Foi inaugurado, esta segunda-feira, o Passeio Eunice Muñoz, no Braço de Prata, na freguesia de Marvila. A atriz, falecida em 2022, foi uma das maiores referências do teatro, da televisão e do cinema nacional. A cerimónia contou com a presença de várias figuras ligadas ao teatro nacional, bem como do presidente da CML, Carlos Moedas, que disse ser “um grande gosto” estar nesta inauguração
Lisboa recebe passeio pedonal com o nome de Eunice Muñoz. O troço fica entre o Braço de Prata, em Marvila, e o Parque das Nações. É uma homenagem à atriz que morreu em abril de 2022. A inauguração estava prevista para o Dia Mundial do Teatro, 27 de março, mas foi adiada devido ao mau tempo.
O passeio pedonal na zona oriental da capital, em homenagem à atriz Eunice Muñoz, foi finalmente apresentado ao público nesta segunda-feira, num evento com a presença do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas.
O topónimo prolonga-se entre o Braço de Prata, na freguesia de Marvila, e o Parque das Nações, em Lisboa. Fica localizado ao lado de um conjunto de edifícios num percurso que se faz sempre junto ao rio.
Foi em fevereiro que a Câmara Municipal de Lisboa anunciou que iria atribuir nomes de locais da cidade não só à atriz, mas também à fadista Teresa Tarouca e à bailarina, atriz e coreógrafa Águeda Sena. A Rua Teresa Tarouca, que reconhece a fadista considerada menina-prodígio, será atribuída à Rua E1 ao Braço de Prata. Já a Rua Águeda Sena ficará na antiga Rua G1 ao Braço de Prata.
Além destas três novidades, outra proposta aprovada pela Câmara foi a deslocalização do Largo Luiz Francisco Rebello. Vai deixar de se encontrar no Impasse à Rua Garrett, na freguesia de Santa Maria Maior e passará para o Lumiar, entre os lotes 1 e 2 da malha 6 do PUAL (Plano de Urbanização da Alta de Lisboa).
Esta iniciativa é uma forma de homenagear “uma das referências maiores do teatro, da televisão e do cinema nacionais, unanimemente reconhecida como um dos grandes vultos da cultura portuguesa do século XX”, referiu a autarquia.
Natural da Amareleja, no Alentejo, Eunice Muñoz nasceu a 30 de julho de 1928 e estreou-se no palco do D. Maria II quando tinha apenas 13 anos. Morreu aos 93 anos a 15 de abril de 2022, em Carnaxide, deixando um forte legado no mundo da representação em Portugal.
Carlos Moedas salientou que “falar da Eunice é falar da mulher, da grande atriz que foi, do timbre de voz, daquele olhar absolutamente mágico que o meu pai adorava e que me transmitiu tão cedo”, prosseguiu Moedas, recordando quando foi a “uma cerimónia de entrega de prémios em Évora” e onde encontrou a atriz e o seu filho, António. “No fim, a Eunice não tinha boleia para Lisboa. O carro era muito pequeno, mas lá viemos todos, ali no carro, bem apertados”.
Inspiração para muitas gerações de atores
“Eu vim com a minha mulher e a Eunice no carro e nunca vou esquecer a Eunice a contar-me a sua juventude e a fazer-me sentir que eu era igual a ela. Ela era uma pessoa simples que nos fazia sentir iguais, quando ela era tão grande”, prosseguiu Carlos Moedas.
Para o autarca, a atriz foi “a inspiradora de toda uma geração de atores e de atrizes”. Por isso, esta homenagem pretende “celebrar a simplicidade, a mulher, a atriz, mas, sobretudo aquilo que deixámos de fazer na nossa sociedade e o que deixámos de fazer, muitas vezes, em relação à cultura”.
Este passeio pretende “deixar aqui uma marca, para que, daqui a 100 anos, aqueles que estiverem por aqui a passear, estejam neste passeio Eunice Muñoz”. O presidente da CML aproveitou ainda o seu discurso para recordar as dificuldades sentidas por aqueles vivem e trabalham no setor da cultura. “É tão difícil hoje ser ator, ser atriz. Eu estou sempre do vosso lado”, garantiu.
Topónimo no Parque Ribeirinho Oriente
Nesta inauguração, esteve também o presidente da Junta de Marvila, José António Videira, que recordou que “a Eunice Muñoz significa algo muito importante para nós, que eu descreveria como uma mulher, uma mãe, e é significativo que esta homenagem ocorra no dia subsequente àquele em que nós fazemos homenagem às nossas mães”.
José Videira lembrou “a enorme generosidade, a grande humildade, a simpatia” e a versatilidade da malograda atriz, falecida em 2022. “Guardo nela a inspiração de três obras completamente diferentes”, lembrou José António Videira, salientando que a primeira, é o “filme Camões”. Já a segunda obra, recordou o presidente, “é uma obra televisiva que é o Arroz Doce, onde ela fazia, com a sua grande versatilidade, o papel de uma porteira muito simpática, muito humilde, muito dedicada, muito serviçal, mas muito inteligente, muito esperta, e quase que homenageava as suas raízes alentejanas”. Por fim, a “última obra é aquilo que ela também nos ensinou, que foi o seu papel exemplar a representar, no Teatro Nacional Dona Maria II, a Mãe Coragem. Um papel fundamental, mas que nos envolve naquilo que é a esperança, a determinação, o empenho e aquilo que ela nos inspirou e a pessoa extraordinária que é”.
Perpetuar memória da atriz
O filho da atriz, António Muñoz Borges, disse que a mãe iria gostar de ver este novo parque em sua homenagem, porque, “para ela, estar junto ao mar era absolutamente fundamental”. “Sentimo-nos muito honrados por esta homenagem e por a recordarem como nós a recordamos”, disse o filho da artista, manifestando o desejo de que, quem visitar este passeio, possa “olhar para aquela placa e ver o seu nome, e, em alguns casos perguntar quem era a Eunice Muñoz”. “Para nós era a nossa extraordinária mãe, também uma extraordinária atriz, que manipulava as nossas emoções e os nossos sentimentos”, concluíu António Muñoz Borges.
O momento contou ainda com a interpretação de um excerto da obra ‘A Criada Zerlina‘, de Hermann Broch, e realizada pela atriz Luisa Cruz, acompanhada pelo violoncelista Pedro Serra e Silva. Em Portugal, a interpretação desta obra ficou a cargo de Eunice Muñoz, em 1988, numa encenação de João Perri. Trinta anos depois, em 2019, e dirigida pelo cineasta João Botelho, foi Luisa Cruz que recriou a Criada Zerlina, num desempenho que lhe valeu um Globo de Ouro. O Passeio Eunice Muñoz fica localizado no Parque Ribeirinho Oriente, inaugurado em 2020. Este espaço fica perto dos armazéns da Doca do Poço do Bispo e estende-se para norte ao longo de 600 metros de frente de rio, ocupando perto de quatro hectares.
NR: Artigo atualizado pelas 18.20 horas