a dificuldade em arranjar marchantes. “A pandemia baralhou isto tudo, as pessoas passaram a ter outros encargos familiares e muitos já não conseguem vir”, conta o responsável, acrescentando ainda que houve uma grande dificuldade em conseguir homens. “Antigamente, os homens queriam vir para a marcha para arranjar namorada, agora acham que isto não é para eles, nem sei porquê”, acrescenta.

Os ensaios para a Marcha de Belém começaram no início de abril e são realizados de segunda a sexta-feira na Escola Básica Paula Vicente, no Restelo, com o grupo completo e sem o uso de máscaras. Contudo, se alguém testar positivo à Covid-19, “essa pessoa vai para isolamento e os restantes marchantes são testados”.

No entanto, José Caroço espera que esse cenário não aconteça, porque “se for só um marchante a dar positivo, é fácil a substituição, agora se forem mais, não sabemos como iremos proceder”. Para já, a organização da Marcha de Belém já entrou em contacto com a EGEAC, entidade organizadora das Marchas Populares de Lisboa, para saber quais os procedimentos a ter em conta, mas “a única coisa que nos dizem é para cumprir as regras da DGS”.

Sobre a paragem forçada devido à pandemia, José Caroço admite que esta “prejudicou mais as coletividades do que propriamente a marcha”. No entanto, a organização da Marcha de Belém nunca equacionou a hipótese de não participar em 2022, até porque já tinham confirmado a participação e já tinham iniciado os trabalhos.

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Em 2022, os padrinhos da Marcha de Belém serão Rita Delgado e o filho, Salvador Delgado. O ensaiador é João Bravo e o figurinista e coreógrafo é Hugo Barros. No dia 3 de junho, a Marcha de Belém apresenta-se no Altice Arena e na noite de 12 para 13 de junho irão desfilar na Avenida da Liberdade. A Marcha de Belém foi criada em 2009, e em 13 anos, nunca venceram, sendo que o melhor lugar foi um 14º em 2013.

“As nossas expetativas para este ano são ficar no melhor lugar possível”, acrescenta o responsável, que acredita que “só com o passar dos anos e com a experiência é que podemos ir sonhando com os primeiros lugares”. Na base da sua opinião está o facto de a Marcha de Belém ser uma marcha recente faz com que “os júris olhem mais para as nossas falhas. Se for uma marcha antiga, se houver uma pequena falha, não ligam tanto, mas se for as mais recentes, penalizam-nos”, desabafa José Caroço.

 

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