OS FIDALGOS DA PENHA FORMAM MARCHANTES DE PALMO E MEIO

A Associação Sócio Cultural e Recreativa de Melhoramentos da Penha de França, mais conhecida como Os Fidalgos da Penha, tem como objetivo promover a cultura e a cidadania. Com várias atividades culturais, esta associação sediada na freguesia da Penha de França, em Lisboa, promove ainda uma Escola de Marchas, onde se ensina os mais novos a marchar e a gostarem desta tradição.

Desta forma, promove a Marcha Infantil dos Fidalgos da Penha de França, mas sobretudo forma futuros marchantes. Daqui, “já saíram alunos para as Marchas da Graça, Penha de Franca, Voz do Operário, entre outras”, explica a presidente da direção da associação ao Olhares de Lisboa, Gabriela Garcia.

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Gabriela foi marchante na Marcha da Penha de França até 2013 e foi uma das mentoras deste projeto. A Escola de Marchas surgiu em 2009, através da Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola Básica Arquiteto Victor Palla. “Havia uma lacuna a nível social e cultural”, considera a presidente da Associação, que surgiu três anos mais tarde, em 2012, e cujo nome pretende invocar a história da freguesia.

Na sua perspectiva, “os meninos já não tinham aquela ligação às marchas, e por isso, perdeu-se um bocadinho aquela cultura”. A Escola de Marchas aceita crianças e jovens dos dois aos 12 anos. No entanto, os jovens após essa idade podem continuar a colaborar com a Marcha Infantil como “padrinhos dos mais novos”. A ideia é fazer com que eles continuem a ter contacto com o mundo das Marchas Populares e a ganhar gosto por esta tradição. “Nós pegamos nos meninos e fornecemos-lhes ferramentas para continuarem”, acrescenta a presidente de Os Fidalgos da Penha.

Escola pretende perpetuar a tradição das Marchas Populares

“Preparamos os marchantes da mesma maneira, marchamos à esquerda tal e qual como numa marcha grande”, acrescenta Gabriela. Contudo, e apesar de ser destinada às crianças, a verdade é que a Marcha Infantil dos Fidalgos da Penha funciona de forma semelhante às marchas que competem nas Marchas Populares de Lisboa e está ainda registada na Inspeção-Geral das Atividades Culturais (IGAC). Por outro lado, contam ainda com cenógrafos, ensaiadores, padrinhos, aguadeiros, entre outros elementos.

A única coisa que é diferente desta marcha para as outras é o número de marchantes. “Houve um ano em que tivemos cerca de 70 crianças, noutro tivemos 58, varia muito”, salienta Gabriela Garcia. No mesmo sentido, a presidente explica que o grupo não tem 48 marchantes “porque não consegue deixar ninguém de fora”. Os figurinos são desenhados e costurados pelos membros da Associação. Para já, ainda não fazem exibições na Avenida da Liberdade, ao contrário da Voz do Operário, mas esse é um dos desejos da associação.

Porém, faz exibições na freguesia, e participa também nos desfiles das Marchas Infantis de Lisboa. Ao mesmo tempo, já foi convidada para fazer exibições em vários locais, desde Lisboa, Costa da Caparica, Samora Correia, entre outros, ressalva Gabriela. Por outro lado, e todos os anos, esta Marcha Infantil faz ainda uma exibição na Voz do Operário, em conjunto com outras marchas infantis da cidade. Da mesma forma, e após as Marchas Populares de Lisboa, saem à rua a par com a Marcha da Penha de França, cuja relação “é muito positiva”.

Tema de 2023 é inspirado no Parque Mayer

Em relação ao tema escolhido para este ano, Gabriela Garcia revela que foi inspirado no tema central do concurso das Marchas Populares, o Parque Mayer. No entanto, a presidente de Os Fidalgos da Penha considera que esta Escola de Marchas anda “sempre um ano à frente”. Neste sentido, recorda que, em 2019, o “tema foi o fado, inspirado na Severa, e curiosamente, a última edição das Marchas de Lisboa teve como tema o centenário da Amália”, acrescenta.

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Em 2022, e como já tinham abordado este tema, a Marcha dos Fidalgos da Penha foi dedicado ao Mar. Os ensaios começaram em março e o grupo de marchantes ficou composto rapidamente, porque há marchantes que transitam do ano passado. Contudo, e à semelhança das marchas “dos adultos”, “há uma maior dificuldade em conseguir rapazes”, explica Gabriela Garcia.

“Há um tabu de que os rapazes não marcham e não dançam e isso não é verdade, eles fazem tudo como as meninas”. Por isso, revela a presidente, esta Escola de Marchas é também importante para ajudar a quebrar barreiras e preconceitos. Na próxima sexta-feira, dia 16 de junho, a marcha irá realizar uma volta ao bairro, e no sábado, dia 17, irá estar em Alvalade nas exibições das marchas infantis das escolas.

