ADRIANO MOREIRA RECEBEU A MEDALHA DE HONRA DA CIDADE DE LISBOA

Carlos Moedas, juntamente com o vereador Diogo Moura, entregou a Adriano Moreira a Medalha de Honra da Cidade, durante a Cerimónia de Homenagem ao mesmo, que se realizou na última quinta-feira, dia 15 de setembro, na Aula Magna.

O evento teve como propósito homenagear Adriano Moreira, antigo professor catedrático do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), que celebrou 100 anos de vida. Carlos Moedas começou o seu discurso a parabenizar o professor, oriundo de Macedo de Cavaleiros, e cuja história “é uma inspiração” para o autarca, que tal, como Adriano Moreira, chegou a Lisboa “sem conhecer ninguém”.

“Falar do Adriano Moreira é falar do professor que marcou gerações de alunos, académicos, amigos e de tantos portugueses”, disse o presidente da Câmara de Lisboa, acrescentando que o professor e político “marcou” o ISCSP, anteriormente conhecido como Instituto Superior de Estudos Ultramarinos, uma vez que foi aqui que iniciou o seu magistério. “Agradeço-lhe pelo que a sua docência significou para a cidade”, acrescentou o autarca, falando do seu contributo para o papel da universidade nos dias de hoje, salientando ainda outros projetos e cargos assumidos por Adriano Moreira, tais como a Academia Internacional da Cultura Portuguesa, ou a presidência da Sociedade de Geografia de Lisboa.

Para Carlos Moedas, “falar do Adriano Moreira é falar também do político e do cidadão, mas também do governante reformador e senador da nossa nação”, uma vez que “deixou o Governo quando se tornou impossível fazer mudanças”, voltando para “ajudar a construir a Europa onde hoje vivemos e na qual orgulhosamente pertencemos”. O presidente da autarquia lisboeta acrescentou ainda que, “foi nesta Terceira República que a sua prioridade política foi o combate contra a pobreza”, salientando que foi no mesmo período que ajudou a fundar o CDS, partido do qual foi presidente entre 1986 e 1988. Na opinião do autarca, “Adriano Moreira viveu momentos tão dispersos entre si e é um homem que é hoje admirado por todos nós”, uma vez que foi uma figura importante na construção da democracia.

Ainda no mesmo discurso, Moedas lembrou a situação atual na Europa, marcada pela guerra na Ucrânia, pelo que, a seu ver, esta homenagem “ganha ainda mais significado”. “Para além destas dificuldades, vivemos transformações tão profundas e que estão a mudar as nossas vidas a uma velocidade sem precedentes”, acrescentou, dizendo que, “perante este mundo em transformação e cheio de incertezas”, Adriano Moreira é um “exemplo de combate pela esperança e o homem da diversidade”.

“É tempo da Europa erguer a sua voz em defesa da sua autenticidade”, finalizou Carlos Moedas, referindo-se a Adriano Moreira como um “homem condenado do nosso tempo”, e que por isso, deve ser homenageado.  Esta cerimónia contou ainda com a intervenção, à distância, do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e ainda com a presença dos antigos presidentes Aníbal Cavaco Silva e o General António Ramalho Eanes, assim como do antigo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, e do presidente do ISCSP, Ricardo Ramos Pinto, entre outras personalidades ilustres.

Para Marcelo Rebelo de Sousa, “não foi preciso esperar pelo centenário para homenagear Adriano Moreira, uma vez que foi homenageado ao longo da sua vida”, relembrando o contributo que deu na formação de diversos alunos na Escola Superior Colonial. “Esta homenagem decorre na sua escola de centro, escola onde entrou bem jovem, e deu magistério, símbolos, espírito de corpo”, entre outros. “Ao longo de décadas, Adriano Moreira fez tudo por esta escola, pela sua alma, pelo seu estatuto, não por ambição pessoal ou plano de poder, mas sim porque entendia que o Instituto era um imperativo nacional”, referiu Marcelo Rebelo de Sousa, agradecendo o seu trabalho para a construção do ensino superior tal como ele é hoje.


