INAUGURADA EXPOSIÇÃO DE EDUARDO GAGEIRO NA CORDOARIA NACIONAL

A Câmara Municipal de Lisboa inaugurou, esta sexta-feira, 26 de janeiro, a exposição ‘Factum’, que reúne cerca de 170 fotografias do fotojornalista Eduardo Gageiro, que foi um dos repórteres fotográficos que registou a revolução do 25 de Abril de 1974. A mostra abriu ao público neste sábado, 27 de janeiro, e pode ser vista até 5 de maio no Torreão Nascente da Cordoaria Nacional, em Belém. 

A partir deste sábado, 27 de janeiro, e até 5 de maio, pode visitar, na Cordoaria Nacional, em Belém, a exposição ‘Factum’, que reúne cerca de 170 fotografias do fotojornalista Eduardo Gageiro. A mostra abre este sábado ao público e foi inaugurada esta sexta-feira, dia 26 de janeiro. No discurso de inauguração da exposição, o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, lembrou que, no 25 de Abril “nem quatro anos tinha, mas senti sempre o significado dos valores de Abril”. “Senti-o enquanto cresci, ao lado do meu pai, que viveu Abril com muita intensidade e com imensa esperança. E transmitiu-a para a minha família”.

Por isso, salientou que é importante continuar a lembrar a importância desta revolução para as gerações mais novas, para que não esqueçam os valores desta revolução. É isso que estamos a fazer hoje. É isso que estamos a fazer em Lisboa. Em Lisboa celebramos Abril por inteiro, para comemorarmos a sua memória, porque sabemos que um país sem memória é um país sem futuro”, prosseguiu o autarca. Na sua perspetiva, “celebrar Abril tem de ser fazê-lo de uma forma muito especial, e é assim que o estamos a fazer hoje, com o Eduardo Gageiro, um dos melhores fotógrafos do nosso país e da sua geração”.

Entrada gratuita

A exposição ‘Factum’ tem entrada gratuita e pode ser vista de terça a domingo, entre as 10h00 e as 18h00. Moedas agradeceu ainda à EGEAC, empresa que organiza esta iniciativa, considerando-a um “verdadeiro exemplo do que é o serviço público”. Dirigindo-se ao fotógrafo Eduardo Gageiro, o presidente da CML lembrou que ele é “um fotógrafo das pessoas, que ficou conhecido pelos retratos que fez de tantas pessoas, e que contavam, pelo poder da imagem, as suas vidas, as suas batalhas, as suas ânsias, receios e esperanças”.

O presidente da Câmara de Lisboa referiu ainda que estas pessoas retratadas transformaram-se ” em figuras representativas do país”, como o retrato de uma senhora de 80 anos, que puxava uma rede de peixe na Nazaré e que valeu, a Eduardo Gageiro, a prisão pela PIDE. Para além deste retrato, o fotojornalista foi ainda preso várias vezes por retratar a realidade do país. “O Eduardo Gageiro fazia algo que poucos se atreviam: transmitir aquilo que essas pessoas realmente sentiam, como sentiam a sua vida, o seu país e as suas injustiças”, acrescentou Carlos Moedas.

Fotógrafo da história nacional

Ao mesmo tempo, o edil referiu-se ainda ao repórter como um “fotógrafo da história e que deu imagem e vida à história”. Uma destas imagens é, por exemplo, o retrato de António de Oliveira Salazar, no Forte de Santo António da Barra no Estoril. “Aquela fotografia não é um simples retrato de um homem. É também uma imagem do seu tempo histórico: de um homem que estava só, tal como só estava o seu regime”, frisou Moedas. Mais tarde, Gageiro tirou ainda a famosa fotografia de um soldado a retirar uma fotografia de Salazar na sede da PIDE, logo após a Revolução dos Cravos.

“Essa fotografia mostra exatamente o significado histórico daquele dia: o desaparecimento do Estado Novo e o fim do salazarismo. Eduardo Gageiro é, através da fotografia, um intérprete do seu momento histórico. Consegue sê-lo porque cumpre com zelo uma regra que o próprio se autoimpôs, quando disse que um fotojornalista deve estar todos os dias atento ao mundo que o rodeia.”, acrescentou o presidente da CML, referindo-se ainda ao fotógrafo como “um fotógrafo da liberdade”. Ou seja, “da liberdade que celebramos nos 50 anos de Abril. Porque Eduardo Gageiro é um fotógrafo de Abril”.

Recordar a importância da revolução

“Foi um daqueles que esteve lá. Que deixou o seu testemunho em imagens que se imortalizaram. E que hoje estão aqui, abertas aos lisboetas e aos portugueses”, explicou o autarca. Por fim, lembrou ainda, “naquele 25 de Abril o Eduardo Gageiro andou sempre com o Salgueiro Maia. Viu as movimentações do dia. Ouviu muitas das palavras de ordem. Assistiu a momentos cruciais entre revolucionários e defensores do antigo regime. Esteve presente naquele dia e viveu os dias e meses seguintes”.


