ALICE VIEIRA RECEBEU PRÉMIO IBEROAMERICANO

A escritora Alice Vieira recebeu, esta segunda-feira, 8 de janeiro, o prémio Iberoamericano de Literatura Infantil e Juvenil. A cerimónia aconteceu no Salão Nobre da Junta de Freguesia das Avenidas Novas (JFAN) e reuniu amigos e familiares da escritora, bem como o Ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, o presidente da JFAN, Daniel Gonçalves, entre outras personalidades. Para além do troféu, Alice Vieira irá ainda receber um valor pecuniário de 28 mil euros.

Alice Vieira, conhecida escritora portuguesa, recebeu, esta segunda-feira, 8 de janeiro, o prémio Iberoamericano de Literatura Infantil e Juvenil. A cerimónia decorreu no Salão Nobre da Junta de Freguesia das Avenidas Novas (JFAN) e contou com as presenças do Ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, do Embaixador de Portugal no México, Manuel Carvalho, e ainda do presidente da JFAN, Daniel Gonçalves.

Segundo Nélson Mateus, curador e mentor da iniciativa ‘Retratos Contados’, Alice Vieira “é a primeira escritora portuguesa a receber este prémio”. A escritora foi distinguida pelo seu “estilo pessoal que transcende gerações e culturas”, assim como pela “grande qualidade literária e diversidade” nas suas obras. Em 45 anos de carreira, Alice Vieira escreveu obras como ‘Rosa, Minha Irmã Rosa’, ‘Chocolate à Chuva’, ‘Se Perguntarem por Mim, Digam que Voei’, entre outros inúmeros títulos. Para celebrar a carreira da escritora, o projeto ‘Retratos Contados’ irá lançar um podcast, um livro e uma exposição, ao longo deste ano de 2024.

Autora escreveu uma centena de obras literárias

Os seus livros, prosseguiu Nélson Mateus, “espelham a sua capacidade de perceber e interpretar o mundo interior das crianças e adolescentes, através de uma observação apurada dos pormenores da vida quotidiana”. Alice Vieira tem 80 anos e foi casada com o jornalista Mário Castrim, que a lançou na literatura e no jornalismo. Contudo, outro homem fundamental na carreira da escritora foi o editor Severino Coelho, da Caminho, responsável pela publicação, em 1979, da obra ‘Rosa, Minha Irmã Rosa’, e mais tarde, dos seguintes títulos da autora.

“Obrigado à Caminho por ter dado colo à Alice ao longo destes últimos anos”, prosseguiu Nélson Mateus, que tem uma relação de grande proximidade com a autora, quase como de avó e neto. “Como neto adotado, tenho vivido momentos inesquecíveis. Fui das primeiras pessoas, a par da família, a saber da atribuição deste prémio”, revelou o responsável do ‘Retratos Contados’, que conduziu a cerimónia de atribuíção do prémio Iberoamericano.

Várias iniciativas ao longo do ano para homenagear a escritora

A autora viveu, durante muitos anos, na freguesia das Avenidas Novas, onde, igualmente, escreveu grande parte das suas obras. Por isso, será nesta freguesia que se irão desenrolar várias atividades relacionadas com a celebração dos 45 anos de carreira de Alice Vieira. “Ter a oportunidade de receber, no Salão Nobre da JFAN, a escritora Alice Vieira, para receber o prémio Iberoamericano de literatura infantil e juvenil é uma honra”, disse o presidente da JFAN, Daniel Gonçalves.

“Tenho a sorte de conhecer esta notável personalidade da cultura portuguesa e que privilégio é para a freguesia termos uma freguesa que já escreveu aproximadamente uma centena de livros. Alice Vieira é transversal a várias gerações”, prosseguiu o autarca, salientando que a obra de Alice Vieira “transporta-nos para a função mais nobre do nosso pensamento, que é imaginar, sonhar, enfrentar a realidade e recomeçar mais forte e melhor”. Ainda na opinião de Daniel Gonçalves, a escritora “é uma personalidade notável que representa o verdadeiro património português. O primeiro livro da Alice Vieira foi publicado em 1979 e celebra 45 anos”.