“Adriano Moreira nasceu povo e disso fez brasão, de que muito se honrou e honra”, disse o presidente da República, salientando que, apesar dessa condição, “privou com poderosos” e “viajou pelo mundo”. Marcelo Rebelo de Sousa terminou a sua intervenção agradecendo o seu trabalho e o contributo para “esta escola, que tem a alma que traduz a alma de Adriano Moreira”.

Por sua vez, o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, referiu que “nós devemos muito ao professor Adriano Moreira, em várias dimensões que são fundamentais para nós todos e para o nosso país”, destacando as suas funções como “pedagogo, não só neste instituto e nos institutos que o antecederam, como em todo o ensino superior”; de “investigador, cujo papel foi pioneiro, quer nos estudos de segurança e defesa nacional, quer na ciência política; e ainda de “pensador do Estado Português, buscando a melhor triangulação possível entre estas três características fundamentais da história, do estado e da nação”.

Para Augusto Santos Silva, “Adriano Moreira deve muito à democracia portuguesa” e vice-versa, destacando o seu contributo para a existência de diversidade e liberdade para “defender as nossas ideias”. Adriano Moreira iniciou a sua atividade docente no atual ISCSP, pertencente à Universidade de Lisboa, em 1950, sendo que, em 1956 fundou o Centro de Estudos Políticos e Sociais.

Dois anos depois, foi nomeado diretor deste instituto, onde procedeu à sua transformação numa instituição universitária de Ciências Sociais, e que integrou a Universidade Técnica de Lisboa em 1961. Em 1969, na sequência da crise académica, assume uma posição de defesa da liberdade universitária, o que ditou a sua exoneração do cargo, que voltou a assumir em 1981. Nesse ano, foi eleito Presidente do Conselho Científico do ISCSP.

Ao mesmo tempo, Adriano Moreira foi uma figura marcante nesta instituição, onde lutou para que este sobrevivesse aos diferentes regimes políticos vigentes em Portugal ao longo dos anos. Para além de professor universitário, Adriano Moreira foi também político, tendo sido Ministro do Ultramar entre 1961 e 1963, e Presidente da Sociedade de Geografia até 1974, onde promoveu o Movimento da União das Comunidades de Língua Portuguesa.

Para o presidente do ISCSP, Ricardo Ramos Pinto, “ter o privilégio de ser contemporâneo e conviver com uma figura com esta dimensão intelectual e ética é algo que devemos permanentemente valorizar”, salientando o “facto de assistir à celebração do centenário de Adriano Moreira em vida”, algo que serve de pretexto para celebrar o seu percurso de vida e reconhecer publicamente “ a enorme dívida de gratidão pelo ISCSP e pelas várias gerações” que ajudou a formar. Já para o Almirante António Silva Ribeiro, o pensamento “do professor Adriano Moreira” teve uma grande influência na instituição militar, tendo um grande “contributo para a análise geopolítica e geoestratégica determinantes da preparação e do emprego das Forças Armadas”.

Para o almirante, a visão de Adriano Moreira é ainda importante para ajudar a compreender grandes questões da atualidade como “a geoestratégia mundial, a União Europeia, a Lusofonia, Portugal”, entre outros, ressalvando que Adriano Moreira “é um dos grandes pensadores e cientistas políticos e das relações internacionais do século XX e nesta primeira parte do século XXI”, acrescentando ainda que, “muitos de nós, nas Forças Armadas, temos tido o privilégio de conviver de perto com os seus pensamentos e as suas realizações”. António Silva Ribeiro terminou a sua intervenção a agradecer “a grande estima e amizade que os chefes militares têm por Vossa Excelência”, demonstrando ainda “o profundo respeito e a contribuição para a criação de toda a instituição militar portuguesa”. A cerimónia contou ainda com a atuação da banda da Marinha Portuguesa.

Quer comentar a notícia que leu?