Trabalho é todo feito de forma voluntária

Os cenários vão ficar a cargo de Américo Grova, que colabora também com outras marchas lisboetas. Por outro lado, a ensaiadora é Ariana Garcia, filha de Gabriela, e que também já marchou pela Voz do Operário. As músicas e as letras tanto podem ser da autoria de músicos conhecidos, como dos próprios membros d’Os Fidalgos da Penha. “Houve um ano que as músicas foram escritas pelo Toy”, explica a presidente da associação. Neste sentido, a mesma salienta ainda o grande apoio de Carlos Dionísio, que “também costuma facultar algumas letras e músicas”.

Por fim, Gabriela Garcia reforça que este trabalho é todo feito de “forma voluntária”. “A grande parte das pessoas associa-se ao nosso projeto por questões emocionais ou pela ligação à tradição”. O primeiro padrinho da Marcha Infantil Os Fidalgos da Penha foi o ator Bruno Simões, falecido em 2012. “Entretanto já tivemos outros padrinhos, desde o ator João Lobo, a Anabela Brígida, a Marisa Perez, o Miguel Dias e a Carolina Gomes”. Contudo, no ano passado, “os padrinhos foram dois antigos marchantes” dos Fidalgos da Penha, acrescenta Gabriela.

Ensaiar crianças pequenas “é muito gratificante”

No entanto, antes os ensaios, as crianças fazem um workshop para aprender as bases da marcha. Para Ariana Garcia, a ensaiadora, “é um desafio muito grande e gratificante” ensaiar crianças com idades muito variadas. “Ensinamos várias questões, desde o ritmo, a noção do espaço, o que é a esquerda e a direita”, entre outras características associadas à marcha, acrescenta a jovem.

Ao mesmo tempo, “existem meninos que muitas vezes não têm noção absolutamente nenhuma do que é uma marcha e com poucos ensaios começam a interiorizar e a fazer tudo sozinhos”. Por outro lado, Ariana considera ainda que existe uma componente social nesta Escola de Marchas. “A maior parte destas crianças conhece-se da escola ou até mesmo da vizinhança, o que acaba por facilitar o processo”, não só na captação dos mesmos para a marcha, mas também durante os ensaios.

Todos os anos, acrescenta a ensaiadora, “são ensaiadas quatro coreografias”. Tal como as “marchas dos adultos”, como lhe chamou, a Marcha Infantil Os Fidalgos da Penha marcham ao som da Marcha de Lisboa, do hino da associação e ainda das músicas compostas naquele ano. Por outro lado, “todos os anos incluímos um Trono de Santo António na nossa marcha, o que já é uma marca nossa”.

Associação vive maioritariamente das quotas dos sócios

A Associação Os Fidalgos da Penha conta neste momento com mais de 100 sócios, e vive maioritariamente das quotas dos mesmos. Há cerca de dois anos, mudaram a sede da Avenida Coronel Eduardo Gallardo para os números 29 e 31 da Rua Castelo Branco Saraiva, no espaço onde funcionava uma antiga fábrica de pão. “A outra renda era muita cara e viemos para este espaço”, explica a presidente. A sede precisa de obras de melhoria e estas são a ser realizadas pelos sócios, a título voluntário. “Não temos nenhum apoio da Câmara Municipal de Lisboa nem da Junta de Freguesia”, lamenta Gabriela Garcia.

No entanto, a associação conseguiu, em 2021, um apoio dos fundos POR Lisboa 2020, através do projeto A.R.T.´Eira – Arte de Recriar a Tradição. Por sua vez, este pretende “envolver a comunidade através da criação de um espaço sociocultural”, e cujo objetivo é “dinamizar o território a nível cultural, social e educativo, permitindo a união intergeracional através da arte e do saber”, conforme se pode ler na ficha do projeto, disponível no site da associação.

Este apoio, proveniente do Fundo Social Europeu, está em vigor até ao final deste ano e é importante para suportar grande parte da atividade da associação. Contudo, a presidente de Os Fidalgos da Penha não sabe se este apoio será renovado, mas  gostaria que isso acontecesse, até porque um dos objetivos da associação é alargar o número de atividades.

Ou seja, para além da Escola de Marchas, a associação promove ainda teatro, costura, fado, apoio social e ao estudo, workshops, entre outros, e espera, em breve, “disponibilizar aulas de dança e de Yoga”.

Associação promove a cultura e apoia famílias carenciadas

Contudo, Gabriela Garcia salienta ainda o apoio da comunidade “e ainda de alguns comerciantes” da freguesia, que se identificam com o projeto da associação. Desta forma, na perspectiva da presidente, explica que este baseia-se na promoção da cidadania e da cultura. Ao mesmo tempo, e para além da componente cultural, Os Fidalgos da Penha ajudam também 53 famílias carenciadas com bens alimentares e outros artigos. Alguns destes agregados, salienta Gabriela Garcia, são da Penha de França, mas outros são de freguesias vizinhas.

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