O Presidente da República avisou este domingo os jovens para não confiarem nos decisores e lutarem por si contra as alterações climáticos e pelos oceanos, embora admitindo que há exceções e deixando elogios ao secretário-geral das Nações Unidas. Por seu turno, o secretário geral da ONU, António Guterres, disse que é preciso passar para uma fase em que os jovens não só são ouvidos, mas também incluídos nas decisões. Opinião que é, aliás, partilhada pela vereadora do Ambiente da Câmara de Cascais, Joana Pinto Balsemão, que disponibilizou Cascais para «ser laboratório» da maioria dos projetos apresentados pelos jovens.
A Semana da Conferência dos Oceanos das Nações Unidas arrancou esta sexta-feira, 24 de junho, em Carcavelos, com o primeiro special event intitulado Fórum da Juventude e da Inovação. Foram 150 jovens de todo o mundo, de 30 nacionalidades, que se juntaram durante três dias, de sexta-feira a domingo. A novidade é o INNOVATHON, uma maratona Tecnológica concebida e desenvolvida pelo CEiiA, onde estes jovens durante 24 horas, non-stop desenvolveram ideias para resolver problemas relacionados com os oceanos. As melhores soluções vão ser acompanhadas, nos próximos 12 meses, por mentores internacionais de forma a apoiar a implementação dos conceitos propostos.
Marcelo Rebelo de Sousa, que discursou na sessão de encerramento do Fórum da Juventude e Inovação da Conferência dos Oceanos da ONU 2022 (UNOC – United Nations Ocean Conference) e na qual participou também o secretário geral da ONU António Guterres, no âmbito da Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, que arrancou esta sexta-feira, dia 24 de junho, em Lisboa, avisou este domingo os jovens para não confiarem nos decisores e lutarem por si contra as alterações climáticas e pelos oceanos, embora admitindo que há exceções e deixando elogios ao secretário-geral das Nações Unidas.
«Têm de lutar por vocês, não confiem nos decisores. Há exceções, há alguns serão sempre os vossos maiores aliados, mas não a maioria», disse, apontando o secretário-geral das Nações Unidas como uma das vozes «muito vocal e muito forte» neste campo. O Presidente da República deixou, por isso, um conselho aos cerca de 150 jovens de 30 países que participaram neste Fórum: «A única forma de ser mais forte é lutar por isso e não acreditar que alguém lute por vocês».
Já, o secretário-geral das Nações Unidas afirma que o mundo está a perder a batalha de proteção dos Oceanos. António Guterres espera que a cimeira de Lisboa seja o tocar a rebate para esta situação. Sobre a guerra na Ucrânia, Guterres afirma que o conflito tem desviado as atenções das alterações climáticas. E diz mesmo que «há quem tente aproveitar a situação para voltar a investir nos combustíveis fósseis» e que isso «é um suicídio».
No final da sua curta intervenção, Marcelo Rebelo de Sousa considerou «muito promissor» anteceder a Conferência dos Oceanos deste Fórum da Inovação, alertando que serão os jovens a ter um papel essencial nesta luta. «Ou ganham vocês ou perdemos todos, porque são mais e melhor futuro do que nós», avisou.
O chefe de Estado português saudou a presença de jovens de tantos países, muitos deles com “desigualdades e discriminações. Lutar pelas alterações climáticas e pelos e oceanos é lutar contra desigualdades», defendeu, considerando que este combate permite «construir pontes económicas, sociais e políticas entre várias gerações».
O Presidente da República deixou ainda uma nota de urgência, citando António Guterres, dizendo que se está «a correr contra o relógio. Esta é uma guerra em que fomos derrotados, já não estamos em posição de reverter, mas temos de recuperar. Os líderes políticos passam, os oceanos não passam, estão cá há milhões de anos, vão continuar a estar».
Em resposta à mesma questão, sobre como avançar na defesa do ambiente e, em particular, dos oceanos, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que é preciso passar para uma fase em que os jovens não só são ouvidos, mas também incluídos nas decisões. «Temos agora de avançar para uma nova fase, que é o tempo das codecisões de forma a que os jovens possam contribuir efetivamente para as decisões», apontou o responsável, que considerou que as fases de negação das alterações climáticas e da propaganda estão ultrapassadas.
Guterres sublinhou ainda que é necessário adotar «uma nova forma de atuar» que inclua as comunidades locais e decisões baseadas na natureza. Por isso, o secretário-geral das Nações Unidas pediu hoje desculpa às novas gerações pela falta de atenção dada pelas gerações mais velhas e decisores políticos aos oceanos, sublinhando que ainda se está a caminhar lentamente para reverter o problema. «Eu quero pedir desculpa, em nome da minha geração, à vossa geração, relativamente ao estado do oceano, ao estado da biodiversidade e ao estado das alterações climáticas», afirmou o secretário-geral das Nações Unidas, falando para uma plateia de jovens.
