A Águas do Tejo Atlântico (AdTA) distinguiu, na última sexta-feira, 22 de março, as indústrias com melhores práticas ambientais, no âmbito do Plano AgIR, que pretende sensibilizar as indústrias para a adoção de práticas mais sustentáveis. Esta foi a primeira edição desta cerimónia, que distinguiu cinco empresas.
As indústrias e entidades com melhores práticas ambientais foram, na última sexta-feira, 22 de março, reconhecidas pela Águas do Tejo Atlântico (AdTA) com o selo AgIR. A cerimónia que teve lugar na sede da empresa, em Alcântara. Este reconhecimento está inserido no Plano de Ação AgIR, e pretende distinguir as indústrias que se destacaram na adoção de medidas circulares dos efluentes industriais e no contributo por um melhor ambiente. Igualmente, foram ainda assinados Protocolos de Cooperação entre a Águas do Tejo Atlântico, as indústrias, as Câmaras Municipais de Vila Franca de Xira e de Torres Vedras, e a Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
O Plano AgIR conta com o apoio de 4,2 milhões de euros, financiados pelo Fundo Ambiental. Igualmente, pretende, em colaboração com os munícipios, melhorar a qualidade dos efluentes e promover soluções circulares de aproveitamento de subprodutos para novos ciclos produtivos. Contudo, quer ainda minimizar e eliminar as afluências industriais indevidas às redes de drenagem municipal e aos sistemas de tratamento. Até ao momento, estão a ser realizados trabalhos em 12 municípios. Os Selos AgIR da AdTA premiaram, assim, as indústrias que se destacaram no envolvimento deste projeto. Graças a ele, a implementação de medidas foi efetiva e permitiu uma melhoria muito significativa da qualidade das descargas industriais.
Combater as descargas ilegais
O “Selo de Qualidade Indústria em Evolução” visa premiar as indústrias que se destacam no domínio dos efluentes industriais, na adoção de medidas circulares e o contributo por um melhor ambiente. Segundo Hugo Xambre Pereira, vice-presidente executivo do Conselho de Administração da AdTA, ao Olhares de Lisboa, este plano pretende “combater um problema grave que nós tínhamos”. Ou seja, “que era as nossas fábricas de água não conseguirem cumprir com o tratamento das águas, porque recebiam os efluentes de indústrias, com cargas orgânicas muito altas, muito acima daquilo que os regulamentos permitem”.
O Plano AgIR tem como objetivo sensibilizar as indústrias a adoptarem medidas e mecanismos internos de tratamento das suas águas residuais. “Por outro lado, aquelas indústrias que não querem cumprir e que ainda não têm uma consciência de que têm que tratar convenientemente as suas águas residuais” serão punidas, adiantou Hugo Xambre Pereira. Esta punição será realizada em parceria com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e o IGAMAOT (Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território). No entanto, frisou o responsável, existem cada vez mais empresas sensibilizadas para a questão.
1092 empresas na região de Lisboa já aderiram ao plano
“O Plano AgIR tem contribuído para uma maior consciência das indústrias”, prosseguiu, adiantando que, até ao momento, já aderiram a este plano 1092 empresas, instaladas em 12 concelhos da região de Lisboa. Esta iniciativa será implementada em quatro fases, sendo que já estão concluídas duas. A primeira fase contou com a implementação do projeto nos concelhos de Alenquer, Vila Franca de Xira, Óbidos, Cadaval, Rio Maior e Sobral de Monte Agraço. A ideia é expandir, até 2026, o projeto para os 23 concelhos da área de influência da AdTA. As respetivas autarquias também estão envolvidas no plano, uma vez que fazem a “gestão da rede [de saneamento] em baixa”.
“Neste momento, temos um grau de cumprimento nas nossas licenças de descarga a rondar os 99%. Queremos chegar aos 100%”, afiança Hugo Xambre Pereira. “É esta vontade que nos permite ter, cada vez mais, que as nossas descargas fiquem em melhores estados. À conta disso, temos hoje golfinhos no Tejo ou mais praias com Bandeira Azul”. Igualmente, acrescentou, este plano é ainda fundamental para “dar o valor devido à água”. “Até há bem pouco tempo, há 10 ou 15 anos atrás, era comum para uma indústria fazer uma descarga sem nenhum problema”.
