O prémio Gonçalo Ribeiro Telles para o Ambiente e Paisagem 2023 foi atribuído ao advogado Augusto Ferreira Amaral, a 24 de maio, nos Paços do Concelho. Augusto Ferreira Amaral trabalhou sempre muito próximo de Gonçalo Ribeiro de Telles ao longo da sua carreira, não só a nível de acompanhamento jurídico, mas também na defesa e ordenamento do território e da paisagem.
O arquiteto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles passou uma longa vida a lutar pelos valores ecológicos em Portugal, quase sempre contra tudo e contra todos. Sem ele, o País seria muito pior, salientaram os diferentes oradores que participaram na entrega do Prémio Gonçalo Ribeiro Telles para o ambiente e que foi entregue, este ano, a um seu grande “compagnon de route”: o advogado Augusto Ferreira do Amaral.
Augusto Ferreira do Amaral acompanhou de perto a vida política de Gonçalo Ribeiro Telles, tendo dado um contributo inestimável para que as políticas por ele defendidas para as cidades e para o mundo rural pudessem ser suportadas por uma base jurídica que soubesse compreender o alcance e os objetivos do seu ideário, materializado em instrumentos de ordenamento, que salvaguardassem a sustentabilidade ecológica, social, económica e afetiva, essenciais ao planeamento, regulamentação e gestão do território e da paisagem em Portugal. Como faz questão de salientar Miguel Ribeiro Telles, filho de Gonçalo Ribeiro Telles.
Aliás, a atribuição deste prémio a Ferreira de Amaral é para Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, “homenagear alguém que conheceu profundamente Gonçalo Ribeiro de Telles, que foi seu companheiro de convicções, companheiro incontornável em todo o percurso.”
Na cerimónia de entrega da distinção, Augusto Ferreira Amaral destacou a oportunidade de poder celebrar, “como amigo e companheiro de Gonçalo Ribeiro Telles, alguns aspetos da memória que guardo do seu pensamento, da sua atitude e ação, em prol do ambiente e paisagem.”
Premio da área do ambiente e paisagem
O prémio Gonçalo Ribeiro Telles pretende premiar personalidades que se tenham destacado nas áreas do ambiente e da paisagem e com percursos de vida ligados ao serviço cívico. Uma iniciativa da família Ribeiro Telles, do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa, da Ordem dos Engenheiros, da Causa Real, da Universidade de Évora, da Associação Portuguesa dos Arquitetos Paisagistas e da Câmara Municipal de Lisboa.
Desde sempre incómodo para o sistema, já foi considerado um monárquico lunático. No entanto, sempre que teve os destinos ambientais do país nas mãos, saiu em defesa da paisagem, da criação de corredores verdes nas cidades, protegeu o coberto vegetal e as Reservas Agrícola e Ecológica Nacionais, referiram os diferentes oradores na cerimónia de entrega do prémio para o Ambiente Ribeiro Telles.
Todos foram unânimes em citar o patrono do prémio ao recordarem um pensamento de Ribeiro Telles: “A humanidade está numa encruzilhada, mas Portugal ainda é capaz de recuperar. Para isso, o país tem de voltar a ter referências, tem de conhecer a nossa Paisagem, as nossas raízes e as nossas emoções”. Para Gonçalo Ribeiro Telles “todos estamos numa marcha”. Porém, “enquanto caminhamos temos de refletir e ser inquietos na marcha”.
Criador das zonas protegidas
João Cerejeiro, presidente da Associação de Arquiteto Paisagistas, fez questão de recordar o legado único de Gonçalo Ribeiro Telles, que vai além dos projetos locais e abrange o nascimento de uma nova estratégia de ordenamento do território e do urbanismo, abrangente e com uma perspetiva ecológica, com impacto em todo o país.
Provas disso são a criação das zonas protegidas da Reserva Agrícola Nacional, da Reserva Ecológica Nacional e das bases do Plano Diretor Municipal. Além disso, esteve também ligado à redação das propostas da Lei de Bases do Ambiente, da Lei da Regionalização, da Lei Condicionante da Plantação de Eucaliptos, da Lei dos Baldios, da Lei da Caça, e da Lei do Impacte Ambiental.
O trabalho em Lisboa
O trabalho na Câmara Municipal de Lisboa foi realçado pelo presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, que recordou o trajeto de Gonçalo Ribeiro Telles na edilidade lisboeta passou pela Repartição de Arborização e Jardinagem entre 1951 e 1953. Já em 1955 assumiu o cargo de arquiteto paisagista no Gabinete de Estudos de Urbanização, dirigido pelo engenheiro Guimarães Lobato, onde permaneceu até 1960.
Como salientou Carlos Moedas, a colaboração com a CML resultou também num vasto leque de projetos concebidos entre 1998 e 2002, entre os quais se destacam as seguintes estruturas verdes principal e secundária da Área Metropolitana de Lisboa: o Vale de Alcântara e a Radial de Benfica; o Parque Periférico; o Corredor Verde de Monsanto e a Integração na Estrutura Verde Principal de Lisboa da Zona Ribeirinha Oriental e Ocidental.