‘Retratos Contados’ irá estar em exposição em março

Por isso, para o presidente, “é uma honra a JFAN associar-se a estas celebrações”. Em março, mês em que a escritora celebra 81 anos de vida, está prevista a exposição ‘Retratos Contados‘, dedicada à autora. Igualmente, está também prevista a atribuíção do seu nome a uma árvore na Rua Luís Bivar, bem como a uma sala da Universidade das Avenidas Novas para a Terceira Idade (UNANTI).

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“Em toda a sua obra, Alice Vieira abraça a urgência de uma mudança de mentalidades e atitudes face aos mais velhos, de forma a não serem apenas considerados como um peso”, reforçou o presidente da JFAN, destacando a relação próxima com o seu neto “de coração”, Nélson Mateus. “O Retratos Contados é um grande exemplo de valorização dos mais velhos e da importância da ligação intergeracional entre avós e netos”, acrescentou Daniel Gonçalves.

Por isso, a Junta de Freguesia irá associar-se ao lançamento do próximo livro de Alice Vieira e Nélson Mateus, bem como à gravação de um podcast, onde ambos abordam estas temáticas. “Alice Vieira é considerada uma das mais importantes escritoras portuguesas de literatura infanto-juvenil. É uma lição, para todas as idades, a sua vida dedicada à arte da escrita literária”, concluiu Daniel Gonçalves. Na sua visão, a autora “leva-nos sempre mais longe, num processo sensível que nunca é tarde para percorrer”.

Alice Vieira vai ganhar 28 mil euros no âmbito do prémio

O júri do prémio Iberoamericano era composto por Juana Inés Dehesa Christlieb, da Organização dos Estados Iberoamericanos (OEI), Freddy Gonçalves da Silva, do Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e no Caribe (CERLALC), bem como por Alicia Espinosa de los Monteros, do Conselho Internacional de Livros para Jovens (IBBY México). Ao mesmo tempo, outros jurados foram ainda Rodrigo Morlesin, da secção mexicana da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), e Teresa Tellechea Mora, em representação da Fundação SM.

Na base do prémio, explicou a JFAN, estava o facto de a autora criar, “de forma verosímil, personagens infantis e juvenis cativantes, com sentimentos profundos e complexos”. Para além do troféu, Alice Vieira irá ainda receber um prémio pecuniário no valor de 28 mil euros. Esta distinção, frisou ainda Nélson Mateus, é o resultado de “longos meses e muitas horas de trabalho”, marcada ainda pela troca de ideias com a organização do prémio, para que a sua entrega “corresse da melhor maneira. Quando se começou a trabalhar na entrega deste prémio, imaginei uma cerimónia intimista em casa”, revelou o “neto” de Alice Vieira.

Alice Vieira é a primeira escritora portuguesa a conquistar o prémio Iberoamericano

O prémio Iberoamericano foi entregue pelo embaixador de Portugal no México, Manuel Carvalho, que o trouxe da América Latina para Portugal. “É um prazer estar aqui. A sua carreira é notável”, começou por dizer o embaixador, destacando ainda “a juventude e a curiosidade” de Alice Vieira. “Essa juventudé da-lhe o motor, o engenho, a força, a energia e a genica para continuar a escrever”, prosseguiu, reforçando que era um adolescente quando a autora começou a escrever livros.

“É de particular significado que uma autora portuguesa receba este prémio porque leva a nossa vivência, a nossa vida, a nossa cultura para aquele grande mundo da língua espanhola”, disse ainda Manuel Carvalho. Por outro lado, o embaixador salientou ainda que a “soma das duas línguas ibéricas [Português e Espanhol] têm, em conjunto, 800 milhões de falantes em todo o mundo”. Por fim, concluiu o discurso a referir que o prémio Iberoamericano “é justificado pela qualidade, amplitude e longevidade da obra”.

