O escritor e comissário da Expo 98, António Mega Ferreira, recebeu, esta segunda-feira, dia 22 de maio, uma rua com o seu nome, em frente à Gare do Oriente, entre as avenidas de Berlim e de Pádua, no Parque das Nações, no dia em que se celebrou um quarto de século do arranque da Expo 98.
Ao mesmo tempo, foi assinado um memorando de entendimento entre a CML e os herdeiros de António Mega Ferreira com vista a criar uma biblioteca e um Centro Interpretativo no Pavilhão de Portugal. Este memorando de entendimento foi assinado entre os herdeiros do escritor, a Câmara Municipal de Lisboa, a Junta de Freguesia do Parque das Nações e a Universidade de Lisboa. Desta forma, a biblioteca pessoal do escritor, com cerca de 25 mil volumes será doada à rede das Bibliotecas Municipais de Lisboa.
“Não cabe em mim tanta satisfação em concretizarmos a devolução do Centro Intepretativo do Parque das Nações, que já aqui existiu”, referiu o presidente da Junta de Freguesia do Parque das Nações, Carlos Ardisson, que se cruzou uma vez com António Mega Ferreira em 1999. Para o autarca, “é muito bom ter uma rua com o seu nome aqui na freguesia”.
A Rua António Mega Ferreira foi inaugurada no mesmo dia em que se assinalam 25 anos da abertura da Expo 98. No entender de Carlos Ardisson, este projeto permitiu dar uma nova vida aquela zona. Por outro lado, sem ele, “a freguesia não seria aquilo que é hoje, e nem eu próprio seria presidente desta junta”. Recorde-se que a atual freguesia do Parque das Nações pertenceu, no passado, aos Olivais.
Por outro lado, o autarca assinalou ainda esta data, na freguesia, com uma homenagem a todos os trabalhadores que ajudaram a construir a Expo 98. “Estamos aqui graças à ideia do António Mega Ferreira e portanto ficamos muito satisfeitos de ver esta concretização”, concluiu o presidente da Junta de Freguesia do Parque das Nações.
Espaço será uma biblioteca generalista
Já Duarte Azinheira, sobrinho do escritor, lembrou que “os livros são e foram a vida do António Mega Ferreira”. Ao mesmo tempo, este lembrou que este documento é o “protocolo que maior gosto me dá a assinar. É também, de alguma forma, um protocolo de verdadeiro serviço público”. Duarte Azinheira acrescentou ainda que falava várias vezes com o tio sobre que destino dar à sua biblioteca pessoal, composta por “188 metros lineares de livros”.
No entanto, reforçou o sobrinho de Mega Ferreira, “o António disse sempre que queria deixar a biblioteca à sua cidade”. Ao mesmo tempo, frisou ainda que esta não será “uma biblioteca especializada”. Ou seja, “corresponde àquilo que o António era como intelectual, um homem de gosto generalista”. Por isso, nesta biblioteca será possível encontrar livros de várias temáticas, desde “histórias globais, música, tarot”, entre outros.
Pavilhão de Portugal é atualmente gerido pela Universidade de Lisboa
Já para Luís Ferreira, reitor da Universidade de Lisboa, fazer esta comemoração e homenagem “é fazemos memória de António Mega Ferreira. Ele teve um papel fundamental na construção deste edificado”. O Pavilhão de Portugal, local onde se situará a futura biblioteca, é um dos edíficios que foi construído para a Expo 98, e é atualmente gerido pela Universidade de Lisboa.
Na visão do reitor, Mega Ferreira foi “um homem de cultura que nos deixa um legado e que vai muito além deste edificado e da sua biblioteca”. Contudo, Luís Ferreira lembrou que pretende-se que esta biblioteca “não seja um armazém de livros, mas sim uma biblioteca que seja vista, lida, manuseada”.
“Ao juntarmos estas três coisas estamos a cumprir a memória de António Mega Ferreira”, acrescentou o reitor da Universidade de Lisboa. Por seu turno, Luís Ferreira sublinhou que procurou-se “encontrar um sítio onde esta biblioteca fosse uma biblioteca viva”, chegando-se à ideia do Pavilhão de Portugal “em 15 dias”. Por fim, o reitor manifestou o desejo de que, “daqui a um ano possamos estar aqui a fazer a cerimónia de graduação dos nossos estudantes e a abertura do ano académico”.