“Não havia uma consciência ambiental e hoje em dia já não é assim, têm havido uma mudança de consciência”, rematou o responsável. No discurso de abertura da entrega dos prémios, Hugo Xambre Pereira reforçou ainda que “as Fábricas da Água estão a funcionar 24 horas por dia, para tratar dos efluentes”.
Trabalho conjunto com as autarquias
Graças ao trabalho conjunto com as autarquias, prosseguiu, foi possível dar “um salto, nos últimos 30 anos”. “Queremos trabalhar em várias formas e vertentes”, acrescentou ainda, esperando que, no próximo ano, sejam distinguidas mais empresas. Por sua vez, Catarina Pécurto, coordenadora do Plano AgIR, adiantou alguns dados do projeto, que arrancou “há um ano e meio”. A AdTA tem uma equipa afeta ao desenvolvimento deste plano. Este projeto começa por estabelecer um contacto com as indústrias, no sentido de as sensibilizar para o correto tratamento das águas residuais.
Ao Olhares de Lisboa, explicou que “temos feito um trabalho extraordinário ao nível da caracterização dos efluentes de cada indústria”. “Identificamos quais são os seus problemas e resolvemos esses problemas”, acrescentou, destacando a parceria entre a AdTA, os munícipios e as empresas. “Isto é um trabalho destas três entidades unidas e tem tudo para correr bem. Já se trabalhou de uma outra forma, fiscalizando”, lembrou Catarina Pécurto. Contudo, adianta, desta forma “não funciona”. “É desta perspetiva da parceria e do trabalho conjunto, que conseguimos a aceitação por parte das indústrias”.
Algumas soluções propostas às empresas pela AdTA passam por “medidas de fácil implementação”. Desta forma, é incentivado o reaproveitamento de subprodutos, “a alteração de rotinas de produção” ou a “verificação da dosagem de certos produtos”. Até ao momento, já foram visitadas 112 indústrias, e do universo de 1092 empresas aderentes ao plano, 188 “são prioritárias”.
Medidas mais sustentáveis
“Estas empresas investiram em medidas que melhoraram muito a qualidade dos seus efluentes. Ao investirem, fazerem e otimizarem os tratamentos, conseguiram uma qualidade de efluentes muito melhor, com resultados que vão para as nossas infraestruturas também”, acrescentou ainda a coordenadora do Plano AgIR. Após a assinatura dos protocolos, procedeu-se à entrega dos cinco selos de qualidade do Plano AgIR. As empresas distinguidas foram a Jerónimo Valente (Alenquer), a Quinta do Gradil (Cadaval), a Caetano Coatings (Alenquer), a Campotec (Torres Vedras) e Braz e Irmão (Alenquer).
Segundo Sandra Chambel, administradora executiva da AdTA, esta distinção pretende “destacar as indústrias e o seu esforço” na melhoria da qualidade da água. “Salvar a água é proteger a vida”, referiu ainda. Já Marco Rebelo, diretor do Fundo Ambiental e Secretário-Geral do Ministério do Ambiente e Ação Climática, acrescentou que este plano é “parte da solução para um problema que já existe há décadas, e garante a segurança das descargas e dos efluentes”.
Preservar a água é fundamental
“Com a vontade de todos, é possível encontrar soluções que fazem a diferença”, prosseguiu, reforçando que, desta forma, “é possível ter operações mais eficientes, com menos resíduos e, consequentemente, menos custos para as empresas e o ambiente”. Por fim, esta cerimónia contou ainda com a presença de Carlos Castro, da APA. O responsável pela Divisão do Oeste, Lezíria e Médio Tejo, lembrou a importância da água, “um recurso finito”. Por isso, reforçou, é fundamental a reutilização deste recurso.
“Se as águas chegam em mau estado, não podem ser tratadas”, acrescentou. Também Rita Lourinho, responsável de Inovação e Desenvolvimento da Águas do Tejo Atlântico, salientou a importância de otimizar o consumo de água. Aqui, apresentou alguns projetos realizados pela AdTA neste sentido.