O responsável admitiu que a sua geração foi responsável politicamente pela degradação das condições dos oceanos, por ter sido lenta, ou mesmo «sem vontade de reconhecer que as condições se estavam a deteriorar no mar. Mesmo hoje, estamos a caminhar lentamente no sentido de reverter a tendência e reabilitar os oceanos, salvar a biodiversidade e parar as alterações climáticas», acrescentou.
Também presente nesta sessão de encerramento, a ministra da Energia do Quénia, Monica Juma – país que coorganiza Conferência dos Oceanos com Portugal – salientou que, no Quénia, são sobretudo as novas gerações que lutam pelo desenvolvimento sustentável. «Através dos vossos olhos, conseguimos olhar para o ambiente de forma diferente, não podemos continuar a viver como se os efeitos sobre o ambiente não existissem», salientou.
Monica Juma desafiou os participantes neste Fórum a transmitir a «pelo menos cinco pessoas o que aprenderam», e apelou a que mantenham a persistência, perante «um mundo de negação das alterações climáticas».
Por seu turno, a vereadora do ambiente da Câmara Municipal de Cascais, Joana Pinto Balsemão, em declarações aos jornalistas fez questão de sublinhar, indo ao encontro das afirmações de Marcelo Rebelo de Sousa e de António Guterres, a «importância da participação de 150 jovens, oriundos de 30 países, na procura de soluções para os problemas dos oceanos e que foram ouvidos, com muita atenção, por três dirigentes políticos de âmbito mundial, nacional e regional».
Para a autarca, que ofereceu o território cascalense para ser laboratório dos projetos apresentados pelos jovens que «tem de fazer parte da solução do problema dos oceanos», Cascais é «um território para o qual as politicas ambientais e marítimas não são estranhas, tendo apostado sempre a regeneração dos oceanos», relembrando a instalação do «primeiro coral artificial no mar do concelho». Contudo, do ponto de vista da vereadora, para a regeneração do mar é necessário requalificar as ribeiras.
Joana Balsemão, após referir que Cascais é o único município com um Conselho Municipal do Mar, lembrou que, no concelho, «existe uma área marítima protegida, totalmente suportado pela autarquia e que é ativamente protegida num processo participativo, que conta com a colaboração de pescadores profissionais e desportivos, surfistas e também de todos os utilizadores desse espaço, recordando que são também um dos raros municípios que têm uma unidade marítima, o galeão “Estou para Ver”, só para o estudo e pesquisa sobre o mar.
No âmbito da politica de regeneração dos oceanos, a vereadora explicou, por outro lado, que as Florestas Marinhas que estão a ser recuperadas ao largo da Costa da Guia, em Cascais, pretendem mostrar a viabilidade da reflorestação de algas para captura de CO2, a recuperação da vida marinha e ainda a utilização das algas para outros fins. A recuperação de Florestas Marinhas em Cascais é um projeto promovido pela autarquia em colaboração com o Centro de Ciência do Mar da Universidade do Algarve, e que conta com financiamento do mecanismo Europeu EEA Grants.
De acordo com a vereadora do Ambiente da Câmara de Cascais, Joana Pinto Balsemão, há três décadas, as florestas de algas marinhas eram abundantes nesta costa e agora estão a desaparecer. Daí a importância deste projeto-piloto, que quer fazer «uma gestão do mar que não seja passiva», ou seja, recorrendo à regeneração.
«Este é um projeto-piloto alicerçado na ciência e está a correr manifestamente bem. O objetivo é confirmar que este método de plantação é o mais viável e depois expandir e aqui procuramos fontes de apoio, como o PRR (Plano de Recuperação e Resiliência), porque temos que escalar», afirmou.
O ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, e o presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, foram outros dos presentes nesta iniciativa, que aconteceu na véspera do arranque oficial da Conferência dos Oceanos.
“O momento de atuar é agora”, disse Jason Momoa, que hoje vai ser nomeado como embaixador das Nações Unidas para a Vida Marinha, foi uma das caras conhecidas a marcar presença no lançamento da Conferência dos Oceanos, que vai decorrer entre 27 de junho e 1 de julho em Lisboa.
Para o ator, que já protagonizou o papel de “Aquaman”, “os nossos oceanos têm problemas”, o que requer uma ação rápida por parte da Humanidade.
Jason Momoa, que ontem foi, também, nomeado Advogado para Vida Abaixo de Água do Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP) recebeu o bastão das mãos e Peter Thomson, enviado especial das Nações Unidas para o Oceano, em plena praia de Carcavelos. Jason entregou de seguida o bastão aos representantes do Fórum da Juventude, os quais, por sua vez, o passaram a António Guterres, Secretário-Geral da ONU.