Desta colaboração há ainda a referir projetos como o espaço público do Bairro das Estacas, em Alvalade, a cobertura vegetal da colina do Castelo de São Jorge, o Jardim Amália Rodrigues ou os jardins da Capela de São Jerónimo.
Jardim da Gulbenkian
Além disso, foi o estratega do Plano Verde de Lisboa que procura reinventar a cidade, inserindo-lhe conceitos ambientais, que conjugam, entre outros fatores, a proteção da natureza, a mobilidade das populações, a proteção do património e a criação de espaços verdes que tragam bem-estar às populações.
Contudo, como fez questão de salientar o representante da família Ribeiro Telles, o seu filho Miguel, o seu projeto mais emblemático será, porventura, o jardim da Fundação Calouste Gulbenkian, que projetou em colaboração com o arquiteto paisagista António Viana Barreto e que lhes granjeou o Prémio Valmor em 1975.
A ministra do Ambiente e da Energia, Maria da Graça Carvalho, relembrou que foi Gonçalo Ribeiro Telles que lançou a proteção legal aos parques naturais, que implementou o conceito dos jardins urbanos, assumidamente um defensor da conciliação entre o espaço rural e o citadino.
“Respeitado humana, profissional e politicamente por amigos, colegas e adversários, e pelos portugueses em geral, Gonçalo Ribeiro Telles deixou um legado alcançado por poucos”, defendeu a ministra.
Consciência ecologista
“Como ambientalista com responsabilidades públicas, representou desde cedo, e durante décadas, uma consciência crítica esclarecida, contribuindo igualmente para importantes atos legislativos como a Lei De Bases do Ambiente ou a Lei do Impacto Ambiental, combates que prolongou na fundação de um partido ambientalista, o Movimento Partido da Terra”, lembrou a ministra do Ambiente.
Ambientalista quando poucos se perfilavam nesse campo, Gonçalo Ribeiro Telles, decano dos arquitetos paisagistas portugueses, como fez questão de referir o presidente da Associação dos Arquitetos Paisagistas, desenhou, entre 1998 e 2002, um conjunto de projetos que define as estruturas verdes principais e secundárias da área metropolitana de Lisboa – o Vale de Alcântara e a Radial de Benfica, o Vale de Chelas, o Parque Periférico, o Corredor Verde de Monsanto e a Integração na Estrutura Verde Principal de Lisboa da Zona Ribeirinha Oriental e Ocidental.
Intervenção cívica
Gonçalo Ribeiro Telles teve igualmente um longo percurso de intervenção cívica e política. Católico e monárquico, foi fundador e presidente da Juventude Agrária e Rural Católica (JAC). Em 1957 funda o Movimento dos Monárquicos Independentes (MMI), com Francisco Sousa Tavares. A este seguir-se-ia o Movimento dos Monárquicos Populares, também com um claro posicionamento de oposição ao regime.
Em 1958 manifestou o seu apoio à candidatura presidencial de Humberto Delgado e, um ano depois, integrou a Comissão Eleitoral Monárquica (CEM) que se vem a juntar às listas da Ação Socialista Portuguesa de Mário Soares na coligação Comissão Eleitoral de Unidade Democrática (CEUD), que se apresenta às eleições para a Assembleia Nacional de 26 de outubro de 1969, não conseguindo eleger qualquer deputado. Em 71 ajuda a fundar o Movimento Convergência Monárquica.
Funções governativas
Após o 25 de abril Gonçalo Ribeiro Telles funda o Partido popular Monárquico (PPM) que, em 1979, integra a Aliança Democrática com o PSD de Francisco Sá-Carneiro e o CDS de Freitas do Amaral. Um ano depois é eleito deputado à Assembleia da República e, em 1983/85 ocupa o cargo de ministro do Estado e da Qualidade de Vida, no VIII Governo Constitucional.
O arquiteto paisagista passou também por vários executivos. Foi subsecretário de Estado do Ambiente nos I, II e III Governos provisórios, assim como no I Governo Constitucional, liderado por Mário Soares. Foi depois ministro de Estado e da Qualidade de Vida no executivo liderado por Francisco Pinto Balsemão, entre 1981 e 1983.
Em 1984 deixa o Governo e, já afastado do PPM, funda o Movimento Alfacinha, pelo qual se candidata à Câmara de Lisboa, sendo eleito vereador. Um ano depois é novamente eleito deputado à Assembleia da República, agora como independente nas listas do PS.
Em 1993 funda o Movimento Partido da Terra (MPT), a que preside de forma honorária desde 2007. Em 2013 Gonçalo Ribeiro Telles recebeu o prémio Sir Geoffrey Jellicoe, considerado o Nobel da arquitetura paisagista. Em Portugal foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo e com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.