A Junta de Freguesia das Avenidas Novas (JFAN) celebrou, esta sexta-feira, dia 29 de setembro, o seu 10º aniversário, numa cerimónia que teve lugar no Hotel Vip Grand, tendo distinguido entidades e personalidades de relevo da freguesia, bem como 11 funcionários da autarquia.
O presidente da JFAN, Daniel Gonçalves, salientou que “o dia 19 de setembro é e será sempre uma data importante e de referência para todos nós”, recordando que a freguesia das Avenidas Novas resulta da reforma administrativa de 2012, agregando as antigas freguesias de S. Sebastião da Pedreira, Nossa Senhora de Fátima e algumas ruas de Campolide. Contudo, conforme fez questão de sublinhar, “a jovem freguesia de Avenidas Novas jamais esquecerá a sua história”.
O autarca lembrou ainda que o atual executivo está, “com genuíno empenho, na construção do presente e do futuro da nossa freguesia. O futuro não se faz apenas de acontecimentos e obras”, defendeu. Daniel Gonçalves lembrou “os pequenos e grandes investimentos” realizados pela JFAN, e que contribuem “decisivamente para o desenvolvimento da freguesia, potenciando a solidariedade, e a interajuda”.
Apostar na cultura e na proximidade
“Continuaremos a apoiar a cultura, a educação, a aproximação com a população, o acompanhamento aos idosos, principalmente os que estão sós e às crianças e famílias”, prosseguiu o presidente da JFAN, defendendo a “sustentabilidade ambiental” e a recuperação e valorização do “nosso património”.
Daniel Gonçalves quer continuar a desenvolver “parcerias com os movimentos associativos da freguesia, com os agentes económicos, e com a Câmara Municipal de Lisboa”, com o propósito de “construir uma freguesia sempre melhor”, onde “nenhuma área seja deixada para trás”.
Homenagens a Vasco Morgado e Laura Alves
No decorrer da cerimónia foram homenageadas algumas personalidades da cidade e da freguesia das Avenidas Novas. De acordo com Daniel Gonçalves, os agraciados “dignificaram e deixaram o seu rasgo na produção da cidadania, nas suas atividades profissionais, sociais e cívicas, assim como o espírito de missão, trabalho e visão estratégica, incorporando os novos valores da nossa freguesia”. Os primeiros homenageados, a título póstumo, foram os atores Vasco Morgado e Laura Alves. O primeiro, nascido em 1924 no concelho de Almada, chegou a ter cinco teatros em Lisboa e um no Porto. Frequentou o Conservatório, sem o concluir, e juntamente com Constantino Esteves, criou uma produtora de cinema.
Vasco Morgado participou em filmes como ‘Ladrão Precisa-se’, ‘Capas Negras’, ‘Heróis do Mar’, entre outros. Em 1941, participou no filme ‘O Pai Tirano’, onde a sua mulher, Laura Alves, fez parte do elenco. O casal teve um filho, Vasco Morgado, nascido em 1940, e que também se dedicou ao teatro, como empresário teatral. Foi ele quem recebeu a distinção da JFAN atribuída aos seus pais. “Um pai ausente”, recordou o empresário teatral. Contudo, salientou que “era um homem extraordinário e uma pessoa ímpar”. Por outro lado, e sobre a mãe, Laura Alves, recorda que “era uma pessoa com um feitio um bocado complicado, mas vivia para o teatro e era uma atriz espantosa”.
Filipe La Féria distinguido
O terceiro homenageado pela JFAN, também ele com grande ligação ao teatro, foi o encenador Filipe La Féria, que passou a sua adolescência nas Avenidas Novas. La Féria formou-se na Escola de Teatro do Conservatório Nacional e estreou-se como ator em 1963, tendo realizado uma formação em Encenação, em Londres. Durante 16 anos, foi diretor da Casa da Comédia. Atualmente, é um dos nomes mais consagrados do teatro português, somando diversos sucessos de bilheteira.
O maior foi o musical ‘Amália’, escrito e encenado por si, e que esteve em cena no Teatro Politeama durante seis anos. Em breve, vai estrear, no Politeama, a peça ‘Laura’, baseada na história de vida de Laura Alves. “É um musical muito engraçado e será uma homenagem a dois grandes nomes do teatro, Laura Alves e Vasco Morgado, que têm uma história de amor maravilhosa”, acrescentou encenador durante a entrega da distinção, convidando todos a assistirem à peça.
