BOMBEIROS DE CAMARATE DENUNCIAM MÁS CONDIÇÕES NO HOSPITAL BEATRIZ ÂNGELO

Na sequência da morte de um idoso, de 93 anos, na passada segunda-feira, dia 21 de agosto, no Hospital Beatriz Ângelo (HBA), a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários Camarate (AHBVC) denunciam a falta de condições naquela unidade hospitalar, que funcionou em parceria público-privada até janeiro de 2022. Luís Martins, comandante daquela corporação, fala em tempos de espera de mais de oito horas, entre outros casos de mau funcionamento no HBA.

Sobre o óbito ocorrido na última segunda-feira, dia 21 de agosto, Luís Martins, comandante dos bombeiros de Camarate, explicou ao Olhar Loures que a corporação foi acionada por volta das 12h15 na sequência de uma queda na Casa de Saúde de Santa Maria, em Camarate. António Fernandes, a vítima, deu entrada no Beatriz Ângelo por volta das 13h00.

No entanto, foi avaliado numa maca da AHBVC porque o HBA não tinha macas suficientes, explicou o responsável, adiantando ainda que “o cenário estava caótico” no HBA, onde havia ambulâncias de outras corporações “à espera desde as 10 da manhã”. De seguida, o idoso foi submetido a um raio-X, onde se confirmou uma fratura no colo do fémur.  Neste sentido, a equipa de enfermagem realizou uma tração na perna e colocou novamente o homem a aguardar por uma nova intervenção.

“Entretanto, através de conversa de corredor, a nossa tripulação descobriu que o senhor tinha de ser transferido para Santa Maria”, adiantou Luís Martins, sublinhando que deu autorização à equipa para o fazer. “Queríamos que o senhor ficasse entregue em condições”, reforçou, explicando que o HBA recusou este transporte. Por sua vez, a justificação foi que o utente teria de seguir nas ambulâncias privadas que prestam serviço para o hospital. No entanto, e enquanto esperava por este transporte, o idoso perdeu os sentidos e faleceu.

Falta de resposta aos utentes preocupa a corporação

“A nossa equipa ficou revoltada com o que aconteceu”, reforçou Luís Martins, sublinhando igualmente que “há muitos casos” de mau atendimento no Hospital Beatriz Ângelo. “Isto não pode passar impune”, prossegue o comandante dos Bombeiros de Camarate, que diz ainda que “é recorrente esta demora na resposta aos utentes”, que chegam a estar “mais de oito horas” à espera para serem atendidos. Por outro lado, denuncia ainda, “[o HBA] não tem médicos nem material suficiente. Ficamos horas e horas à espera de uma maca”.

Luís Martins considera igualmente que este hospital “piorou bastante desde que passou para a gestão pública”. O óbito de António Fernandes, antigo bombeiro, foi confirmado por volta das 18h30, após cinco horas de espera. Para já, a família garante que vai levar o caso a tribunal. “Sinto-me revoltada e isto não se faz. [O meu pai] foi abandonado”, referiu a filha do idoso, Ana Pereira, à comunicação social.

Câmara de Loures pede mais medidas

Em comunicado, a Câmara Municipal de Loures (CML), liderada por Ricardo Leão (PS), lamentou o óbito e acrescentou ainda que está a acompanhar a situação. Desta forma, pede a implementação de medidas urgentes para melhorar as condições naquela unidade de saúde. Por outro lado, a unidade hospitalar emitiu uma nota a confirmar a morte do idoso e a sublinhar que “determinou a abertura de um processo de inquérito com carácter de urgência”.

No entanto, o HBA ressalva ainda que a “avaliação preliminar não permite estabelecer qualquer relação entre o tempo de permanência na urgência, a assistência prestada e o desfecho que veio a verificar-se”. Também a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) garantiu que já abriu um processo de esclarecimento. O objetivo será “avaliar a necessidade de desenvolver outro tipo de ação inspetiva”. Ao mesmo tempo, esta entidade avança ainda que a Entidade Reguladora da Saúde (ERS), está também a averiguar a situação, através de um processo de avaliação.


A mesma nota acrescenta ainda que “estes dois organismos decidiram cooperar, de modo a obter todos os esclarecimentos necessários”. A autarquia de Loures explica ainda que está a aguardar os resultados do processo de inquérito. No mesmo sentido, garante também que “está igualmente atenta e a acompanhar com preocupação a situação na urgência desta unidade hospitalar”. Recorde-se que o HBA passou para a gestão pública em janeiro de 2022, após 10 anos de parceria público-privada.

HBA serve cerca de 278 mil utentes

Ainda de acordo com a edilidade, nos últimos tempos têm-se verificado uma “falta de capacidade de resposta” do HBA. Por isso, reforça a necessidade de “se tomarem medidas de forma a inverter esta realidade”. No início de junho, os presidentes das autarquias de Loures, Odivelas, Mafra e Sobral de Monte Agraço assinaram um memorando de Entendimento para a constituição de uma Comissão Intermunicipal de Acompanhamento ao Hospital Beatriz Ângelo (HBA).

O objetivo com este acordo será, em conjunto, reivindicar melhores condições de atendimento naquela unidade hospitalar. O HBA serve cerca de 278 mil utentes, oriundos destes quatro concelhos.

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