Mega Ferreira “é um pai da Expo”
Já o presidente da CML, Carlos Moedas, expressou a sua “emoção” em estar a fazer esta homenagem. Para o edil, esta representa “um momento muito marcante” para a cidade. “Em 1998 eu era emigrante. Este foi o primeiro projeto de que eu me orgulhava quando vinham cá os meus amigos de França”. Na sua perspetiva, a criação desta futura biblioteca e Centro Interpretativo resulta de uma “conjugação de vontades” e é ainda uma forma de “eternizar o seu nome e agradecer por todo o seu trabalho”.
Para Moedas, Mega Ferreira “é um pai da Expo” e “teve uma visão sobre a cidade”, contribuíndo para a sua história juntamente com João Paulo Velez. Por outro lado, instalar no Pavilhão de Portugal o espólio do escritor, “é lutar para continuar a repetir a nossa história. Só repetindo a nossa história é que conseguiremos sempre manter a nossa democracia”, acrescentou o autarca lisboeta.
Por outro lado, celebrar esta data é também “marcar o futuro da história. A partir de agora temos aqui um Centro para interpretar tudo aquilo que foi este momento, que mudou a cidade e que mudou o nosso país”, concluíu Moedas.
António Mega Ferreira nasceu em Lisboa a 25 de março de 1949. Morreu também em Lisboa, a 26 de dezembro de 2022, aos 73 anos. Em 2003, foi agraciado com a Chave de Honra da Cidade. Este é um galardão municipal que distingue personalidades, instituições ou organizações pelo seu prestígio e relevância para a cidade.
Outros espaços também celebraram 25 anos
Esta inauguração foi antecedida de um cocktail no Hotel Meliá, junto à Gare do Oriente. Esta unidade hoteleira foi a primeira a ser construída na zona da Expo. Em fevereiro, celebrou 25 anos de atividade. Este hotel “foi uma aposta condicionada pelas necessidades da Expo”, explicou o CEO da Hoti Hotels, Miguel Caldeira Proença, ao Olhares de Lisboa.
Ao mesmo tempo, “foi dos primeiros hotéis com a chancela da Meliá em Portugal. Estar nesta zona foi um contributo ativo para reforçar a presença de um mercado espanhol em Lisboa”, sublinhou o responsável. Ao mesmo tempo, frisou que “esta aposta foi um risco”, porque “nada estava provado nesta zona”.
“Lisboa é uma cidade muito diferente daquilo que é hoje em dia. Quando este hotel abriu as portas foi um sucesso”, acrescentou Miguel Caldeira Proença, que considera que o Parque das Nações “é uma zona muito polivalente”. O CEO do grupo Hoti Hotels, que gere os hotéis Meliá, sublinhou ainda a transformação que a unidade do Parque das Nações sofreu ao longo dos anos.
No discurso que fez durante o evento, aproveitou para agradecer a toda a equipa que tem ajudado a evoluir o espaço. O Meliá Oriente começou com 116 quartos e a classificação de Hotel Apartamento de três estrelas. Hoje, é um hotel de 4 Estrelas e conta com índice de satisfação a rondar os 9.0. “É um marco da Expo”, salientou o vereador com os pelouros da Cultura, Economia e Inovação Diogo Moura, considerando que “a história do Meliá é indissociável desta iniciativa”.
Por fim, o autarca deixou uma palavra de apreço aos estilistas José António Tenente e Maria Gambina, que desenharam as fardas do staff da Expo 98. “Já eram inovadoras na época”, concluíu.
Várias iniciativas para recordar os 25 anos da Expo 98
Para além deste hotel, também espaços como a Altice Arena (antigo Pavilhão Atlântico) ou o Oceanário de Lisboa celebraram os seus 25 anos com diversas iniciativas para a população. Já Carlos Ardisson, também ao nosso jornal, conta que a Expo permitiu “uma mudança radical na cidade” e que a Junta de Freguesia do Parque das Nações irá dinamizar, até setembro, várias iniciativas relacionadas com os 25 da Expo.
Atualmente, “continuamos a ser atrativos e somos um local muito procurado para receber eventos e muitas pessoas” acrescentou o autarca durante o cocktail. Por fim, este evento reuniu várias figuras públicas, entre as quais a cantora Ágata. A artista contou, ao Olhares de Lisboa, “ser fã” do Parque das Nações. A cantora reside neste local há vários anos e, por isso, é uma zona “que lhe diz muito”. “Eu cheguei a vir passear à Expo grávida do meu filho”, recordou.