Associação Portuguesa Contra a Leucemia também foi distinguida
A Associação Portuguesa Contra a Leucemia (APCL), que tem 21 anos de atividade e fica localizada no Arco do Cego, foi também distinguida. Por sua vez, esta associação surgiu com o objetivo de mobilizar a sociedade para a luta contra a leucemia e também para apoiar os doentes e seus familiares. Segundo o presidente da APCL, Manuel Abecasis, disponibiliza, atualmente, uma casa de acolhimento para doentes e as suas famílias.
“Era uma lacuna que havia. Tínhamos muitos doentes carenciados que tinham de ficar em Lisboa, por vários dias ou meses, para realizar os tratamentos”, reforçou Manuel Abecasis. Esta casa está a funcionar, desde junho deste ano, foi, nas palavras do responsável, “um sonho que teve de ser adiado devido à Covid-19”. A APCL funciona numa casa cedida pela Câmara de Lisboa, e que estava em ruínas, cuja requalificação ficou a cargo da associação.
Freguesia reconheceu também autoras de ‘Uma Aventura’
De seguida, foram homenageadas as escritoras Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada, responsáveis pela saga literária de sucesso ‘Uma Aventura’, que reuniu mais de 60 títulos e vendeu mais de oito milhões de cópias em 40 anos. Ana Maria Magalhães nasceu em Lisboa, em 1946, e foi aluna do Colégio Sagrado Coração de Maria e licenciou-se em Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Para além de escritora, foi também professora. Entre 1989 e 1991, fez parte da equipa que reformou o sistema educativo.
“Estou muito comovida”, reforçou a escritora, lembrando que o seu pai “era muito amigo de Vasco Morgado e Laura Alves”. Ana Maria Magalhães disse ainda que “ganhou muita influência da Enid Blyton [autora da saga ‘Os Cinco’]” e que a dupla com Isabel Alçada, funciona bem há 40 anos devido “a uma grande sintonia e a uma complementaridade”.
Isabel Alçada cresceu nas Avenidas Novas
Por sua vez, Isabel Alçada, também natural de Lisboa, nascida em 1950, é a filha mais velha de uma família maioritariamente feminina. A escritora foi aluna do Liceu Francês Charles Lepierre, onde concluiu o ensino secundário, antes de se licenciar em Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Em 1976, começou a sua atividade como professora de Português e História. No seu percurso profissional, foi ainda coordenadora do grupo de trabalho que desenvolveu a rede de bibliotecas escolares. Por outro lado, entre 2006 e 2009, foi comissária do Plano Nacional de Leitura.
Em 2009, assumiu as funções de Ministra da Educação do 18º Governo Constitucional. “Sinto-me muito comovida com esta homenagem”, disse a escritora, lembrando que as Avenidas Novas sempre fizeram parte da sua vida. Isabel Alçada recordou que foi estimulada para a leitura e para a escrita graças ao seu pai. Sobre a coleção ‘Uma Aventura’, acrescentou que ela tem como objetivo “promover a leitura e tentar que os mais novos gostem de ler. A leitura é uma abertura mental imensa, ajuda as pessoas a irem mais longe, a conhecer melhor o mundo, a conhecer melhor os outros”.
Emílio Andrade agraciado
Emílio Andrade, antigo sócio nº 1 do Sport Lisboa e Benfica (SLB) e proprietário da Adega da Tia Matilde, um ex-libris da freguesia, foi outro dos homenageados nesta cerimónia, a título póstumo. O empresário começou a trabalhar na restauração aos 12 anos, tendo servido inúmeras figuras ligadas ao SLB, entre as quais Eusébio da Silva Ferreira, que era cliente assíduo do espaço.
A Adega da Tia Matilde é agora gerida pela mulher e filhas de Emílio Andrade. Este, em 2021, um ano antes de falecer, recebeu o Prémio Carreira da iniciativa ‘Boa Cama Boa Mesa’. Para além de servir figuras ilustres, Emílio Andrade era também conhecido por dar a comida que sobrava do restaurante a pessoas carenciadas.
Distinguidos funcionários da JFAN
Na celebração destes 10 anos, a junta homenageou 11 funcionários da autarquia, pelo seu trabalho e dedicação. “Os meus agradecimentos aos presentes e aos homenageados”, concluiu Daniel Gonçalves, esperando voltar a realizar esta cerimónia em 2024. A cerimónia contou com um momento musical proporcionado pelo artista Jorge Fernando, bem como de porto de honra.