Por isso, concluiu, “deixa à cidade de Lisboa o seu testemunho do que foi a liberdade”. Moedas disse ainda que, nesta exposição é possível ver “o significado” da revolução. “Vemo-lo em imagens que retratam pessoas e momentos, vencedores e derrotados, esperança e temor, alegria e desilusão. Retratam, nesta dicotomia, a vitória da esperança e da alegria. E se há algo que temos de passar aos mais novos é precisamente essa esperança e essa alegria que se viveram no 25 de abril.”, finalizou. Para além de Carlos Moedas, esteve também presente o vereador com o pelouro da Cultura da CML, Diogo Moura, entre outros convidados.

Reconhecer o trabalho de Eduardo Gageiro

O autarca, disse, ao Olhares de Lisboa, que “esta exposição nasce de um encontro que o presidente Carlos Moedas teve, na altura que fomos apresentar um projeto à Biblioteca Orlando Ribeiro, em Telheiras, onde encontramos o Eduardo Gageiro numa exposição, e que nos disse que nunca em Portugal lhe tinham feito uma exposição”. Esta mostra “é a maior exposição de Eduardo Gageiro”, sublinhou Diogo Moura, acrescentando que “ele já merecia este reconhecimento”.

Sobre ‘Factum’, o vereador acrescenta também que esta iniciativa “conta também grande parte da história de Portugal e da nossa identidade, que é o povo e as grandes figuras do nosso país”. “Eduardo Gageiro é um fotojornalista bastante eclético e esta exposição tem fotografias de várias épocas, até 2023”. Em 2023, finalizou Diogo Moura, a CML também “já apoiou a edição de um livro com fotografias de Eduardo Gageiro, sobre o tema do Amor, e agora, com esta grande exposição, celebramos os 50 anos do 25 de Abril”, iniciativa esta que se junta às mais de 200 iniciativas relacionadas com esta efeméride que a Câmara de Lisboa vai realizar nos próximos meses.

Gageiro colaborou com vários órgãos nacionais e internacionais

Eduardo Gageiro nasceu em Sacavém (concelho de Loures) a 16 de fevereiro de 1935. Aos 12 anos, começou a trabalhar na Fábrica de Loiça de Sacavém, onde permaneceu até 1957. Neste período, conviveu diariamente com pintores, escultores e operários fabris, que o influenciaram a seguir a carreira de fotojornalista. Nesta área, começou no Diário Ilustrado, passando ainda pelo O Século Ilustrado, Eva, Almanaque, Match Magazine, Associated Press, entre outras publicações, tendo colaborado ainda com vários jornais e revistas internacionais, como por exemplo a Paris Match, o Herald Tribune, Stern, entre outros.

“Não quero ser presunçoso, mas passei toda a minha vida a ser homenageado”, começou por dizer o repórter fotográfico ao Olhares de Lisboa. Desta forma, lembrou que já recebeu centenas de prémios e distinções em todo o mundo, e que já teve ainda a oportunidade de ver o seu trabalho exposto nos cinco continentes do mundo. Em 2007, contou com 222 fotografias da sua autoria numa exposição realizada no Museu Mundial de Arte de Pequim, na China. “Foi a melhor exposição que fiz”, recordou o fotógrafo, que é ainda o único português com uma fotografia em exposição permanente na Casa da História Europeia, em Bruxelas.

Preso por mostrar a realidade

A imagem em questão retrata a Revolução do 25 de Abril de 1974. Sobre este acontecimento marcante da história portuguesa, Eduardo Gageiro considera-o “o trabalho mais gratificante que teve na vida”. “Foi a reportagem da minha vida”, prosseguiu o fotógrafo, que tem 22 livros editados. Por sua vez, a imagem que mais gostou de fazer foi a da mulher da Nazaré, e que lhe valeu a prisão. “A PIDE achava que eu dava uma imagem muito humanista a Portugal, quando havia paisagens tão bonitas para mostrar. Eu não fotografava paisagens”, recordou o fotojornalista, que, aos 89 anos, ainda continua a fotografar.

Para além de anónimos, Eduardo Gageiro também teve a oportunidade, na sua vida profissional, de fotografar personalidades nacionais como Amália Rodrigues, Eusébio, António Champalimaud, Francisco Pinto Balsemão, entre outros. “Consegui conhecer a outra face deles”, recordou. São estas imagens que pode ver, até 5 de maio, no Torreão Nascente da Cordoaria Nacional, em Belém. Por fim, ‘Factum’ conta com imagens selecionadas dos negativos originais de Eduardo Gageiro.

Desta forma, neste conjunto de 170 fotografias, é possível encontrar algumas imagens dedicadas ao 25 de Abril, entre as quais a mais recente, captada a 25 de abril de 2023, bem como outros retratos que mostram a realidade do país desde 1950, até ao ano passado.

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