Prémios são importantes para estimular os escritores, considera Ministro da Cultura

Outro dos presentes nesta cerimónia foi ainda o Ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, por quem Alice Vieira tem uma grande admiração. “É uma enorme satisfação poder associar-me à aléegria é a felicidade com que a Alice vive”, disse o ministro, que é admirador e leitor da obra da escritora. “Os prémios literários são um instrumento importante porque têm uma função de reconhecimento e de estímulo. São duas coisas igualmente importantes”, afirmou Adão e Silva, que considera que o prémio Iberoamericano “significa a afirmação da lusofonia” e um “estímulo” para que os autores continuem a escrever.

“Uma coisa muito importante dos prémios literários é que, associado à estatueta, vem o dinheiro. A verba é muito importante”, disse ainda o Ministro da Cultura, lembrando que, em Portugal “existem poucas pessoas” a viver da escrita. Por isso, “a verba do prémio é mesmo muito importante para continuar a poder escrever outro livro”.

De igual forma, é também crucial para que “outros escritores possam perceber que é possível, ganhar um prémio literário internacional”. “Acho que um autor português ganhar um prémio literário internacional é mesmo um grande feito”, prosseguiu o ministro. Aqui, deu como exemplos o Nobel da Literatura de José Saramago ou os  prémios internacionais conquistados por Lídia Jorge.

Promover a leitura junto dos mais novos

Por outro lado, Pedro Adão e Silva falou ainda da “importância do livro e da leitura” para a preservação da história e da civilização. Para o ministro, o livro “é uma tecnologia muito resistente”, mas que tem vindo a ser posta de parte. “Não sei se lemos menos, mas se calhar, no livro, no papel, lemos menos”, admitiu. O responsável pela pasta da Cultura em Portugal referiu-se ainda aos livros como “a base sobre a qual se constrói todo o edíficio cultural. Não há cultura sem livro, não há cultura sem literatura”.

Neste sentido, Pedro Adão e Silva disse ainda que a “literatura infantil-juvenil tem mesmo um papel crucial”, uma vez que contribui para formar futuros leitores. Por outro lado, referiu ainda, “é uma responsabilidade do Ministro da Cultura recordar que somos um país muito desigual no acesso à cultura”. O governante referiu ainda que é uma pessoa “que gosta muito de ler e que já leu cinco livros da Alice Vieira”. “Foram livros muito importantes quando me comecei a formar como leitor”, prosseguiu, lembrando ainda o significado e as memórias que a sua obra lhe deixou.

“Foi por isso que eu quis muito estar aqui hoje, não apenas para me poder associar à homenagem, mas para uma coisa muito mais importante que é para lhe agradecer como leitor”, concluiu Pedro Adão e Silva. Por sua vez, Alice Vieira começou a sua intervenção a agradecer a todos os que lhe atribuíram este galardão. Contudo, lembrou que, para além de escritora, é também jornalista, colaborando com vários órgãos de comunicação social. “Não estou a dizer que escrevo melhor ou pior que os outros”, disse a autora, reforçando que, por isso, tem uma outra maneira de escrever.

Leitura abre novos mundos

Dando como exemplo a obra ‘Chocolate à Chuva’, que aborda a questão do divórcio, Alice Vieira contou que, num dos capítulos, “tudo aquilo que escrevi foi rigorosamente o que eu vi no café”. A autora revelou ainda estar a trabalhar num novo livro, que “já está quase pronto”. Por outro lado, falou também da importância da leitura. Aqui, lembrou que, quando era miúda, “lia livros tão maus, mas gostava e queria ler mais”.

“Nunca digo ‘não leias isso'”, prosseguiu a escritora, acrescentando que passa esse exemplo aos netos. “Eu faço clubes de leitura com os miúdos, acho que isso é muito importante”, disse ainda Alice Vieira, sublinhando que estas ações são fundamentais para o despertar da leitura. “A leitura é muito importante porque abre outros mundos”, concluiu.

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